O imaginário de muitos quanto ao golpe de 1964 está ligado as prisões de estudantes, e principalmente ao período de 1968 para a frente, ou também 1978 em diante, a partir das greves do ABC e São Paulo.
Mas precisamos ir mais fundo para tentarmos entender o que se passou realmente. O que estava em jogo e porque se fala pouco das perseguições do início, já logo abril de 1964. Seria porque temos uma Ditabranda como querem alguns?
Segundo dados da Comissão Nacional da Verdade "somente no primeiro dia do golpe (1º de abril de 1964), 409 sindicatos, duas Confederações e seis Federações sofreram intervenções, chegando em alguns locais a serem colocados tanques de guerra em frente às entidades. Apenas nas primeiras semanas foram presas cerca de 50 mil pessoas. Todos aqueles considerados suspeitos perderam a sua filiação aos sindicatos." (Ver mais aqui) Muitos foram torturados já nas primeiras horas do dia, mas eram trabalhadores e trabalhadoras.
Alguns dirigentes continuam desaparecidos, como é o caso de Silvestre Bozzo, integrante do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Papel e Papelão.
Diretamente como resultado do golpe mais de 20 líderes da CGT são presos. O que foi feito para desorganizar a resistência dos trabalhadores e suas organizações ao golpe. Mesmo que possamos pensar na política da CGT naquele momento, em particular na política do PCB (podemos voltar a isso em outro momento)
Alguns exemplo que pude pesquisar de maneira breve e rápida pela internet. O caso do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro. Logo após o golpe e durou mais de dois anos. Quando em 1966 a chapa que vencedora apontava posições contrárias a ditadura, foi impedida de tomar posse e seus diretores todos presos.
Segundo Samuel Henrique Maleval, que falou pela primeira vez em uma audiência da Comissão Nacional da Verdade: "Algumas pessoas pensam que a tortura e as prisões começaram muito depois de 64, mas não. Nos primeiros dias do golpe, eles entraram no sindicato, quebraram tudo, nos prenderam e torturaram. Foi uma humilhação terrível e não podíamos fazer nada". Ele tem o movimento dos braços comprometidos em função da tortura que sofreu naquele momento.
Também no dia 1 de abril de 1964 o Sindicato dos Operários Navais de Niterói e São Gonçalo foi invadido pelos golpistas. Seus dirigentes foram presos. Este era um importante sindicato de luta. Sua sede foi construía com dinheiro dos próprios trabalhadores. Também foi palco de importante momentos da luta dos trabalhadores em particular podemos citar o Congresso Latino Americano em Solidariedade a Cuba. Este congresso foi impedido de se realizar pelo então governador da Guanabara Carlos Lacerda, sendo assim transferido do Rio de Janeiro para Niterói.
Durante a década de 60, mais de 25 mil filiados lutaram e combateram a repressão. O sindicato foi responsável pela “greve dos 100 mil marítimos”, que parou estaleiros e a frota de navios da Marinha Mercante.
O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo foi e continua sendo um dos maiores sindicatos de operários do país. Podemos ver as consequências até hoje do golpe dado em 1964. Toda a diretoria foi cassada e o Sindicato ficou sob intervenção. Em 6 de abril de 1964 tomou posse o primeiro interventor do Sindicato, Carlos Ferreira dos Santos. Em função de muita pressão da base e diversas ressalvas do governo ditatorial foram organizadas eleições em janeiro de 1965. E assim é eleito o famoso Joaquinzão, tomando posso em agosto de 1965. Esta eleição marcou uma virada e consolidação de uma posição que colocou o sindicato em consonância com os interesses da ditadura e do aparato de estado.
Para terem uma ideia do lugar do sindicato naquela época. Em outubro de 1963 irrompeu uma das greves mais significativas daqueles anos. Mobilizou mais de 700 trabalhadores, 79 sindicatos e 4 federações. A reivindicação era de 100% de aumento salarial, reajuste automático a cada quatro meses, adicional de 5% para cada cinco anos de trabalho, férias em dobro, garantia de ação sindical e estabilidade para os delegados nas empresas. A paralização foi iniciada pelos metalúrgicos de São Paulo, chegando ao interior do estado, em cidades como Santos, Campinas, ABC, Piracicaba, São José dos Campo, Ribeirão Preto, Americana, Tatuí e Guarulhos. A greve é parcialmente vitoriosa e marca o ascenso da radicalização das lutas que vai se estender até 1964.
Voltando a poucos dias do golpe. Em 13 de março de 1964, no famoso comissão da central, Goulart assinou decretos que estatizavam refinarias de petróleo e desapropriavam, para fins de reforma agrária, propriedades com mais de 100 hectares numa faixa de 10 quilômetros ao longo das ferrovias e rodovias federais.
O caso da refinaria de Manguinhos é emblemático. Ela foi desapropriada em 13 de março de 1964 por João Goulart. E a desapropriação foi cancelada logo em abril pelo General Castelo Branco. Veja aqui o decreto de desapropriação.
A CGT ameaçou realizar uma greve geral em 1964, mas diante das prisões das lideranças e as perseguições ela não pode ser efetiva. Pesou em muito aqui a proposta da direção do PCB, pelo que pude ver, feito pelo próprio Prestes de suspender a convocatória pois poderia soar provocação e seria desnecessário pois João Goulart dispunha de força militar para sufocar o levante. Ledo engano? Ou grave erro?
As consequências....
Em 1960, os 20% mais pobres da população detinham 3,9% da renda nacional, já em 1980, apenas 20 anos depois, essa renda caiu para 2,8%. Enquanto isso, os 10% mais ricos passaram de 39,5% para 50,9% no mesmo período. Mas a situação prossegue no caminho contrário aos trabalhadores, em 2011, a renda familiar per capita dos 20% mais ricos foi 16,5 vezes maior que a dos 20% mais pobres. A diferença apenas vai aumentando, pois os 20% mais ricos ainda detêm quase 60% da renda total. (Veja site do governo)
0sem comentários ainda
Por favor digite as duas palavras abaixo