Ir para o conteúdo

News

Voltar a Cultura
Tela cheia Sugerir um artigo

A cidade onde a pobreza é crime

7 de Março de 2018, 10:14 , por segundo clichê - | No one following this article yet.
Visualizado 192 vezes
 
Carlos Motta
 
Os vereadores da cidade paulista de Jundiaí, mais de 400 mil habitantes, IDH de 8,22 (muito elevado), PIB de mais de R$ 36 bilhões, localizada a apenas 60 quilômetros da capital, acabam de aprovar um projeto de lei do Executivo que torna crimes as atividades de pedintes e artistas de rua em semáforos.
 
Já os comerciantes do Centro vêm pedindo às autoridades providências para afastar os mendigos e sem-teto que, de uns tempos para cá, resolveram habitar a região, prejudicando os negócios da gente de bem.
 
Pelos comentários nas redes sociais, muitos moradores de Jundiaí apoiam a decisão dos vereadores que, como o prefeito, acham que a pobreza é crime.
 
Quanto aos artistas, eles fazem o que podem para se expressar e sobreviver.
 
Alguns são mestres nos malabares, mesmo nos locais mais improváveis, como as ruas, onde exibem o frágil equilíbrio de suas vidas; outros, por meio de música e poesia, retratam a triste realidade que veem.
 
Como Chico Buarque e Francis Hime em "Pivete":
 
 
No sinal fechado
Ele vende chiclete
Capricha na flanela
E se chama Pelé
Pinta na janela
Batalha algum trocado
Aponta um canivete
E até
Dobra a Carioca, olerê
Desce a Frei Caneca, olará
Se manda pra Tijuca
Sobe o Borel
Meio se maloca
Agita numa boca
Descola uma mutuca
E um papel
Sonha aquela mina, olerê
Prancha, parafina, olará
Dorme gente fina
Acorda pinel
Zanza na sarjeta
Fatura uma besteira
E tem as pernas tortas
E se chama Mané
Arromba uma porta
Faz ligação direta
Engata uma primeira
E até
Dobra a Carioca, olerê
Desce a Frei Caneca, olará
Se manda pra Tijuca
Na contramão
Dança para-lama
Já era para-choque
Agora ele se chama
Emersão
Sobe no passeio, olerê
Pega no Recreio, olará
Não se liga em freio
Nem direção
No sinal fechado
Ele transa chiclete
E se chama pivete
E pinta na janela
Capricha na flanela
Descola uma bereta
Batalha na sarjeta
E tem as pernas tortas
 
Ou Théo de Barros, com seu "Menino das Laranjas" ( na voz de Elis Regina):
 
 
Menino que vai pra feira
Vender sua laranja até se acabar
Filho de mãe solteira
cuja ignorância tem que sustentar
É madrugada vai sentindo frio
Porque se o cesto não voltar vazio
A mãe já arranja um outro pra laranja
E esse filho vai ter que apanhar
Compre laranja
Menino que vai pra feira
É madrugada vai sentindo frio
Porque se o cesto não voltar vazio
A mãe arranja outro pra laranja
E esse filho vai ter que apanhar
Compra laranja, laranja, laranja doutô
ainda dou uma de quebra pro senhor
Lá no morro
A gente acorda cedo e é só trabalhar
Comida é pouca e muita roupa
Que a cidade manda pra lavar
De madrugada
Ele menino acorda cedo, tentando encontrar
Um pouco pra poder viver
Até crescer
E a vida melhorar
Compra laranja, doutô
Ainda dou uma de quebra pro senhor
Compra laranja, doutô
Ainda dou uma de quebra pro senhor
 
Emprego, que é bom, nada. E assim o Brasil se afasta, celeremente, da civilização.

Fonte: http://segundocliche.blogspot.com/2018/03/a-cidade-onde-pobreza-e-crime.html

Notícias

News

Minha rede

Faça uma doação