por Rodrigo Vianna
Ele trabalha desde muito jovem. Com 15 anos, já ajudava os pais em casa.
Casado, sem filhos, tem pouco mais de 30 anos e hoje vive no litoral paulista. Mas trabalha na capital. Sobe e desce a serra todos os dias: rotina pesada.
A família é de classe média baixa, o pai era contador.
Não vou dar o nome dele. Mas posso dizer que trabalhamos juntos. Na última terça, ao saber que me acompanharia na cobertura eleitoral, puxou papo sobre eleição, e confessou: “cara, até agora não sei em quem votar”.
As pesquisas indicam – mesmo – que ainda há cerca de 5% de indecisos. Um pouco menos, talvez. Numa eleição tão apertada, eles podem mudar o quadro nessa reta final, ajudando Aécio. Ou podem consolidar a vitória de Dilma.
Revelei a meu colega que votaria em Dilma. E ele: “mas o que me incomoda na Dilma são esses escândalos aí do PT.”
“Então você vai votar no Aécio?”.
Ele reage: “eu, não! Ouço falar que ele é da turma do FHC, outro dia vi os dois juntos; não confio nessa turma. Governam pros ricos, eu vejo que a vida de quem trabalha melhorou bastante desde que o Lula entrou. Sinto isso em casa.”
A conclusão: “você está mais propenso ao voto nulo, então?”.
“Não, anular eu acho besteira. Um dos dois vai ganhar. Eu estou indeciso, mas tendendo mais pra Dilma”.
Pausa.
Reparem que as pesquisas diziam – no início da semana – que a maior parte dos indecisos tendia mesmo para Dilma e não para Aécio.
Reparem também que o que impede o meu colega de uma decisão definitiva é a questão dos escândalos.
Por último, reparem que ele não é movido por ódio. Ele não odeia o PT, tem um certo pé atrás depois de tantas acusações. Mas não odeia. Talvez tenha mais ressalvas até ao PSDB.
Depois dessa conversa, pegamos avião, chegamos ao Rio, esticamos até Duque de Caxias. Lá, meu colega indeciso viu de perto o povão emocionado com Dilma na rua. Ouviu as pessoas, sentiu a rua. Trabalhou duro.
De noite, no hotel, seguia indeciso…
No dia seguinte, no café da manhã, soltou como quem não quer nada: “tomara que não pinte viagem a trabalho no domingo, porque eu não quero deixar de votar”.
“Uai, mas você nem sabe em quem votar?”
“Não, eu decidi de ontem pra hoje. Vou votar na Dilma mesmo”, diz ele, com um sorrisinho.
A declaração foi feita algumas horas antes de circularem as novas pesquisas que indicam liderança de Dilma com uma diferença entre 6 e 8 pontos.
Os indecisos, portanto, estão tomando sua decisão. Dilma parece estar ganhando esse jogo.
Depois das pesquisas, o desespero bateu no PSDB. E veio a última cartada tucana: o novo “escândalo” produzido pela mais irresponsável revista brasileira.
O escândalo de “Veja” – que ganhará espaços na Globo, e será exposto por Aécio no debate desta sexta – pode ter alguma influência eleitoral? Pode. Claro.
Mas o eleitor já vinha pesando as denúncias em seu voto.
Quem – depois do “Mensalão”, de Dirceu preso, de tanta pancada em Lula e Dilma – ficou com Dilma até aqui, dificilmente mudará o voto por conta de mais um escândalo pré-eleitoral.
A capa de “Veja” cheira a jogada eleitoral. A Globo – também – está por demais marcada como uma emissora comprometida com os poderosos.
O eleitor que prefere Dilma justamente porque ela “olha mais para os trabalhadores” não vai mudar agora – influenciado por um escândalo claramente produzido no campo inimigo.
Os campos estão bem demarcados. A eleição será apertada e dura até o fim. Mas a tendência de vitória de Dilma parece irreversível.
Por mas que berre a revista da marginal, e por mais que se esforcem os blogueiros atucanados, o eleitor tomou sua decisão.
E o meu colega indeciso consolidou seu voto. Em paz, sozinho, conversando e pesando tudo por conta própria.
Nisso, também, a campanha de Aécio parece ter perdido o timing. A ajuda de “Veja” deveria ter vindo uma semana antes.
Agora, é tarde. Perdeu, playboy.
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