O movimento foi tratado de forma discreta pela mídia tucana. Mas Miguel do Rosário deu o primeiro alerta: os tucanos amarelaram diante da possibilidade de um confronto aberto e total, que saia das redes sociais e ganhe as ruas nas próximas semanas
Reunidos em São Paulo, na última sexta-feira, os grão-tucanos (FHC, Aécio, Serra, Aloysio, Cunha Lima e Tasso Jereissati) decidiram que o partido não vai mergulhar de cabeça nas manifestações de rua para pedir o impeachment de Dilma. A avaliação do PSDB: o país está sobre um barril de pólvora, e os tucanos não ganhariam nada com a queda de Dilma (o poder provavelmente ficaria nas mãos do PMDB).
Eles são muito corajosos…
A decisão tucana vem logo depois de Lula dizer que vai pra rua enfrentar o golpe, com uma frase que não deixa margem a dúvidas: “Quero paz e Democracia. Mas se eles não querem, nós sabemos brigar também.” Lula deu o recado no Rio, na terça da semana passada, num ato em defesa da Petrobrás (leia mais aqui).
Os tucanos não pagaram pra ver. E a decisão já ecoa entre aqueles que colocam suas penas a serviço do PSDB na imprensa.
Na “Folha”, o colunista Demetrio Magnoli (ex-trotskista, hoje direitista assanhado), disse o óbvio nesse sábado: impeachment – sem provas – faria o Brasil virar “um imenso Paraguai”.
Hum…
É como se ele dissesse: “peraí, pessoal, sigamos a odiar o PT, mas não vamos fazer besteira se não queimamos o nosso filme”.
Um tal Igor Gielow, articulista do mesmo jornal, reclama de Lula. Diz que o petista resolveu “incitar as células dormentes do MST e da CUT” (ops, esse aí teve formação na escola Costa e Silva de jornalismo – “células dormentes”, ui!!), e afirma (zeloso em cuidar de Dilma): “tudo que o governo não precisa agora é disso”.
Não, Igor. De fato. O governo precisa só dos caminhoneiros democratas, do Ives Gandra e de colunistas espertos como você… A Dilma deve estar emocionada com a preocupação do Igor.
Ah, ele também reclama da “guerra cultural” promovida pelo petismo. Ahn?! Tudo que o PT não fez em 12 anos foi enfrentar a guerra cultural promovida pela direita midiática no Brasil. Talvez a guerra venha agora – com ou sem PT…
O Clube Militar (que reúne velhotes reacionários de pijama) também chiou. Disse que Lula assumiu postura de “um agitador de rua”. Sim, caros senhores da reserva, as ruas devem ficar abertas apenas para os golpistas. Agitação de rua é só pra incitar os tresloucados contra o PT. Isso mesmo.
Claro, a decisão do PSDB (amplificada por seus sócios na mídia) tem algo de malandra. Não se compromete com manifestações que podem degenerar em balbúrdia no dia 15. Mas também não acha ruim que elas prossigam…
Aliás, não pensem que os textos de colunistas e comentaristas chamando para certa “contenção” não fazem parte de um jogo combinado. Essa turma tem coordenação, tem agenda comum, decide temas a serem tocados.
A decisão agora parece ser: não vale a pena fazer o confronto total. Por vários motivos. Um é prático: nesse momento, não há qualquer garantia de que o confronto aberto favoreça o tucanato. Lula segue com muita força. Pode colocar mais gente na rua.
Além disso, a esquerda pós-petista mostra sinais de alguma força. O MTST colocou mais de 10 mil pessoas em frente ao Palácio dos Bandeirantes, para protestar contra falta de água. Cercou Alckmin.
No Paraná, o tucano Richa enfrenta uma sublevação popular.
Ou seja: o clima de esfola e mata insuflado por amplos setores midiáticos pode, sim, levar o governo Dilma e o PT de roldão. Mas não há garantia de que tucanos e seus governos estaduais não sejam levados juntos no redemoinho. A situação é confusa.
O fato é que a direita piscou. E não falo da direita levyana, instalada dentro do governo petista; mas da direita que (mesmo com os recuos de Dilma, e a aparente rendição a uma agenda liberal) quer esmagar o que sobrou do lulismo – porque teme que logo à frente ele possa se fortalecer de novo.
A direita piscou. Mas não significa que vá recuar. Ao contrário. Significa que ainda teme Lula. Por isso, estancou a ofensiva às portas de Leningrado. Até porque Lula prometeu um combate casa a casa, porta a porta (e os tucanos não são lá muito corajosos pra essas coisas, preferem terceirizar o golpe pela Globo/Veja).
Um movimento muito acintoso de golpe paraguaio, além de afundar o país numa crise gravíssima e arrastar governos do PSDB, poderia unificar a esquerda. Imaginem se a velha geração de Lula, Stédile (com a CUT e outros movimento sociais) conseguir unificar discurso e ações de rua com os novos movimento sociais?
Dilma e o PT já estão desgastados. Mas Lula mostrou as garras. Os próximos movimentos serão para emparedar o líder que assusta demétrios, aécios, mervais, marinhos e os velhotes do clube militar.
Lula foi às bases e, ao mesmo tempo, foi ao PMDB – que pode ser tudo, mas não é bobo a ponto de entregar o governo para os tucanos na hora em que o peemedebismo se torna cada vez mais poderosos no Congresso.
Lula faz o que Dilma deveria ter feito: usa a força que se move nas ruas para assustar o lado de lá, e assim negociar com o centro – numa posição de mais força (ou de menos fraqueza).
A direita piscou. Vai esperar o dia 13 (com a esquerda na rua), e o dia 15 (com os celerados golpistas na rua), para avaliar se é hora de avançar de novo as tropas. Ou de promover mais ataques de artilharia midiática contra Lula. E vai, sobretudo, esperar a lista de Janot e a CPI do HSBC.
Antes de brigar na rua, os tucanos precisam cuidar de contas e processos.
A fala de Lula significou algo parecido com a frase de Brizola em 1961: “dessa vez, não vão dar o golpe pelo telefone”.
Ou seja: se querem brincar de golpe, preparem-se. Não será um passeio na avenida Paulista.
The post A direita piscou: medo de Lula e do ronco das ruas? appeared first on Escrevinhador.