O paulista Henrique Felipe da Costa, que ficou conhecido pelo apelido de Henricão, compôs dezenas de canções, mas é até hoje lembrado por duas delas, "Está Chegando a Hora", versão da mexicana "Cielito Lindo", e "Só Vendo que Beleza", mais conhecida por "Marambaia", em parceria com Rubens Campos.
Essa última, lançada por Carmen Costa, ganhou inúmeras regravações dos mais importantes artistas populares brasileiros. Fala sobre um local idílico, onde um casal vive uma vida de sonhos, embora frugal:
Eu tenho uma casinha lá na Marambaia
Fica na beira da praia, só vendo que beleza.
Tem uma trepadeira que na primavera
Fica toda florescida de brincos de princesa
Quando chega o verão eu sento na varanda,
Pego o meu violão e começo a tocar.
E o meu moreno que está sempre bem disposto
Senta ao meu lado e começa a cantar
Quando chega a tarde um bando de andorinhas
Voa em revoada fazendo verão
E lá na mata um sabiá gorjeia
Linda melodia pra alegrar meu coração
Às seis horas o sino da capela
Toca as badaladas da Ave Maria
A lua nasce por de trás da serra
Anunciando que acabou o dia.
Eu tenho uma casinha lá na Marambaia...
O sucesso de "Só Vendo Que Beleza" foi tanto que a Henricão e Rubens compuseram uma continuação, que foi praticamente ignorada.
Pudera, "Casinha da Marambaia" expõe a tragédia da separação do feliz casal retratado na primeira canção. A linda morada desmoronou, a trepadeira brinco-de-princesa secou, o sabiá foi embora, só restaram destroços do amor que existia entre os dois:
Nossa casinha lá da Marambaia
A mais bonita da praia se desmoronou
A trepadeira brinco-de-princesa
Ficou triste, amarela e depois secou
E a varanda vive em abandono
É um destroço sem dono numa solidão
Até você que parecia ser sincera
Sem motivo abandonou meu pobre coração
O sabiá também mudou seu ninho
Eu já não ouço mais sua canção
As andorinhas foram em revoadas
Quebraram-se as cordas do meu violão
E há quem diga que isso é desumano
Que eu não mereço tanta ingratidão
Quero que volte como antigamente
Para dar sossego ao meu coração
As duas músicas foram lançadas há mais de 70 anos, quase um século.
De certa forma, retratam o que houve no Brasil, que durante uma década foi como a casinha na Marambaia em seu esplendor, mas que depois acabou destroçada pela ação de forças deletérias.
Henricão morreu em 1984, ano em que o movimento pelas eleições diretas entusiasmava o Brasil, que já havia se cansado da ditadura militar.
Carlos Motta