Não há na música popular brasileira um compositor com uma obra de tanta marca social e política como Geraldo Vandré.
Legítimo representante da era dos festivais, é de sua autoria o hino de resistência à ditadura militar, a eterna canção "Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores", ou simplesmente "Caminhando", gravada por um sem número de intérpretes desde a sua primeira apresentação pública, no 3º Festival Internacional da Canção, em 1968 - a música, preferida pela massa que lotou o Maracanãzinho na final do certame, ficou em segundo lugar, atrás da bela "Sabiá", da dupla Tom Jobim-Chico Buarque.
Antes, em 1966, Vandré havia dividido, com Chico Buarque ("A Banda"), o primeiro prêmio do Festival de Música Popular da TV Record, com a também icônica "Disparada", parceria com Théo de Barros, interpretada por um emocionado Jair Rodrigues.
Naquele mesmo ano, Vandré faturou outro festival, o da TV Excelsior, para o qual havia inscrito a marcha-rancho "Porta-Estandarte", parceria com Fernando Lona, que foi defendida pela dupla Airto Moreira e Tuca.
A canção aborda a mesma temática das mais famosas "canções de protesto" de Vandré, mas com versos menos explícitos e uma melodia triste - é como se seus autores, sob a tremenda carga emocional de viver num país sem liberdade, ainda ousassem entrever, naqueles escuros dias, uma pequenina luz de esperança.
https://www.youtube.com/watch?v=OvuPIs4atY0
Olha que a vida tão linda se perde em tristezas assim
Desce o teu rancho cantando essa tua esperança sem fim
Deixa que a tua certeza se faça do povo a canção
Pra que teu povo cantando teu canto
Ele não seja em vão
Eu vou levando a minha vida enfim
Cantando e canto sim
E não cantava se não fosse assim
Levando pra quem me ouvir
Certezas e esperanças pra trocar
Por dores e tristezas que bem sei
Um dia ainda vão findar
Um dia que vem vindo
E que eu vivo pra cantar
Na avenida girando, estandarte na mão
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