Com 98 ataques, rotina de trabalhadores e passageiros volta a normalizar. Na Grande Florianópolis, perdas no comércio chegaram a 40%, diz CDL.
O número de atentados começou a diminuir nos últimos dias – cinco foram confirmados na terça (7), enquanto na quarta-feira (8) foram dois – mas trabalhadores e usuários do transporte coletivo da Grande Florianópolis ainda relatam apreensão e insegurança devido a terceira onda de violência em Santa Catarina – comandada de dentro dos presídios, segundo a Polícia Civil. Desde que os atentados começaram, em 26 de setembro, o estado registrou 98 ataques, dos quais 41 foram a ônibus, segundo relatório da Polícia Militar divulgado na noite de quarta. Condição que reduziu os horários das linhas noturnas durante uma semana, em muitas cidades, e impactou nos lucros do comércio. Segundo a Câmara dos Dirigentes Lojistas de Florianópolis, o movimento das vendas caiu em 40%.
“De domingo para cá, a coisa está se normalizando, o pessoal está mais tranquilo. Semana passada foi um terror”, explica o motorista Jucélio Altino Soares, que trabalha há sete anos no setor. A rotina de usuários e trabalhadores da Grande Florianópolis começou a se normalizar na última segunda-feira (6), quando os ônibus voltaram a operar até a meia-noite e, na madrugada desta quinta (9), as linhas ‘madrugadão’ voltaram a operar. Antes disso, eles paravam às 19h e retornavam às 5h30. No dia 30 de setembro, a parada foi às 18h30.
A dona de casa Jucieli Namem diz que mesmo sem usar o transporte público diariamente ela sente receio. “Eu ando normal, só com medo por causa do meu filho de 2 aninhos”, relata a mulher que mora no bairro Vargem Grande, no Norte da Ilha de Santa Catarina.

Várias linhas deixaram de funcionar
(Foto: Janara Nicoletti/G1)
“Agora deu uma parada, mas nunca se sabe o momento em que vão atacar”, complementa a secretária de uma clínica médica, Vera Prim. Ela usa o transporte coletivo todos os dias. “Eu procuro ficar sempre perto da porta. Qualquer coisa, é mais fácil de descer”, conta.
Por causa da redução de linhas à noite, o cobrador Guilherme, que pediu para não identificar seu sobrenome, lembra que os coletivos do final da tarde saiam sempre lotados. “Como diminuíram as linhas, consequentemente, os ônibus ficavam mais cheios. O pessoal reclamava por causa do ônibus lotado. Eu me preocupava mais com idoso, cadeirante”, comenta.
Guilherme trabalha até as 20h e enfrentava o mesmo problema de muita gente. “Eu fiquei a pé, precisei pegar carona porque quando acabava a linha, não tinha mais ônibus para ir para casa e, diferente dos outros que podiam sair mais cedo, eu não tinha como deixar o trabalho antes”, recorda o cobrador de 21 anos.
‘Família GPS’
Dos 24 anos em que é motorista de ônibus, Israel Martins dedicou metade da carreira para o transporte público da Grande Florianópolis. Ele trabalha em linhas que passam por áreas consideradas de risco na região e revela a tensão dos últimos dias. “O cara trabalha com medo. A gente só vai ver resultado e ficar tranquilo quando não tiver mais nenhum ataque”, desabafa.
Dos 24 anos em que é motorista de ônibus, Israel Martins dedicou metade da carreira para o transporte público da Grande Florianópolis. Ele trabalha em linhas que passam por áreas consideradas de risco na região e revela a tensão dos últimos dias. “O cara trabalha com medo. A gente só vai ver resultado e ficar tranquilo quando não tiver mais nenhum ataque”, desabafa.

