Por 3 votos a 2, STF manda Curitiba soltar Dirceu. Decisão mostra que Moro age como juiz fora da lei: prende blogueiros de quem não gosta, usa conduções coercitivas contra desafetos, divulga áudios de maneira seletiva e mantem presos aqueles de quem não gosta. Dellagnol, procurador aliado a Moro, tentou encurralar STF. E levou uma reprimenda de Gilmar Mendes: “brincadeira juvenil”.
por Rodrigo Vianna
Os primeiros sinais foram notados em fevereiro, no velório de Dona Marisa. Reportagem da revista Brasileiros (clique aqui para ler) foi a primeira a captar o movimento que aproximou tucanos (aí incluído o ministro do STF Gilmar Mendes) e Lula – para conter os abusos judiciais.
No início de abril, escrevemos aqui no Escrevinhador que o sistema político (ou parte dele) dava sinais de que aceitaria a liderança inevitável de Lula para conter as arbitrariedades do juiz Moro e da chamada Operação Lava-Jato: Lula é a estabilidade possível contra o caos dos camisas negras.
A movimentação de Nelson Jobim (jurista, ex-parlamentar do PMDB, que foi ministro de Lula e FHC) indicando o absurdo de se impedir Lula de ser candidato, e os textos do blogueiro Reinaldo Azevedo, com críticas às arbitrariedades e ao partidarismo do juiz de camisas negras, vocalizavam já as críticas feitas por Gilmar Mendes e pelo ex-presidente FHC. Claro, há um oportunismo evidente nessa onda tucana contra a Lava-Jato. Ela chega na hora em que o PSDB naufraga melancolicamente… E se afoga no golpe parlamentar-jurídico-midiático que ajudou a fomentar.
A operação paranaense transformou os tucanos em passageiros da agonia, num trem fantasma que pensavam dirigir. Foi impossível esconder que Aécio, Alckmin, Serra e Aloysio utilizavam os mesmos mecanismos de Caixa 2 atribuídos a um esquema criminoso que teria sido “inventado e comandado por Lula”.
Tornou-se absurdo sustentar que Lula seria o chefe de uma “organização criminosa” (como indicava o lamentável powerpoint do juvenil Dellagnol) que beneficiaria também os principais adversários dele!! Não há sentido nisso…
As pesquisas mostram que a ficha caiu entre o povão. Atribuir ao PT, e apenas ao PT, práticas de Caixa 2 que são praxe desde a ditadura, tornou-se impossível. E Lula virou favorito para 2018, secundado pelo fascista Bolsonaro, e pelo quase-fascista Dória.
O PSDB, que deu o golpe imaginando que empunharia o poder, vê a sociedade se polarizando entre Lula e a extrema-direita. A Lava-Jato levou o país a este impasse: é uma operação partidarizada, que foi utilizada de forma ilegal para derrubar Dilma (lembremos os áudios ilegais da então presidenta, divulgados pelo juiz das camisas negras). Mas que tem como objetivo implodir a Democracia de 88.
A decisão de hoje do STF, mandando Moro soltar Zé Dirceu, é um golpe duro nas pretensões dos moços de Curitiba. Ainda mais porque a decisão veio com o voto decisivo de Gilmar Mendes. Por 3 x 2, o STF deu uma dura reprimenda no juiz de primeira instância.
O ministro Gilmar Mendes, alinhado ao tucanato, deu uma surra de marmelo nos meninotes do Paraná. O MPF de Dellagnol tentara encurralar o STF, apresentando nova “denúncia “contra Dirceu bem no dia do julgamento do habeas corpus que pedia a soltura do petista. O procurador admitiu que fez a nova “denúncia” aproveitando a “oportunidade” do julgamento do HC de Dirceu.
Gilmar Mendes qualificou a manobra do MPF de “brincadeira juvenil”. E deixou claro que Moro abusa das prisões preventivas de maneira ilegal.
Caiu a máscara.
Ressalte-se: Dirceu havia sido condenado pelo Mensalão, e cumprira a pena. Estava prestes a ser solto, quando Moro mandou encarcerá-lo ainda antes de julgamento no âmbito da Lava-Jato. Depois, Moro condenou Dirceu em duas ações – sob os moldes curitibanos. Acontece que cabe recurso. Por isso, o ex-ministro era mantido na cadeia com base não nas sentenças de Moro, mas em prisão preventiva!
Era um abuso! Tratava-se claramente de prisão política, determinada por um juiz que atua de forma partidarizada e ilegal.
A decisão do STF é uma derrota dolorosa para o juiz de camisas negras.
Moro age como um magistrado fora da lei, que prende blogueiros de quem não gosta, usa conduções coercitivas contra desafetos, divulga áudios de maneira seletiva e mantem presos aqueles de quem não gosta.
No Brasil do golpe, existem hoje três forças políticas:
1 – a esquerda, com movimentos sociais, PT, PCdoB, PDT, Lula, Ciro, Requião, Dilma e a massa de trabalhadores que se opõem ao desmonte social;2
2 – a direita liberal, com PSDB, Gilmar, FHC e os tucanos enrolados na Lava-Jato;
3 – a direita extremada, de tons fascistas, que se insurge contra a política e apóia saídas autoritárias, sejam prisões ilegais de Moro ou discursos racistas de Bolsonaro.
Tucanos e seus aliados, no campo 2, já perceberam que precisam de alguma forma se aliar ao campo 1, se quiserem conter a fúria do campo 3.
A decisão de hoje no STF mostra que essa aliança tática tem força. Como já se demonstrou com a aprovação do projeto contra o abuso de autoridade no Senado.
O partido da Justiça, com apoio midiático (Globo no comando) quer prender ou inabilitar Lula – por isso apóia as arbitrariedades de Moro.
Para a Globo, era fundamental manter os campos 2 e 3 unidos. Foi isso que garantiu o golpe parlamentar contra Dilma. Essa aliança mostra agora fissuras.
Moro vai contra-atacar, não resta dúvida. Enquanto tiver apoio da Globo e de Washington, seguirá na batida, testando os limites da legalidade já rompida. Mas a derrota no STF foi doída, ainda mais porque vem às vésperas do confronto com Lula, dia 10, em Curitiba.
Vamos ver se o juiz de voz fina falará grosso com Lula, ou vai se acovardar – agora que percebe a possibilidade de ser admoestado pelo STF quando comete seguidas ilegalidades.
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