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Núcleo Piratininga de Comunicação

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Blog do NPC

April 3, 2011 21:00 , by Unknown - | No one following this article yet.

Recife será sede de evento preparatório ao 2ºENDC

February 6, 2015 9:54, by Unknown

Entre os dias 10 e 12 de abril será realizado, em Belo Horizonte (MG), o 2º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação (II ENDC). Antes, entre 12 e 14 de março, será realizado o Encontro Regional do Direito à Comunicação na Universidade Católica de Pernambuco, em Recife, cidade que foi sede do 1º ENDC. O objetivo do encontro é trocar informações sobre as lutas pelo direito à comunicação em que estão envolvidos midiativistas, pesquisadores, comunicadores comunitários e populares, dirigentes de emissoras públicas, sindicatos e outras organizações. Na pauta estão temas como o fortalecimento do sistema público; a sustentabilidade da comunicação popular, local, independente e comunitária; e a construção de estratégias para uma regulação democrática da radiodifusão.



Projeto Imagens do Povo completa dez anos

February 6, 2015 9:52, by Unknown

Criado pelo Observatório de Favelas, o projeto Imagens do Povo foi lançado para formar fotógrafos em/de comunidades e mostrar novo olhar sobre esses espaços. Com a proposta de aliar a técnica da fotografia às questões sociais, o projeto foi idealizado pelo fotógrafo João Roberto Ripper, em 2004. Para marcar os dez anos de existência, foi lançado o livro “Nós”. Também está sendo realizada uma exposição na favela da Maré, no Rio de Janeiro, no Galpão Bela Maré. Na página da BBC, dez fotos mostram a sensibilidade dos participantes do projeto no momento de retratar as favelas.



A violência policial aumenta, principalmente contra os jovens negros

February 6, 2015 9:48, by Unknown

Foi divulgado o resultado do Mapa da Violência 2014. De acordo com a pesquisa, o índice de jovens negros mortos no país corresponde a um número três vezes maior que o de homicídios de jovens brancos. A tendência é que esse quadro piore: aponta-se para uma redução do número de homicídios de jovens brancos e um aumento do de jovens negros. Mas isso não é novidade: todo dia a toda hora lemos e escutamos relatos horrorosos de violência. Qual a origem desta farra de sangue, em que a imensa maioria dos que morrem são jovens entre 18 e 22 anos, quase todos negros e favelados? Qual a explicação disso tudo? A população está envenenada pelas notícias da mídia. Ela vive apavorada e não se pergunta nada, só pede mais polícia para se garantir. Será que esta polícia, com esta mídia, vai garantir nossa segurança? Será que vai continuar matando, impunemente, aqueles jovens que correspondem ao grupo mais excluído de nossa população? E o que vamos fazer? O primeiro passo é abrir esta discussão na nossa imprensa, sindical, partidária, comunitária. Um bom caminho para estimular esse debate é divulgar o vídeo preparado pela Anistia Internacional para a campanha Jovem Negro Vivo. Ele aborda a invisibilidade e a naturalização dos assassinatos de negros no país. Está disponível no youtube.



Trabalhadores correm risco de perder direitos no Brasil

February 6, 2015 9:46, by Unknown

[Por Vito Giannotti] A vitória dos trabalhadores gregos é uma lição muito séria para a Europa inteira: Espanha, Portugal, Itália, França, Inglaterra. É tudo a mesma desgraceira neoliberal. Em todos esses países a classe operária está sofrendo fortes derrotas. Perdendo velhas conquistas de décadas passadas.

No Brasil com várias histórias de crise internacional e de recessão, os partidos de sempre querem impor fortes derrotas aos trabalhadores. Basta olhar as primeiras medidas que a presidente Dilma tomou no começo do mês de Janeiro. Todas são uma festa para os patrões e uma desgraça para os trabalhadores. Em resumo são todas retiradas de direito: auxilio doença, seguro desemprego, seguro pós morte. O que fazer? Povo na rua por um projeto político diferente do projeto neoliberal.



Escola Internacional de Cinema e TV de Cuba abre inscrições para seleção de estudantes brasileiros

February 6, 2015 9:42, by Unknown

A Coordenação dos Exames de seleção para a Escola Internacional de Cinema de TV de Cuba no Brasil (EICTV) comunica que estão abertas, até o dia 7 de março, as inscrições para o Processo Seletivo 2015 / 2018. As provas serão aplicadas nos dias 13 e 14 de março, em cinco cidades: Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Florianópolis (SC), Belém (PA) e Brasília (DF).

