A sentença que condena o ex-presidente Lula a 9 anos e meio de prisão é uma peça tão absurda que faz a gente refletir sobre como algumas pessoas atingem posições de relevância na sociedade.
São os nossos "doutores".
O Brasil deve ser o país com mais "doutores" em todo o planeta.
Em toda rua de toda cidade há um "doutor" em alguma função: fisioterapia, odontologia, direito, medicina, ciências sociais...
É tanta sabedoria que chega a dar vergonha a nós, cidadãos ordinários, que escolhemos profissões tão abjetas que nunca, mas nunca mesmo, nos darão a possibilidade de sermos tratados como "doutores".
E os nossos "doutores" são cada vez mais jovens.
O doutor Dallagnol, chefe dos procuradores lava-jatos, por exemplo, tem cara de bebê.
Mesmo o doutor Moro, o juiz implacável que atribuiu para si a responsabilidade de mandar para a cadeia todos os corruptos do país, parece um daqueles meninões de praia que poderiam figurar em novelas de televisão.
Nada contra o fato de eles serem jovens, mas é que certas funções exigem um tanto de experiência de vida que não se encontra nos livros - ou nas apostilas de concurso público.
Fora a juventude, esses nossos "doutores" têm um traço em comum: a sua sapiência tem a profundidade de uma página de jornal, a leveza de uma bolha de sabão.
É uma sabedoria que só engana trouxas, ou seja, a grande massa idiotizada pelos meios de comunicação, pelos "pastores" evangélicos, pelas correntes de whatsapp, pelas postagens das redes sociais.
Qualquer doutor de verdade, ou mesmo uma pessoa medianamente educada e informada, é capaz de reduzir a pó, em minutos, o pernosticismo desses "doutores" de araque.
Só um país onde a educação é tão desleixada e o patrimonialismo tão arraigado é capaz de formar tantos "doutores" como essas estrelas dos nossos jornalões.
Chega a ser inacreditável que alguém como o juiz da tal operação Lava jato seja celebrado do modo que foi nestes últimos anos não só pelos meios de comunicação, que têm claros objetivos ideológicos, mas também por membros da comunidade jurídica.
Um fato como esse me faz lembrar de meu tipo inesquecível, o saudoso sociólogo Antonio Geraldo de Campos Coelho, com quem tive a oportunidade de passar deliciosos momentos na Jundiaí de minha juventude.
Pois bem, o Coelho não admitia ser chamado de "professor".
Ele se sentia profundamente ofendido se alguém o tratasse por esse título.
E tinha uma explicação perfeitamente lógica para isso:
- Todo mundo é professor, é uma avacalhação. Tem o professor de capoeira, o professor de ioga, o professor de bordado...
Isso foi há 40 anos.
Hoje ninguém mais quer ser chamado de professor nesta terra de doutores. (Carlos Motta)
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