Frieza, violência e depressão são consequência da pressão diária vivida pelos agentes

O fato de lidar a todo momento com o risco de morte é apenas uma das tensões que rondam a vida dos policiais. Para muitos deles, a possibilidade de que bandidos se vinguem em parentes os desestabiliza ainda mais emocionalmente. O soldado Gustavo Ferreira Vasconcelos, do 2º Batalhão da PM na capital, conta que, desde o começo dos ataques, trabalha o dia todo pensando no que pode estar acontecendo em sua casa.
— Não estou preocupado comigo. O medo é de vagabundo ver onde você mora. Eles sabem, sempre tem alguém te observando e podem pegar sua família, seus filhos. Eles são covardes, nunca vêm de frente.
Revolta, aliás, é outro sentimento que vem à tona quando os policiais falam dos ataques recentes . Para outro soldado, que trabalha há 13 anos na polícia e preferiu não se identificar, o dia a dia é ainda mais estressante porque a corporação não oferece recursos suficientes para enfrentar os criminosos.
— A responsabilidade é muito grande porque estamos trabalhando de mãos atadas. Os ladrões têm mais regalia que nós. Eles têm armamentos pesados, a gente tem só uma .40.
Conflito de emoções
Para a psicóloga Henriette Tognetti Penha Morato, professora do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), os reflexos dessa pressão nos policiais vão além do medo e da revolta.
— Não dá para padronizar porque a reação de cada pessoa varia de acordo com a individualidade. Mas claro que pegamos muitos casos de depressão e policiais com pensamentos suicidas. Essa tensão diária os leva a questionar o sentido da vida.
Henriette, que coordenou por oito anos (de 2000 a 2008) um projeto de atendimento psicológico a policiais militares, evita afirmar que o convívio com a violência possa levar os policiais a se tornarem agressivos também em casa. Porém, para a psicóloga Vivien Bonafer Ponzoni, pessoas que lidam por muitos anos com ações desse tipo tendem a ver a violência com mais naturalidade.
— Formar homens "durões" tem um preço para o indivíduo, que muitas vezes, deve "ajeitar" sua índole pacífica para adequar-se às expectativas e necessidades de suas funções.
— Formar homens "durões" tem um preço para o indivíduo, que muitas vezes, deve "ajeitar" sua índole pacífica para adequar-se às expectativas e necessidades de suas funções.
Para um segundo soldado, que também pediu para não ser identificado, a frieza foi o resultado do convívio com a violência por mais de 20 anos.
— Hoje, sou mais frio para tudo. Nossa emoção chega de zero a cem em segundos e, em cada um, isso reflete diferente. Uns ficam violentos e outros sem emoção nenhuma, como é meu caso.
Outro lado
Procurada pelo R7, a PM afirmou que reconhece os riscos que a profissão de policial envolve e diz que eles são assumidos pelos profissionais “no ato do ingresso na carreira”. Porém, rebate as críticas de que os agentes trabalham com equipamentos defasados e afirma que já saem da escola de formação com "seu colete balístico, sua algema, sua tonfa e sua pistola calibre .40". Ainda de acordo com nota da corporação, "o serviço de radiopatrulhamento prevê que as viaturas trabalhem integradas, com supervisão de escalões superiores”.
A corporação, entretanto, não respondeu à pergunta sobre o número de atendimentos psicológicos anuais dados aos policiais.
Érica Saboya, do R7
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