Conversas com os principais adversários de Temer aumentam risco de queda do governo ainda neste mês.
Por Redação – de Brasília
Aumenta fosso que separa o presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente de facto, Michel Temer. As declarações do advogado do peemedebista, Eduardo Pizarro Carnelós, críticas à determinação de Maia para que os vídeos da delação premiada do doleiro Dilson Funaro, entornaram o caldo. Segundo na sucessão presidencial, Maia não escondeu sua decepção com o primeiro mandatário, em recente jantar na companhia dos senadores Renan Calheiros e Kátia Abreu. Ninguém menos do que seus maiores críticos no PMDB.
Maia tem articulado, nos bastidores, a composição de um ministério para substituir o atual governo Temer
Entre um e outro acepipe regado a vinho fino, Temer foi servido no prato principal, acompanhado das dúvidas quanto às chances de sobreviver à segunda denúncia. Segundo vazou para a mídia, nesta segunda-feira, o assunto estava tão saboroso que chegaram a tratar dos cargos em um possível governo Maia.
‘Criminoso’
Deputados da confiança de Rodrigo Maia, presentes ao jantar, confirmaram que, na eventual gestão do deputado, o chefe do gabinete da Presidência da República, seu contraparente, Moreira Franco seria poupado da degola. Permaneceria no governo, com foro privilegiado — para não cair na Vara Federal do juiz Sérgio Moro — mas distante do Planalto.
O presidente da Câmara confirmou sua presença no jantar, oferecido pela senadora Kátia Abreu. Negou, porém, que a formação de um novo governo.
— Recomposição (do governo) não tratamos. (Falamos sobre o) jogo do Botafogo — disse o torcedor do alvinegro carioca. Este também foi a alcunha com a qual foi citado na lista dos políticos que receberam propina da Construtora Norberto Odebrecht.
Não pode chegar em melhor hora, para Maia, a gafe do advogado de Temer. O compasso foi perfeito para que o sucessor do substituto de Dilma Rousseff (PT) não economizasse nas críticas ao possível sucedido. Maia disse que se sentiu agredido por Carnelós, depois que o advogado classificou a divulgação do depoimento de Lúcio Funaro era “criminoso”.
Incompetência
Em nota, o advogado afirmou ser “evidente que o criminoso vazamento foi produzido por quem pretende insistir na criação de grave crise política no país”. Acontece que os vídeos foram publicados no site da Câmara, com a autorização de Maia.
— Não estavam sob sigilo — alegou o presidente da Câmara.
Nesta segunda-feira, após alertado para a repercussão da nota, o advogado negou saber que os vídeos estão disponíveis site da Câmara. Na tentativa de reduzir o dano causado, ressaltou que “jamais quis imputar crime a Rodrigo Maia”. Disse isso depois que Maia o chamou de “incompetente e irresponsável”. Na mesma linha, avisou que Carnelós será “processado pelos servidores da Câmara”. Maia também não poupou Temer:
— Uma pena o presidente do Brasil constituir este advogado na sua defesa. Incompetência é pouco pra justificar as agressões do advogado. A defesa do presidente recebeu todos os documentos. Nunca imaginei ser agredido pelo advogado do presidente Temer. Depois de tudo que eu fiz, esta agressão não faz sentido. Daqui para frente vou, exclusivamente, cumprir meu papel institucional, presidir a sessão.
Liberado
Temer anda tão desmoralizado no país que ser chamado de “capitão do golpe” e chefe da “quadrilha do PMDB” não significa um atentado contra sua honra. Nesta segunda-feira, o presidenciável do PDT, ex-ministro Ciro Gomes, foi absolvido na Justiça Federal, em Brasília, da acusação de ter atentado contra sua dignidade ao tê-lo chamado de quadrilheiro. O juízo entendeu que Ciro dirigiu críticas a um adversário no momento em que a política está conturbada.
Tão conturbada quanto a vida de um dos principais aliados do peemedebista. Ainda nesta manhã, a Polícia Federal (PF) deflagrou uma operação na Câmara dos Deputados. A ação ocorreu a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e tem como alvo o gabinete do deputado Lúcio Vieira Lima. Trata-se do irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, atualmente encontrado no Presídio da Papuda.
Lavagem de dinheiro
As buscas ocorreram como parte da investigação ligada a R$ 51 milhões. A fortuna foi encontrada pelas autoridades num apartamento, em Salvador, ligado ao político. Geddel foi preso em julho, após a PF fazer a maior apreensão de dinheiro em espécie da história.
O imóvel em que o dinheiro foi encontrado teria sido emprestado a Lúcio e era usado por Geddel. Em setembro, por haver indícios do envolvimento do deputado, que tem foro privilegiado, as investigações foram remetidas ao Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão foi do juiz Vallisney de Oliveira, da 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília. Segundo decidiu, “não se pode excluir de plano a participação de Lúcio Vieira Lima no ilícito de lavagem de dinheiro”.
Geddel é investigado na Operação Cui Bono, que apura desvios de recursos na Caixa Econômica Federal. A primeira fase, deflagrada em 13 de janeiro deste ano; investigou um esquema de fraude na liberação de créditos no período entre 2011 e 2013. De acordo com a investigação, entre março de 2011 e dezembro de 2013, a vice-presidência de pessoa jurídica da instituição era ocupada por Geddel Vieira Lima.
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