Serão oferecidas oito especializações - Direção, Produção, Roteiro, Fotografia, Som, Documentário, Edição e TV e Novas Mídias. Cada candidato deverá optar por apenas uma destas especializações. O curso tem duração de três anos. O início está previsto para setembro de 2015 e término em julho de 2018.



Projeto ‘Resistir é preciso’ apresenta JORNAIS ALTERNATIVOS da época da DITADURA

February 6, 2015 9:40, by Unknown

Na internet é possível ver parte da trajetória da imprensa brasileira que combateu e resistiu à ditadura civil-militar brasileira. Foram jornais, revistas e cartazes produzidos na clandestinidade, no exílio e algumas vezes circulavam nas bancas. Para conferir, basta acessar a página do projeto “Resistir é preciso”, do Instituto Vladimir Herzog.



Investigação Operária conta a repressão aos metalúrgicos da cidade de São Paulo

February 6, 2015 9:36, by Unknown

De dois anos para cá saíram dezenas de livros sobre a Ditadura de 64. Foi um show macabro, terrificante de prisões, tortura, exílios e mortes. Até poucos anos atrás, pouca gente sabia do que esta ditadura fez. Da desgraça que provocou para o país. Hoje, quem quer se informar, e quem tem possibilidade de se informar, pode ler centenas de livros, assistir dezenas de filmes, documentários e ouvir inúmeros depoimentos gravados de quem viveu e sofreu na pele a violência dessa época. Mesmo com tanta coisa publicada e divulgada sobre o assunto, faltava mostrar com mais destaque todas as perseguições, prisões torturas e mortes que atingiram diretamente os trabalhadores nas fábricas e nos bairros de moradia. Essa parte da investigação agora pode ser conferida por meio do livro “Investigação Operária: empresários, militares e pelegos contra os trabalhadores”. Seu objetivo é mostrar como os empresários prepararam o golpe, como o sustentaram e como viveram felizes com a ditadura. Junto com os militares e os pelegos seus servidores, esmagaram os trabalhadores naquele período.



Filme “O Abutre”

February 6, 2015 9:33, by Unknown

Está em cartaz, em vários cinemas do país, o longametragem “O Abutre”. Estrelado por Jake Gyllenhaal, o filme aborda a entrada de um jovem no agitado mundo do jornalismo criminal independente de Los Angeles. Ele passa a sobreviver dos crimes e acidentes que acontecem pela cidade, sendo capaz de tudo para conseguir imagens dessas situações chocantes. Esse filme deve ser visto por todos os comunicadores e aqueles que têm interesse pelo tema, pois propõe um construtivo debate sobre ética e as consequências do sensacionalismo para a sociedade.



Livro “Marx, manual de instruções”

February 6, 2015 9:31, by Unknown

O filósofo e ativista político francês Daniel Bensaid publicou um livrinho intitulado “Marx, manual de instruções”, editado no Brasil pela Boitempo. A obra oferece uma divertida introdução à vida e à obra do pensador alemão. É uma forma bastante clara, objetiva e bem humorada de apresentar importantes bases teóricas anticapitalistas. Ao texto soma-se uma série de quadrinhos que o provocativo cartunista francês Stéphane "Charb" Charbonnier fez especialmente para a obra. Charb foi morto recentemente no ataque, em Paris, à redação do Charlie Hebdo.

O livro custa R$ 43,00 e está à venda em várias livrarias do país, inclusive na nossa Livraria Antonio Gramsci. Para comprar o seu exemplar pela internet, basta clicar aqui.



Por Stan Draenos

February 6, 2015 9:28, by Unknown

De qualquer forma, esse fenômeno [a vitória do Syriza na Grécia] é a prova mais flagrante de que acabou a chamada vitória do ‘capitalismo’ sobre o ‘socialismo real’ da União Soviética, bem como sobre a social-democracia. Algo está errado em um sistema econômico que não pode fornecer níveis adequados de emprego. [Trecho da entrevista do analista político Stan Draenos concedida a Gianni Carta, da Carta Capital.]



Por Alberto da Costa e Silva

February 6, 2015 9:27, by Unknown

... logo percebemos que não nos tratavam como “oibó”, ou branco. Pertencíamos a outro grupo: o brasileiro. Um menino explicou-nos com candura: não cheirávamos a podre como um europeu e na vida diária nosso comportamento era semelhante ao dos seus.

