Por: Gisele Soares
O Oriente Médio é mundialmente percebido como uma região de intensos conflitos, como a disputa por petróleo, territórios e, mais recentemente, o movimento social Primavera Árabe. No entanto, a região possui uma rica história de pesquisa científica, que é bem menos conhecida. Durante a Idade de Ouro islâmica, período que abrange os séculos VIII e XIII, foram inúmeras as contribuições em áreas relacionadas a ciência e tecnologia, como matemática, biologia e medicina. Pensando no potencial de o mundo árabe novamente emergir como importante centro de ciência, o Nature Publishing Group fundou a Nature Middle East, um portal de informações sobre pesquisas médicas e científicas que abrange 18 nações de língua árabe do Oriente Médio.
Segundo Mohammed Yahia, editor do portal, o surgimento da Nature Middle East se deve ao massivo investimento, por muitos países da região, em ciência, e ao estabelecimento de parcerias com as principais universidades e centros de pesquisa do mundo. "Podemos estar no início de um novo renascimento da ciência na região e nós, do Nature Publishing Group, queríamos ser parte disso", afirma Yahia, que será um dos palestrantes da 13ª Conferência Internacional sobre Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (PCST).
Mohammed Yahia, editor da Nature Middle East, é um dos palestrantes convidados da 13ª Conferência PCST, que será realizada em maio, em Salvador. Ele participará da plenária sobre comunicação da ciência e mídia social
Farmacêutico de formação, Yahia iniciou suas atividades no jornalismo científico sob tutela de Nadia El-Awady, ex-presidente da Federação Mundial de Jornalistas Científicos (WFSJ) e uma das jornalistas de ciência mais reconhecidas no Oriente Médio. De acordo com ele, existe um grande papel para o jornalismo científico na região, mas discussões relativas à ciência, como escassez de água, insegurança energética, degradação ambiental e déficit educacional acabam se tornando essencialmente políticas. "Acho que os jornalistas de ciência têm o papel de levar essas discussões ao público, para que as pessoas incentivem os políticos a mudar suas abordagens". Yahia lembra, ainda, que os jornalistas precisam agir como o elo entre pesquisadores e público em geral. "O leigo precisa entender qual pesquisa está sendo realizada e como ela nos afeta. O jornalista de ciência também deve desempenhar um papel na criação de uma cultura científica na sociedade, trazendo a ciência para casa, para que o leigo possa ter voz nas questões e problemas que enfrenta – isso deveria ser um dos pilotos da investigação científica", enfatiza o editor da Nature Middle East.
Sobre a situação da comunicação pública da ciência no Oriente Médio, Yahia salienta que, nos últimos anos, houve alguma melhora, mas ainda existe um grande caminho a percorrer. "O principal problema é que os jornalistas, muitas vezes, não estão familiarizados com temas de ciência, o que significa que eles têm dificuldade de entender e de explicá-la ao público. Isso pode ter vários efeitos, desde o menos grave, como escrever uma notícia desinteressante e pouco informativa, até escrever algo cheio de erros científicos flagrantes. Eu também gostaria que houvesse mais jornalistas e páginas dedicadas à ciência nos principais meios de comunicação. Tal como está, poucas organizações midiáticas têm equipes especializadas (ou até mesmo um editor de ciência)", explica. No lado positivo, ele salienta a fundação, em 2006, da Associação Árabe de Jornalistas de Ciência (ASJA), que reúne jornalistas de ciência e comunicadores de toda a região. "A associação ajudou muito, pois elaboramos material para auxiliar a produção de mais trabalhos de qualidade dos jornalistas. Essa conexão também permitiu que os integrantes se ajudassem em nível regional, o que é uma ótima maneira de romper algumas limitações de orçamento que muitas vezes enfrentamos".
Participação na Conferência 13ª PCST
Mohammed Yahia participará da plenária sobre comunicação da ciência e mídia social no dia 7 de maio a partir das 9h durante a conferência PCST que será realizada em Salvador. Ele espera que o evento proporcione uma oportunidade aos jornalistas da América Latina de interagir com colegas de outras partes do mundo. "Estou animado com a realização do PCST na América Latina porque, infelizmente, sempre senti que a América Latina era sub-representada em outras reuniões científicas (como a Conferência Mundial de Jornalistas Científicos- WCSJ). A realização do PCST no Brasil certamente será um impulso para o jornalismo científico na América Latina e isso, definitivamente, é uma vantagem". Ele destaca, também, a diversidade de temas abordados e de origens dos palestrantes. "Os palestrantes das sessões são de origens muito diversas, o que eu acho que só vai enriquecer as discussões. É maravilhoso ter a chance de compartilhar experiências com pessoas do mundo todo", finaliza o editor da Nature Middle East.
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