Por Igor Felippe, no Escrevinhador
Os banqueiros ficam com 30% do orçamento do governo federal (clique aqui para saber mais), mas não querem a permanência de Dilma na presidência. Eles já ganham muito, mas querem mais.
O capital financeiro quer derrotar o projeto de desenvolvimento em curso. Se não conseguir, adapta-se e faz pressão para arrancar cada vez mais vantagens. E o governo tenta de todas as maneiras agradá-lo. Não aprendeu que são insaciáveis e, assim, fica refém daqueles que querem a sua derrota.
Abaixo, leia reportagem de Talita Moreira, no Valor Econômico.
Setor financeiro quer mudança no Planalto
A campanha eleitoral nem começou oficialmente, mas a alta esfera do mercado financeiro já tem seu cenário ideal. Não há uma inclinação clara por um candidato, mas, na visão de banqueiros e gestores de recursos ouvidos pelo Valor, o melhor dos mundos seria que a presidente Dilma Rousseff não se elegesse para um segundo mandato. No entanto, eles próprios consideram essa possibilidade muito remota.
Alguns têm simpatia pela dupla formada pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) e pela ex-senadora Marina Silva (PSB). Outros gostariam de ver Aécio Neves (PSDB) no Planalto. Porém, acima da preferência por um outro candidato, está o desejo de mudanças na condução da política econômica.
O que agrada ao mercado, sobretudo, são os nomes dos conselheiros econômicos por trás dos candidatos de oposição. Aécio conta com o apoio de peso do ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, sócio da Gávea Investimentos. Campos e Marina têm o respaldo do economista Eduardo Giannetti, também adepto de uma linha de pensamento pautada pelo controle da inflação, pela livre flutuação do câmbio e pelo controle fiscal – o chamado tripé macroeconômico. São questões que, na visão de fontes de instituições financeiras, foram deixadas de lado no governo atual.
Se não reverter esse quadro, Dilma chegará às eleições em uma situação bem diferente da enfrentada por Luiz Inácio Lula da Silva em 2006. Com a economia estabilizada e crescendo, o então presidente contava com o apoio do setor financeiro para se reeleger.
Segundo pesquisa divulgada no início de dezembro pelo Datafolha, a presidente tem 47% das intenções de voto em eventual disputa com Aécio e Campos, ou 42% se a candidata do PSB for Marina. Nos dois cenários, Dilma subiu em relação ao levantamento anterior.
“A reeleição já está no preço [dos ativos]. Qualquer outro que seja o vencedor levará a uma alta no mercado”, afirma um graduado banqueiro. O mesmo raciocínio é ouvido em algumas das principais instituições financeiras do país.
Segundo esse banqueiro, caso algum opositor mostre chance de ganhar ou de levar a decisão para o segundo turno, poderá haver no mercado um efeito parecido com o que se viu na eleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1994. Inicialmente, a euforia dos investidores levou a uma subida nos preços. Porém, em seguida, o mercado fez ajustes ao assimilar que o novo governo levaria um tempo para adotar as medidas prometidas.
Para parte do mercado, há outro temor no caso de algum candidato da oposição mostrar chances mais concretas de duelar com Dilma nos próximos meses. O receio é que o governo adote políticas de estímulo à atividade econômica que acentuem o desequilíbrio fiscal em busca de um cenário mais favorável à reeleição.
Não que haja algo especificamente contra Dilma ou o PT. O problema, dizem essas fontes, é que a condução da política econômica tem deixado a desejar. O temor é que o afrouxamento fiscal visto em 2013 se aprofunde num segundo mandato.
A preocupação com o futuro não é o único fator que desperta receio. Ainda está viva na memória dos banqueiros a cruzada promovida por Dilma em abril de 2012 contra os spreads, o ganho dos bancos nas operações de crédito. Meses depois, o governo ensaiou um movimento semelhante com as tarifas bancárias. Além da pressão política para que as instituições reduzissem as taxas cobradas, o governo mudou a concorrência ao usar os bancos públicos para puxar para baixo os juros de diversas linhas.