[Alberto da Costa e Silva, historiador e diplomata, sobre a Nigéria, país em que foi embaixador do Brasil nos anos 1970 – O Globo - 31/01/2015]



Por Wole Soyinka

February 6, 2015 9:25, by Unknown

Sempre que vou ao Brasil tenho a impressão de que uma parte do país pensa: “Não temos nada a ver com a herança africana”. Já em outras partes as pessoas são mais iorubás do que muitos iorubás da Nigéria. Cultivam simbolismos e rituais, porque reconhecem que é uma visão de mundo autêntica. É como se o Brasil, em termos culturais, estivesse em guerra consigo mesmo.

[Wole Soyinka, dramaturgo e escritor nigeriano, primeiro africano a receber o Nobel de Literatura, em 1986 – O Globo - 31/01/2015]



A GRÉCIA HOJE É A BOLA DA VEZ

February 6, 2015 9:13, by Unknown

Na segunda-feira dia 26, a esquerda do mundo todo se ligou no resultado das eleições presidenciais da Grécia. Faz mais de cinco anos que escutamos notícias do desastre econômico deste país. Para o povo e os trabalhadores sobram miséria, fome e morte. Sabemos que este é o resultado de toda a política dirigida pelo capital internacional por meio do FMI e do Banco Central Europeu. Por isso a vitória do SYRIZA nos encheu de esperança. Mas há visões contraditórias sobre para onde irá a Grécia. O boletim do NPC quer estimular o debate mais aberto e franco possível.

Colocamos duas posições bem contraditórias. Uma de Tarso Genro, muito positiva e cheia de esperança. Outra de Antônio Mazzeo, totalmente negativa e nada de “oba oba”. E cada um de nós, como vai ficar? Por enquanto coçando a cabeça, procurando entender. Veja os links dos textos!



O risco forte de recessão

February 1, 2015 12:14, by Bertoni
O pacote fiscal do governo pressiona uma economia frágil em meio a incertezas globais
 
Por Carlos Drummond

A situação está difícil, o mundo atravessa uma crise de duração indeterminada e o Brasil vive claramente um risco seríssimo de recessão, hipótese admitida em relatórios elaborados pelos maiores bancos do País. O complicador do quadro é o ajuste fiscal baixado pelo governo em dezembro, complementado na segunda-feira 19 com o aumento de impostos sobre combustíveis, crédito ao consumidor e importações e mudanças no Imposto Sobre Produtos Industrializados para o setor de cosméticos.

Ninguém discute a necessidade de um ajuste, mas esse pacote fiscal, especificamente, pode ter consequências graves para a sociedade. Cortes pretensamente seletivos retirarão um total previsto de, aproximadamente, 80 bilhões de reais de uma economia estagnada, em meio a um ambiente internacional desfavorável e a uma concentração de renda inibidora do desenvolvimento, no mundo e no Brasil. Não se sabe como o segundo governo Dilma Rousseff imagina atingir o objetivo pretendido com restrição do crédito de longo prazo para as empresas concedido pelo BNDES, anunciado em rodada anterior, e contração simultânea do crédito ao consumidor. O aumento do investimento público seria a resposta correta, mas nisso não se fala. Todas as fichas são colocadas na esperada retomada do ânimo empresarial, a partir de iniciativas aparentemente contraditórias com esse objetivo.

Os apertos de crédito, acentuados pelo aumento da taxa de juros em meio ponto porcentual, para 12,25%, na quinta-feira 22, a terceira elevação do segundo mandato de Dilma, agravam a situação periclitante da indústria instalada no País, desfigurada em 30 anos de crises, políticas equivocadas e desconhecimento quase absoluto, pelos diversos governos do período, do papel determinante do setor na trajetória dos países avançados ao Norte e dos emergentes bem-sucedidos no Oriente.

As crises nacionais da energia e da água, geradoras de incertezas adicionais e da postergação de investimentos, agravam a situação do País e o tornam mais vulnerável a um ajuste fiscal que atinge em cheio as parcelas mais frágeis da sociedade. As restrições ao crédito afetam negativamente investimentos e empregos, e as reduções de direitos trabalhistas e sociais diminuirão o socorro às camadas desprotegidas da população e aos desempregados, um contingente que já começa a aumentar, como mostram as mais de 12 mil demissões nas empresas fornecedoras da Petrobras, esta em crise profunda, e as centenas de dispensas no setor automobilístico.

