DEBATE ABERTO
Hoje, depois de 46 anos de domínio sarneysístico, o IDH do Maranhão é o segundo pior do Brasil. E o de São Luís, que alguns moradores bem-humorados chamam de Sarneylândia, está em vigésimo-primeiro lugar entre as capitais. Os nomes dos culpados estão espalhados pela cidade.
José Roberto Torero
Estes dias estava em São Luís e decidi correr um pouco pelas ruas da cidade. Seria mais uma batalha na luta contra meu próprio abdômen, que teima em não parar de crescer.
Mal dei meus primeiros passos e vi que pisava na avenida Presidente José Sarney. Para me livrar dos maus fluidos, entrei numa grande ponte que há por lá. Só então percebi que ela se chamava Governador José Sarney.
Uma mesma pessoa dando nome a dois logradouros? Seria um engano de placas? Quando voltei ao hotel, consultei o mapa da cidade e vi que, além do presidente e do governador, também o Senador José Sarney fora agraciado com o nome de uma avenida.
Decidi dar uma olhada na lista telefônica para verificar se havia outras homenagens. E havia. No total, a cidade tem uma ponte, três avenidas, duas ruas e uma travessa batizadas com o nome, digamos, artístico de José Ribamar Ferreira de Araújo Costa.
Trata-se de uma falta de classe inclassificável. Dar nome de vivos para ruas já é grosseria. Mas fazer isso várias vezes é de um mau gosto feroz, de uma breguice inacreditável. Um membro da Academia Brasileira de Letras deveria ter mais senso estético. Ou de ridículo.
Porém, virando as páginas da lista telefônica, percebi que José não era o único Sarney saudado pelos nobres edis. Havia também três ruas e uma travessa Marly Sarney, quatro ruas Sarney Filho, uma rua para o modesto Fernando Sarney e uma rua e uma travessa para Roseana.
Decidi dar uma busca na internet para ver se havia mais coisas com nomes Sarney pela cidade. E vi que o pobre ludovicense não tem como escapar. Ele nasce na maternidade Marly Sarney e depois vai estudar na escola Sarney Neto, ou na Roseana Sarney, talvez na Fernando Sarney, possivelmente na Marly Sarney ou, é claro, na José Sarney.
Para morar, pode escolher entre as vilas Sarney, Sarney Filho, Kyola Sarney (progenitora do ex-presidente) ou Roseana Sarney. Se passar mal, pode correr ao posto de saúde Marly Sarney. E, se sentir fome de saber, sempre há a Biblioteca José Sarney.
A oligarquia deixou seu nome por toda a cidade, assim como um fazendeiro marca seu gado com ferro em brasa.
Se o cidadão ficar indignado, há duas saídas: uma é a rodoviária Kyola Sarney. A outra é reclamar no fórum José Sarney, onde há a sala de imprensa Marly Sarney e a sala de defensoria pública Kyola Sarney.
Até pouco tempo atrás, o próprio tribunal de contas chamava-se Roseana Murad Sarney, numa clara demonstração de que não seria lá muito isento. Mas houve protesto e o nome foi retirado.
Aliás, o clã vem sofrendo derrotas. O próprio Sarney não se elegeu senador pelo Maranhão, mas pelo Amapá.
Hoje, depois de 46 anos de domínio sarneysístico, o IDH (índice de desenvolvimento humano) do Maranhão é o segundo pior do Brasil. E o de São Luís, que alguns moradores bem-humorados chamam de Sarneylândia, está em vigésimo-primeiro lugar entre as capitais.
Os nomes dos culpados estão espalhados pela cidade.
Mal dei meus primeiros passos e vi que pisava na avenida Presidente José Sarney. Para me livrar dos maus fluidos, entrei numa grande ponte que há por lá. Só então percebi que ela se chamava Governador José Sarney.
Uma mesma pessoa dando nome a dois logradouros? Seria um engano de placas? Quando voltei ao hotel, consultei o mapa da cidade e vi que, além do presidente e do governador, também o Senador José Sarney fora agraciado com o nome de uma avenida.
Decidi dar uma olhada na lista telefônica para verificar se havia outras homenagens. E havia. No total, a cidade tem uma ponte, três avenidas, duas ruas e uma travessa batizadas com o nome, digamos, artístico de José Ribamar Ferreira de Araújo Costa.
Trata-se de uma falta de classe inclassificável. Dar nome de vivos para ruas já é grosseria. Mas fazer isso várias vezes é de um mau gosto feroz, de uma breguice inacreditável. Um membro da Academia Brasileira de Letras deveria ter mais senso estético. Ou de ridículo.
Porém, virando as páginas da lista telefônica, percebi que José não era o único Sarney saudado pelos nobres edis. Havia também três ruas e uma travessa Marly Sarney, quatro ruas Sarney Filho, uma rua para o modesto Fernando Sarney e uma rua e uma travessa para Roseana.
Decidi dar uma busca na internet para ver se havia mais coisas com nomes Sarney pela cidade. E vi que o pobre ludovicense não tem como escapar. Ele nasce na maternidade Marly Sarney e depois vai estudar na escola Sarney Neto, ou na Roseana Sarney, talvez na Fernando Sarney, possivelmente na Marly Sarney ou, é claro, na José Sarney.
Para morar, pode escolher entre as vilas Sarney, Sarney Filho, Kyola Sarney (progenitora do ex-presidente) ou Roseana Sarney. Se passar mal, pode correr ao posto de saúde Marly Sarney. E, se sentir fome de saber, sempre há a Biblioteca José Sarney.
A oligarquia deixou seu nome por toda a cidade, assim como um fazendeiro marca seu gado com ferro em brasa.
Se o cidadão ficar indignado, há duas saídas: uma é a rodoviária Kyola Sarney. A outra é reclamar no fórum José Sarney, onde há a sala de imprensa Marly Sarney e a sala de defensoria pública Kyola Sarney.
Até pouco tempo atrás, o próprio tribunal de contas chamava-se Roseana Murad Sarney, numa clara demonstração de que não seria lá muito isento. Mas houve protesto e o nome foi retirado.
Aliás, o clã vem sofrendo derrotas. O próprio Sarney não se elegeu senador pelo Maranhão, mas pelo Amapá.
Hoje, depois de 46 anos de domínio sarneysístico, o IDH (índice de desenvolvimento humano) do Maranhão é o segundo pior do Brasil. E o de São Luís, que alguns moradores bem-humorados chamam de Sarneylândia, está em vigésimo-primeiro lugar entre as capitais.
Os nomes dos culpados estão espalhados pela cidade.
José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado.
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