Rotina de passageiros e motoristas começou a
normalizar (Foto: Janara Nicoletti/G1)
Em uma das linhas em que Martins trabalha, um motorista sofreu tentativa de ataque na noite de terça-feira (7). “Os caras tentaram parar o ônibus, mas ele tocou em cima e continuou. Quando a polícia está junto [fazendo escolta] a gente fica bem tranquilo”.
Os ataques impactaram também na rotina de trabalho do motorista e no dia a dia da família. “Eles parecem um ‘GPS’. Ligam o tempo todo, para saber se estou bem ou se ainda não morri. A minha filha de 16 anos é a mais preocupada”, ri o motorista que deixou de levar óculos, celular e bolsa por uma semana, para evitar perder em caso de ataque. “Se eles entram e mandam você descer, tem que ser na hora. Você consegue pegar alguma coisa se eles deixarem”, reflete o trabalhador.

Motoristas e cobradores são orientados a andarem
sem cinto de segurança (Foto: Janara Nicoletti/G1)
“Antes você via isso no Rio de Janeiro e em São Paulo e achava que nunca iria acontecer aqui. Agora, o cara fica tranquilo quando passa a onda de violência, mas na expectativa de saber quando vai ser a próxima”, analisa o motorista que também viveu a tensão de trabalhar no transporte coletivo nas outras ondas de atentados: em novembro de 2012 e entre janeiro e março de 2013.
Impactos no comércio
A tensão e insegurança dos últimos dias tiveram reflexos no comércio da capital. Aline de Oliveira tem 25 anos e desde os 20 atua como caixa de uma lanchonete do Terminal de Integração do Centro (Ticen), o principal de Florianópolis. Ela afirma que o movimento caiu cerca de 50% na última semana e na atual ainda não normalizou. “Às 21h sempre tinha fila de gente esperando o próximo ônibus da linha para tentar ir sentado. Agora, o pessoal chega correndo e entra. Ninguém se importa em ir em pé. Só quer ir embora mesmo”, relata a caixa.
A tensão e insegurança dos últimos dias tiveram reflexos no comércio da capital. Aline de Oliveira tem 25 anos e desde os 20 atua como caixa de uma lanchonete do Terminal de Integração do Centro (Ticen), o principal de Florianópolis. Ela afirma que o movimento caiu cerca de 50% na última semana e na atual ainda não normalizou. “Às 21h sempre tinha fila de gente esperando o próximo ônibus da linha para tentar ir sentado. Agora, o pessoal chega correndo e entra. Ninguém se importa em ir em pé. Só quer ir embora mesmo”, relata a caixa.
Aline já presenciou o movimento no Terminal nas outras duas ondas de ataques. Segundo ela, esta foi a primeira que apresentou impacto negativo representativo no comércio “Essa foi a pior, porque nas outras deu aquela parada, mas voltou. Agora o movimento está voltando mas ainda está ruim. Ontem [terça], o pessoal viu a PM aqui no terminal e já ficou assustado”, explica.
No comércio do Centro da capital catarinense, a situação é semelhante. De acordo com a CDL, os comerciantes amargaram perdas de cerca de 40% nas vendas da última semana. Na loja de utilidades domésticas em que Andréia Andrade da Silva é gerente, o fluxo de compradores diminuiu aproximadamente 80%. “Não tinha ninguém. Quem trabalhava no comércio até entrava, mas correndo e preocupado. Eles estavam inseguros, com medo de acontecer alguma coisa”.

Simone trabalha há 20 anos no comércio e diz que
as outras ondas de violência não impactaram nas
vendas (Foto: Janara Nicoletti/G1)
Nos dias em que o transporte público teve horário reduzido, o estabelecimento fechou às 18h, uma hora antes do normal. O mesmo ocorreu na loja de calçados gerenciada por Simone Neves Silva Maziero. Os 20 trabalhadores tiveram que sair às 18h, para não perder o ônibus.
“Na semana passada teve uma queda de 50%. Na manhã até era normal, mas depois das 14h, estava tudo parado. Às 18h, quando fechava a maioria do comércio, parecia dia de jogo da Copa, quando todo mundo ia junto e as ruas ficavam desertas”, recorda Simone. Ela, que trabalha há duas décadas na mesma rede, concorda com Aline com o fato desta onda de atentados parecer ter impactado mais no comércio. “Nos outros ataques não tiveram problemas. Neste ano foi pior, também porque o pessoal estava com medo”, conclui.

Andréia disse que loja que gerencia teve diminuição de 80% no movimento (Foto: Janara Nicoletti/G1)
Do G1 SC
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