Na busca de explicações para a guinada do segundo governo Dilma em relação à política econômica dos três mandatos anteriores, além da hipótese de capitulação pura e simples, surgem pistas em alguns pronunciamentos da presidenta e do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Em seu discurso de posse, no dia 5 deste mês, por cinco vezes ele condenou “o Estado patrimonialista”. Em duas das menções remeteu à alusão ao tema feita pela presidenta Dilma Rousseff, no seu discurso de diplomação, em 18 de dezembro. “O sistema patrimonialista de poder, que atravessou séculos e séculos da nossa história, nos deixa uma herança nefasta, cujo traço mais marcante é, ainda, a não dissolução plena dos laços nocivos entre o que é público e o que é privado”, verberou Dilma.

A referência, pelo ministro, ao patrimonialismo e à “análise formidável” da questão por Raymundo Faoro foi entendida como uma tentativa de atenuar a marca neoliberal do seu currículo e justificar a sua presença em um governo do PT.  Aparentemente, fez uma apropriação indevida, porque direcionada à condenação do “Estado centralizador” criador de incentivos, subsídios e favorecimentos a determinados setores da economia. Tal reprovação, sabe-se, é a outra face da apologia ao mercado e às suas virtudes, as existentes e as imaginárias também.

Faoro percebia uma convergência entre o patrimonialismo e o capitalismo. “A realidade econômica, com o advento da economia monetária e a ascendência do mercado nas relações de troca, dará a expressão completa” ao fenômeno do Estado patrimonialista, analisa Faoro em Os Donos do Poder. Essa convergência inclui necessariamente o papel centralizador do Estado no capitalismo. Não há, mostra sobejamente a história econômica, nenhum país industrializado ou emergente bem-sucedido que tenha prescindido, na sua ascensão, de um Estado forte, coordenador da economia e pródigo em subsídios e protecionismo à indústria, à agricultura e ao comércio.

Faoro baseou sua análise sobre os Estados português e brasileiro nos estudos acerca do patrimonialismo feitos por Max Weber. As interpretações posteriores, no País, do grande sociólogo alemão, em regra são problemáticas. “No Brasil, a influência do pensamento weberiano é dominada pela leitura liberal apologética. É de Weber que se retira a autoridade para a legitimação da noção de patrimonialismo, para indicar uma suposta ação parasitária do Estado e de sua elite sobre a sociedade”, aponta o professor de sociologia da Universidade Federal de Juiz de Fora Jessé de Souza, organizador do livro A Atualidade de Max Weber. A quem interessa, pergunta Souza, “demonizar o Estado, pleitear o Estado mínimo, criticar a incipiente assistência social estatal e, em suma, reduzir os interesses da sociedade aos interesses da reprodução do mercado? O que dizer do empresariado brasileiro, especialmente o paulista, principal beneficiário do processo de industrialização nacional financiado pelo Estado interventor desde Vargas? Ele foi o que mais ganhou com o suposto Estado patrimonial brasileiro”.

As distorções apontadas pelo professor comprometem as falas do ministro e da presidenta. A questão patrimonial mais importante para o País é outra. Apesar dos avanços notórios na diminuição da desigualdade no País desde 2002, a concentração no topo da sociedade piorou, como mostra o trabalho pioneiro “O topo da distribuição de renda no Brasil: primeiras estimativas com dados tributários e comparação com pesquisas domiciliares, 2006-2012”, publicado em agosto do ano passado por Marcelo Medeiros, Pedro H. G. Ferreira de Souza e Fábio Avila de Castro, professores da Universidade de Brasília.

Trata-se da primeira estimativa da concentração de renda entre os mais ricos no Brasil, calculada a partir das declarações de Imposto de Renda Pessoa Física para os anos de 2006 a 2012. “Nossa conclusão é de que os dados tributários revelam uma concentração no topo substancialmente maior do que as outras fontes, e ela permanece estável”, dizem os autores. No período analisado, o 0,1% mais rico recebeu quase 11% da renda total e isso significa que a sua renda média foi quase 110 vezes maior do que a média nacional. O 1% mais rico, incluindo esse 0,1%, apropriou-se de 25%, e os 5% mais ricos receberam 44%, quase a metade da renda total. Na Colômbia e nos Estados Unidos, a parcela do 1% mais rico na renda total situa-se em torno de 20%. Os resultados para outros países desenvolvidos indicam porcentuais entre 10% e 15%, caindo abaixo disso no resto do mundo.

