Sobre as questões levantadas
Icaza tem razão quando afirma que a fragmentação da comunidade e de suas soluções dificultou a adoção do Linux de um modo mais amplo. Ao longo dos anos, talvez, poderiam ter sido adotados padrões comuns às várias distribuições para deixá-las mais próximas e permitir uma maior compatibilidade entre elas.
O Unity, interface gráfica padrão do Ubuntu, foi adotado devido a “diferenças filosóficas” entre aCanonical e o projeto GNOME |
Não que estes padrões não existam e que não sejam adotados em parte, porque na realidade há um esforço nesse sentido por parte da Linux Foundation. A questão é que muitas vezes a liberdade de desenvolvimento (ou a vaidade dos desenvolvedores) fala mais alto. A prova disto é que nem mesmo quanto ao sistema de empacotamento há um consenso.
Por outro lado, essa divisão talvez seja inevitável por conta da própria natureza humana e porque a sobrevivência da comunidade depende dessa liberdade de escolhas, uma vez que um modelo mais limitante de seu comportamento poderia ensejar o seu fim. E o resultado desse processo, que ao mesmo tempo é a beleza e a fraqueza do Linux, chama-se diversidade.
Agora, quanto ao OSX, é preciso dizer que o seu desenvolvimento se deu em alguma medida pelo uso de soluções de software livre e uso de código aberto com licença BSD que foram incorporados pela Apple no código proprietário de seu sistema. Então, ironicamente pode-se afirmar que algum sucesso do software livre se realizou ali no sistema da maçã.
Já quanto à afirmação de que o sucesso do sistema da maçã tem atraído os desenvolvedores desoftware livre, pode ser verdade, mas é meio difícil engolir que isto esteja acontecendo numa proporção que venha a inviabilizar o futuro do pinguim.
Por último, mas não menos importante, existe um fator que talvez escape à visão do desenvolvedor, que se culpa pela adoção limitada dos sistemas livres para desktop. É o marketing:uma ferramenta da administração que inclui não somente publicidade e propaganda de produtos e serviços, mas que também abrange outros elementos importantes, como a distribuição no mercado.
Assim, a questão estaria longe de poder ser resolvida meramente sob o aspecto técnico e da alçada dos desenvolvedores, visto que atualmente é muito mais um problema mercadológico.
Steve Jobs e o departamento de marketing da Apple fizeram muito pela marca e seus produtos |
Quanto à publicidade e propaganda, o dinheiro manda. Campanhas publicitárias custam caro e, por conta disso, ainda hoje muito pouco se faz na divulgação do software livre em geral. Quando algo sobre o assunto cai na grande mídia, frequentemente isto acontece devido a uma declaração polêmica de seus desenvolvedores (Richard Stallman e Linus Torvalds que o digam). Assim, em boa parte, a divulgação do software livre conta com o boca a boca mesmo, ainda que na forma informatizada.
Mas o grande problema reside mesmo na distribuição. Por mais simples que seja atualmente instalar um sistema operacional, arrisco dizer que a maioria das pessoas não está disposta a fazê-lo, ainda mais em se tratando de um sistema diferente daquele que veio instalado na sua máquina, pelos riscos óbvios inerentes dessa atividade. Assim, esse modelo de distribuição via CD, DVD, USB, imagem da Internet, etc, tem uma eficácia muito limitada, atingindo somente usuários mais avançados e/ou mais ousados.
A grande chave para a ampliação do mercado Linux é, portanto, a sua distribuição pré-instalada em computadores. A Apple, por exemplo, não tem problemas quanto a isso, já que fabrica seu própriohardware. Desta forma, não resta outra alternativa às distribuições senão negociar com os fabricantes das outras marcas de hardware que, praticamente todas elas, têm contratos de distribuição e instalação de cifras vultuosas com a Microsoft.
System 76: uma das poucas (ou a única?) empresas a vender computadores apenas com Ubuntu |
Tenho certeza de que, tecnicamente falando, várias distribuições estão maduras o suficiente para serem oferecidas dessa maneira aos consumidores, mas quantas têm estrutura para se contrapor à Microsoft nesse campo de batalha que é inteiro dela e conseguir um espaço para oferecer seus sistemas pré-instalados?
Só para ilustrar o tamanho da dificuldade, cito o exemplo da Canonical, que há vários anos tem trabalhado junto à marca Dell para que esta ofereça computadores com o Ubuntu pré-instalado. Tudo que existe hoje lá no site de vendas daquela marca (inclusive no site brasileiro) é uma oferta bastante limitada de produtos com o sistema operacional laranja, chegando a ser difícil encontrá-los se você não estiver procurando especificamente por eles.
Dureza, hein? |
Como se isso não bastasse, no topo de todas as páginas do site de vendas daquela marca consta a frase “A Dell recomenda o Windows 7″. Dureza, não?
Mas afinal, qual é a do Miguel?
Como bem salientado por Torvalds naquela sua resposta no Google+, Miguel estaria atribuindo a todo o mundo Linux o que estaria acontecendo especificamente com o Gnome. Com efeito, há um rumor se propagando nas discussões pela internet de que o projeto Gnome estaria perdendo desenvolvedores. Apesar de Miguel já não fazer parte desse projeto há alguns anos, este é o círculo ao qual ele pertence, e a sua visão de mundo parte dali.
É um tanto triste, me parece, ver um desenvolvedor que dedicou tantos anos de trabalho aosoftware livre desiludir-se desta forma e jogar a toalha. Em seu post ele demonstra estar cansado, dizendo que não aguenta mais perder tempo para fazer funcionar o áudio de seu computador Linux.
Por mais ridículo que pareça ouvir isso de uma pessoa que poderia evitar esse problema de várias maneiras, ainda mais sendo um desenvolvedor, só lamento. Espero que ele seja muito feliz com seu iPhone e que se realize no mundo branquinho da maçã e que, assim, pare de dar opinião sobre o mundo com base no que acontece no seu umbigo.
E vocês, o que acharam sobre as declarações de Miguel de Icaza? Também acham que o desktopLinux está morto ou, realmente, ele disse isso usando seu umbigo como base de argumentação? Deixem seus comentários abaixo, por favor!
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