O clima, porém, já foi pior. Medidas recentes adotadas pelo governo com a promessa de controlar as contas públicas foram bem recebidas e poderiam reverter o cenário atual. Mas é preciso tempo para saber se houve, de fato, uma mudança de rumo ou se são ações pontuais, diz fonte de um banco.
Ao longo dos últimos dois meses, o Valor conversou sobre eleições com duas dezenas de executivos de algumas das principais instituições financeiras do país. Todos falaram sob a condição de que seus nomes não fossem revelados.
Em alguns casos, há uma simpatia mais clara pela aliança Campos/Marina, que representaria uma fonte de renovação para a política. Foram muito bem recebidas, no ano passado, declarações dadas por eles na defesa de uma política fiscal mais austera. Para esses interlocutores, faltaria a Aécio Neves o fator “novidade”. Na opinião de um banqueiro, o PSDB não soube renovar seu projeto político e faltaria carisma ao candidato tucano.
Outra frente, no entanto, prefere Aécio justamente por representar um nome mais consolidado entre os eleitores e um projeto sem grandes surpresas. Quem defende essa linha de raciocínio acha que falta a Eduardo Campos se tornar mais conhecido. “Ele tem feito um bom trabalho em Pernambuco, mas ninguém o conhece muito bem”, observa um executivo.
Na tentativa de ganhar mais trânsito entre as instituições financeiras, Campos e Marina têm feito um périplo nos bancos. E com isso têm conquistado alguns adeptos. Recentemente, Campos propôs um encontro com executivos de bancos médios, onde há uma preferência por Aécio. Depois da reunião, realizada na sede da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), alguns banqueiros diziam ter mudado seu voto para Campos.
Ao menos por enquanto, as instituições financeiras têm evitado adotar posições claras. Além de o cenário mais provável ser a reeleição, não é praxe entre os bancos apoiar abertamente um candidato. “De forma bem pragmática, o melhor sempre é apoiar quem está no poder”, diz um vice-presidente de um banco. Por isso, a cautela na hora de apoiar nomes específicos.
O que as instituições têm feito é promover encontros com os principais candidatos e com integrantes da equipe econômica de Dilma para ouvi-los e conhecer melhor suas propostas.
O Credit Suisse e o Itaú BBA são dois dos bancos que têm promovido palestras dos candidatos para grandes clientes. Em outubro, Aécio se apresentou em um evento realizado pelo BTG Pactual em Nova York com investidores e executivos de empresas. No mês seguinte, Campos esteve em um jantar promovido por José Berenguer, presidente do J.P. Morgan.
Em outubro, uma palestra de Marina no Credit Suisse colocou abertamente no cenário eleitoral o debate sobre os rumos da política econômica. A ex-senadora deixou boa impressão nos convidados ao fazer uma defesa veemente do tripé macroeconômico. Na semana anterior, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, também havia feito uma apresentação nesse ciclo de debates do banco suíço.
Para um gestor de recursos, o debate é positivo porque pode, inclusive, levar Dilma a adotar uma política fiscal mais conservadora.
A interlocução com candidatos de vários matizes e a preferência por não manifestar apoios explícitos têm sido a tônica das instituições financeiras nas eleições mais recentes.
Nem sempre foi assim. Mais de uma década atrás, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) chegou a ter uma postura mais política. Trabalhava para a entidade, por exemplo, o consultor político Ney Figueiredo, fundador do Centro de Pesquisas de Opinião Pública da Unicamp.
Desde que a Febraban passou a contar com a presença dos bancos públicos na sua diretoria, deixou de fazer sentido para a entidade levantar qualquer tipo de debate político. Agora, os bancos adotam posturas mais individuais. (Colaborou Carolina Mandl)
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