Um exemplo de concentração é a transferência, entre 1995 e 2014, pelo Estado brasileiro dito patrimonialista, de renda e riqueza para os detentores da dívida pública, na forma de pagamento de juros reais, no total acumulado de 125% do PIB. Segundo a organização Auditoria Cidadã da Dívida, mais de 90% da bolada foi entregue pelo governo ao sistema financeiro, principal credor da dívida pública.

A criação, pelos pesquisadores da UnB, de uma série de indicadores com base nas declarações de Imposto de Renda Pessoa Física é pioneira no Brasil e dialoga com a literatura sobre o assunto que, em outros países, existe há décadas e inclui, a partir de 2010, os trabalhos famosos do economista francês Thomas Piketty sobre o aumento da concentração de renda no mundo, apontada como uma das causas das crises econômicas e financeiras recorrentes.

Os resultados da pesquisa da UnB acentuam a importância da criação de um imposto sobre grandes fortunas, alternativa não contemplada no pacote do governo. “O imposto sobre grandes fortunas deveria ter sido incluído no Orçamento Fiscal”, explica a professora Lena Lavinas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no estudo referencial “Um longo caminho para a justiça tributária: o caso do Brasil”, apoiado em uma consolidação de pesquisas de diversos autores.

Criado pela Constituição de 1988, o imposto nunca foi regulamentado pelo Congresso e isso impede a sua implementação. Com base em estudos da Receita Federal, o economista Amir Khair afirma que esse imposto pode ser um dos mais efetivos mecanismos para reverter a regressividade tributária, “dada a concentração de riqueza extraordinariamente alta nos setores mais ricos da sociedade brasileira”. De acordo com o trabalho “Imposto sobre grandes fortunas”, publicado por Khair em 2003, uma taxa de 1% sobre a riqueza declarada à Receita Federal por pessoas físicas e jurídicas nesse ano teria proporcionado uma receita fiscal de 1,89% do PIB, no mínimo. A estimativa torna mais chocante ainda submeter o País a um esforço fiscal de 1,20% do PIB em 2015, estabelecido por um governo que se diz ultrajado com o suposto patrimonialismo do Estado, não com o patrimônio detido efetivamente pelos ricos, beneficiados por uma das legislações tributárias mais injustas do mundo.

Enquanto o governo foge da tributação das grandes fortunas, a ameaça aos beneficiados com a melhora da distribuição de renda nos últimos 12 anos é mais grave do que se imagina. É o que mostra o trabalho recém-concluído “Paralisia econômica, retrocesso social e eleições”, do economista Waldir Quadros, professor da Facamp, de Campinas, publicado pelo site Plataforma Política Social. Com base nos dados de 2012 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE, ele constatara que, apesar dos baixos índices de crescimento econômico, a mobilidade social avançou nos dois primeiros anos do governo Dilma.

De 2012 para 2013, entretanto, há uma piora significativa e a interrupção do ciclo de melhoras iniciado em 2004, alerta o pesquisador. A participação das classes médias (alta e média) encolhe e incha a da classe média baixa. Uma parte da última regride para a classe pobre ou dos trabalhadores e uma fração desta cai para a faixa dos miseráveis. Nos seus cálculos, Quadros buscou eliminar as distorções decorrentes do aumento da população entre os dois anos considerados e simulou a inexistência de mudanças nas participações das diversas camadas, como se não houvesse mobilidade social ascendente ou descendente no período. Com esses ajustes, foi possível atribuir as variações observadas exclusivamente às mudanças nas posições sociais.

Os achados são chocantes. Em apenas um ano, 780 mil pessoas deixaram de integrar a alta classe média e 2,6 milhões abandonaram a média classe média (leia o quadro). “Como a baixa classe média, que potencialmente recebeu essa queda de 3,4 milhões de pessoas, cresceu em 2,4 milhões, sugere-se que 1 milhão desceu desta camada para posições inferiores”, conclui Quadros. Com o descenso de 330 mil pessoas da massa trabalhadora, a camada de miseráveis cresceu em 1,3 milhão de pessoas, em uma evidência da profundidade do processo. “Diante da estagnação na economia, é possível que o mau desempenho tenha se mantido em 2014. Nesse caso, parece-nos bastante plausível admitir que o cenário de retrocesso social tenha contribuído com as dificuldades que a candidata Dilma enfrentou nas últimas eleições”, conclui o professor.

