Do Escrevinhador

O dia de Martin Luther King é comemorado na terceira segunda-feira de janeiro nos Estados Unidos. Lá ninguém tem dúvidas de que existe racismo. E de que ele precisa ser combatido: com políticas públicas, cotas e muita luta. Em 2014, a data caiu no dia 20, exatamente quando esta foto ganhou grande repercussão na internet:

Repare bem: uma mulher branca, sentada em cima de uma almofada, que tem como base um boneco de uma mulher negra seminua, de cócoras.

A mulher que está em cima é a ex-modelo Dasha Zhukova, mulher do magnata russo Roman Abramovich. Ele está na lista dos 100 empresários mais ricos do mundo. É dono do clube de futebol Chelsea, aquele que perdeu para o Corinthians na final do Mundial de Clubes.

O suporte que está embaixo seria uma “obra de arte” criada pelo artista pop britânico Allen Jones. A foto foi usada pelo site “Buro 24/7″ para ilustrar uma entrevista sobre a nova revista da ex-modelo, chamada “Garage”. Miroslava Duma, editora do site e famosa blogueira na Rússia, gostou tanto da foto que postou no próprio Instagram.

Diante da repercussão negativa na internet, ambas pediram desculpas… “Nós somos contra o racismo”, disse Duma. Será que durante a sessão de fotos não perceberam que havia algo de errado?

No Brasil, o diretor da Globo Ali Kamel (que se dedica a processar blogueiros críticos do jornalismo por ele praticado) é autor do patético “Não somos racistas”.

O livro tenta provar que não existe discriminação racial no Brasil – isso num país em que 300 anos de Escravidão deixaram legados como o elevador de serviço, o movimento contra “gente diferenciada” e a violência policial que atinge prioritariamente jovens negros.

Depois do impacto dos rolezinhos nos shoppings em São Paulo, a tese do grande pensador Ali Kamel talvez esteja um pouco desgastada…

“Não Somos Racistas”. Sei. Faltou combinar com os russos. Com Martin Luther King. E com os milhões de brasileiros que sofrem a discriminação e o racismo todos os dias.