Carlos Motta
Os vereadores da cidade paulista de Jundiaí, mais de 400 mil habitantes, IDH de 8,22 (muito elevado), PIB de mais de R$ 36 bilhões, localizada a apenas 60 quilômetros da capital, acabam de aprovar um projeto de lei do Executivo que torna crimes as atividades de pedintes e artistas de rua em semáforos.
Já os comerciantes do Centro vêm pedindo às autoridades providências para afastar os mendigos e sem-teto que, de uns tempos para cá, resolveram habitar a região, prejudicando os negócios da gente de bem.
Pelos comentários nas redes sociais, muitos moradores de Jundiaí apoiam a decisão dos vereadores que, como o prefeito, acham que a pobreza é crime.
Quanto aos artistas, eles fazem o que podem para se expressar e sobreviver.
Alguns são mestres nos malabares, mesmo nos locais mais improváveis, como as ruas, onde exibem o frágil equilíbrio de suas vidas; outros, por meio de música e poesia, retratam a triste realidade que veem.
Como Chico Buarque e Francis Hime em "Pivete":
No sinal fechado
Ele vende chiclete
Capricha na flanela
E se chama Pelé
Pinta na janela
Batalha algum trocado
Aponta um canivete
E até
Dobra a Carioca, olerê
Desce a Frei Caneca, olará
Se manda pra Tijuca
Sobe o Borel
Ele vende chiclete
Capricha na flanela
E se chama Pelé
Pinta na janela
Batalha algum trocado
Aponta um canivete
E até
Dobra a Carioca, olerê
Desce a Frei Caneca, olará
Se manda pra Tijuca
Sobe o Borel
Meio se maloca
Agita numa boca
Descola uma mutuca
E um papel
Sonha aquela mina, olerê
Prancha, parafina, olará
Dorme gente fina
Acorda pinel
Zanza na sarjeta
Fatura uma besteira
E tem as pernas tortas
E se chama Mané
Arromba uma porta
Faz ligação direta
Engata uma primeira
E até
Dobra a Carioca, olerê
Desce a Frei Caneca, olará
Se manda pra Tijuca
Na contramão
Dança para-lama
Já era para-choque
Agora ele se chama
Emersão
Sobe no passeio, olerê
Pega no Recreio, olará
Não se liga em freio
Nem direção
No sinal fechado
Ele transa chiclete
E se chama pivete
E pinta na janela
Capricha na flanela
Descola uma bereta
Batalha na sarjeta
E tem as pernas tortas
Agita numa boca
Descola uma mutuca
E um papel
Sonha aquela mina, olerê
Prancha, parafina, olará
Dorme gente fina
Acorda pinel
Zanza na sarjeta
Fatura uma besteira
E tem as pernas tortas
E se chama Mané
Arromba uma porta
Faz ligação direta
Engata uma primeira
E até
Dobra a Carioca, olerê
Desce a Frei Caneca, olará
Se manda pra Tijuca
Na contramão
Dança para-lama
Já era para-choque
Agora ele se chama
Emersão
Sobe no passeio, olerê
Pega no Recreio, olará
Não se liga em freio
Nem direção
No sinal fechado
Ele transa chiclete
E se chama pivete
E pinta na janela
Capricha na flanela
Descola uma bereta
Batalha na sarjeta
E tem as pernas tortas
Ou Théo de Barros, com seu "Menino das Laranjas" ( na voz de Elis Regina):
Menino que vai pra feira
Vender sua laranja até se acabar
Filho de mãe solteira
cuja ignorância tem que sustentar
É madrugada vai sentindo frio
Porque se o cesto não voltar vazio
A mãe já arranja um outro pra laranja
E esse filho vai ter que apanhar
Vender sua laranja até se acabar
Filho de mãe solteira
cuja ignorância tem que sustentar
É madrugada vai sentindo frio
Porque se o cesto não voltar vazio
A mãe já arranja um outro pra laranja
E esse filho vai ter que apanhar
Compre laranja
Menino que vai pra feira
É madrugada vai sentindo frio
Porque se o cesto não voltar vazio
A mãe arranja outro pra laranja
E esse filho vai ter que apanhar
Compra laranja, laranja, laranja doutô
ainda dou uma de quebra pro senhor
Lá no morro
A gente acorda cedo e é só trabalhar
Comida é pouca e muita roupa
Que a cidade manda pra lavar
De madrugada
Ele menino acorda cedo, tentando encontrar
Um pouco pra poder viver
Até crescer
E a vida melhorar
Compra laranja, doutô
Ainda dou uma de quebra pro senhor
Compra laranja, doutô
Ainda dou uma de quebra pro senhor
Menino que vai pra feira
É madrugada vai sentindo frio
Porque se o cesto não voltar vazio
A mãe arranja outro pra laranja
E esse filho vai ter que apanhar
Compra laranja, laranja, laranja doutô
ainda dou uma de quebra pro senhor
Lá no morro
A gente acorda cedo e é só trabalhar
Comida é pouca e muita roupa
Que a cidade manda pra lavar
De madrugada
Ele menino acorda cedo, tentando encontrar
Um pouco pra poder viver
Até crescer
E a vida melhorar
Compra laranja, doutô
Ainda dou uma de quebra pro senhor
Compra laranja, doutô
Ainda dou uma de quebra pro senhor
Emprego, que é bom, nada. E assim o Brasil se afasta, celeremente, da civilização.