O levantamento mostra “uma impressionante melhora para as camadas populares” na estrutura social existente na eleição de Lula em 2002 e por ocasião também da sua reeleição em 2006 e isso “ajuda a compreender a sua recondução, apesar das insistentes denúncias do chamado ‘mensalão’”. O avanço social durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff concentra-se nos dois primeiros anos e é interrompido pela mudança drástica da conjuntura, em especial a partir de 2013.

Quadros considera “inteiramente procedentes as preocupações com os desdobramentos dos ajustes de corte recessivo anunciados pelo governo federal para 2015. Se a estagnação prolongada provocou um retrocesso dessa magnitude, um recuo maior na economia pode causar estrago ainda mais sério na estrutura social, afetando em grande medida aqueles beneficiados recentemente. E nada garante que esses enormes contingentes aceitarão passivamente a piora em suas condições de vida”.

As dificuldades das camadas de menor renda são acentuadas por uma das estruturas tributárias mais injustas do mundo, aponta Lena Lavinas. Os impostos e tributos indiretos sobre mercadorias e serviços, os mais regressivos, totalizaram 49,22% da receita tributária de 2011, enquanto a média dos países integrantes da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico é 34%. Em contrapartida, a tributação da renda perfaz apenas 19,02% da carga total. A alíquota sobre imóveis é de ínfimos 3,7%, segundo dados de 2012 da Secretaria da Receita Federal. A transmissão hereditária é tributada entre 2% e 4%. Além disso, heranças e doações são isentas de Imposto de Renda no Brasil.

Há amplo consenso quanto à melhora da distribuição de renda a partir de 2002. O salário mínimo teve um crescimento real de 93% entre janeiro de 2001 e dezembro de 2012 e a seguridade social criada pela Constituição de 1988 ganhou força institucional. As transferências monetárias aos grupos mais vulneráveis aumentaram, com programas como o Bolsa Família e a garantia de renda contínua a idosos, deficientes e famílias abaixo da linha de pobreza. O sistema de seguridade padronizou também uma pensão mínima para trabalhadores urbanos e rurais baseada nos salários mínimos e estendeu o direito de receber pensões a grupos com pequena contribuição.

Grande parte do esforço para aumentar a justiça social sucumbe, entretanto, à injustiça tributária. As famílias mais pobres, com renda familiar até dois mínimos por mês, têm 53,9% da sua renda absorvida pela tributação. A renda líquida dessas famílias é menor do que os impostos que elas pagam. O pacote fiscal do governo lhes impôs a extinção do abono de um salário mínimo anual, medida a ser revista, espera-se, após solicitação nesse sentido apresentada pelas centrais sindicais. As famílias que recebem entre dois e três salários mínimos têm 41,9% da sua renda encaminhada para o pagamento de impostos. Entre os produtos tributados com maior efeito regressivo estão alimentos básicos, gás de cozinha, eletricidade, vestuário e tabaco.

Um trabalho do Sindicato Nacional de Auditores da Receita Federal mostra que “a ausência ou insuficiência da correção das faixas de renda nos últimos anos absorve um número crescente de trabalhadores de baixa renda e sobrecarrega os que recebem salários médios. O volume de contribuições para o Imposto de Renda cresce através da inclusão dessa camada, cuja carga tributária aumenta constantemente”. Um exemplo de distorção é o pagamento de 27,5% de Imposto de Renda tanto por quem recebe um salário mensal de 4,08 mil reais quanto por aqueles remunerados com 408 mil reais por mês, segundo a tabela de faixas de rendimentos em vigor. Na segunda-feira 19, a presidenta rejeitou a proposta do Congresso de correção da tabela de faixas do Imposto de Renda em 6% e optou por um ajuste de 4,5%, que em nada melhora a situação do contribuinte.

Em contrapartida às injustiças para as pessoas físicas, a concessão de benefícios tributários às corporações expandiu-se consideravelmente de 1988 a 2009, com a criação de “pelo menos 52 mecanismos legais favoráveis ao capital, a exemplo de isenções fiscais para segmentos produtivos e outros, muitos deles de iniciativa do Executivo”, afirmam os cientistas políticos Wagner Pralon Mancuso e Davi Cordeiro Moreira, no artigo “Benefícios tributários valem a pena? Um estudo de formulação de políticas públicas”. Os benefícios referem-se a três tributos que financiam a ação social da União, a Contribuição para o Plano de Integração Social (PIS), a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). O projeto de reforma tributária encaminhado pelo governo ao Congresso em 2008 não corrige as distorções apontadas e ameaça desmantelar o sistema de financiamento da seguridade social, baseado nas três contribuições acima mencionadas. A medida prevê uma redução dos aportes feitos pelos empresários equivalentes a 40% da receita da seguridade social e deverá resultar em déficit, um encorajamento à privatização do sistema, prevê Lena Lavinas.

As perspectivas gerais são desanimadoras. Só 37% dos 1.322 executivos de 77 países entrevistados na abertura do Fórum Mundial, em Davos, acreditam que o crescimento global aumentará, 44% acham que permanecerá como está e 17% temem a sua redução. No mesmo dia, o FMI reUm estudo divulgado na segunda-feira 19 pela ONG britânica Oxfam prevê que, em 2016, o 1% mais rico do mundo terá, pela primeira vez, mais riqueza do que os outros 99%. duziu a previsão de crescimento da economia brasileira, de 1,4% para 0,3% em 2015. No Brasil, o pessimismo empresarial identificado em levantamentos recentes supera todos os recordes anteriores.

Ao lado de semelhanças com os pacotes dos anos 1990, o ajuste fiscal de dezembro e a forma de implementá-lo guardam algumas diferenças em relação ao período de Fernando Henrique Cardoso e do ministro da Fazenda Pedro Malan, conhecidos pela aplicação inflexível de decisões absolutas de alcance eventualmente devastador, a começar pela privatização, da qual empresas como a Petrobras, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica só escaparam porque houve uma reação da sociedade. O governo Dilma, depois de anunciar as medidas provisórias com restrições de direitos trabalhistas e sociais, destacou quatro ministros para ouvir as centrais sindicais e prometeu rever o endurecimento das normas para obter o seguro desemprego e a extinção do abono anual para as famílias com renda até dois salários mínimos. Os trabalhadores não escaparão, no entanto, das consequências da redução dos investimentos e do emprego provocadas pelo pacote.

O ajuste fiscal baseia-se em duas premissas arriscadas, a possibilidade de delimitar os seus efeitos e a viabilidade de revertê-los a médio prazo. “Essa ideia de que se vão fazer dois anos de ajuste parece que não tem dado certo no mundo. Vamos fazer uma ‘austeridadezinha’, e aí a gente sai dela em dois ou três anos. Mas ninguém menciona o fato de que enquanto dura uma recessão vai se devastando a vida das pessoas”, alerta o professor Luiz Gonzaga Belluzzo.

Para resgatar o País da recessão, é preciso desenvolver algumas das conquistas mais importantes dos últimos 12 anos, em especial a ampliação do mercado consumidor e o início de implantação do Plano de Investimento em Logística no primeiro governo Dilma. A tarefa passa também por uma “limpeza” e uma recuperação da Petrobras, responsável por 15% do investimento e 10% do PIB, em uma escala muito mais ampla e profunda do que se imagina. Há dúvida quanto à possibilidade de realização da tarefa pela presidenta Maria das Graças Silva Foster, aparentemente acuada e quase aniquilada por uma empreitada superior às suas forças.

No Palácio do Planalto, a nomeação de Joaquim Levy continua à espera de explicações satisfatórias. Inicialmente, Dilma Rousseff convidou o presidente-executivo do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, para uma permanência de dois anos à frente do Ministério da Fazenda. Depois disso, ele poderia assumir a condução do banco conforme o plano de Lázaro Brandão, presidente do Conselho de Administração. Não se sabe ao certo por que a proposta de permanência por dois anos não vingou, apenas que a sugestão de Joaquim Levy partiu da própria organização, como moeda de troca. Trabuco e Brandão, comenta-se em círculos próximos de ambos, não teriam aceitado algumas das condições de Dilma. Nessa história toda, houve um figurante muito ativo, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.

Os desdobramentos do ajuste fiscal prometem uma sucessão numerosa e eventualmente tumultuada de capítulos econômicos e políticos, de consequências insondáveis, com desfecho marcado para novembro de 2018.

Fonte: CartaCapital, № 834

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January 30, 2015 13:05, by Unknown

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