por Rodrigo Vianna
“Se a oposição avaliar que Joaquim Barbosa pode ser importante para provocar um segundo turno na eleição presidencial, ele poderá sair sim candidato”, avalia o professor Wagner Iglecias (USP). Doutor em Sociologia, ele integra o PROLAM (Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina) na Universidade de São Paulo.
A pedido do Escrevinhador, Iglecias avaliou os números da última pesquisa CNT – que indicam Dilma com 44% das intenções de voto. Iglecias considera que os governistas se precipitam ao tomar esses números como indicativo de eleição já definida. Lembra também que a maior parte do eleitorado (ao contrário da eleição de 2010, por exemplo) quer mudança, e não continuidade. ”Uma parcela expressiva da população parece querer mudar “o” governo, mas não mudar “de” governo.” Ou seja, Dilma precisa mudar. Se ficar como está, pode ser surpreendida – sim - durante a campanha.
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1) Os governistas comemoraram muito a última pesquisa CNT. Nela, Dilma aparece com 44%, contra 17% para Aécio e 10% para Eduardo (em números redondos). Acha que há motivo mesmo para tanto otimismo?
(Wagner Iglecias) – Acho que é necessário ter cautela. As pesquisas nesse momento indicam, sim, que há uma parcela da sociedade bastante satisfeita com Dilma, sobretudo os setores mais populares. Mas as pesquisas neste momento precisam ser analisadas à luz do grau de conhecimento que as pessoas têm de cada candidato. E Dilma e Marina, que aparece inclusive melhor colocada que Aécio e Campos, são mais conhecidas da população do que estes últimos. Na medida em que a campanha evoluir, sobretudo depois do meio do ano, pode ser que esses números que as pesquisas trazem hoje mudem um pouco..
2) Curioso é que Dilma ganharia no primeiro turno, pela CNT. Mas ao mesmo tempo 37% dos brasileiros defendem que se mude totalmente a forma de governar. O que isso indica?
- Uma parcela expressiva da população parece querer mudar “o” governo, mas não mudar “de” governo. Isso sugere que é gente que ainda espera de Dilma medidas que dêem continuidade às melhorias que boa parte da população conheceu durante os anos Lula. E não me refiro, aqui, somente aos mais pobres, beneficiários do Bolsa Família etc. Você vê empresários de grande porte contrariados com o momento atual da economia e que aprovavam o governo Lula.
Além disso, deve haver nesse alto percentual dos que querem mudanças, mas não necessariamente mudança “de” governo, gente que traz na memória os anos do governo Fernando Henrique e provavelmente não queira aquele modelo de volta.
3) O governo parece ter perdido feio a batalha da Copa: 75% dos entrevistados consideram que foram investimentos desnecessários. Em compensação, a maior parte está otimista com a economia: acha que emprego e renda vão melhorar nos próximos 6 meses. As previsões catastrofistas da imprensa não chegam ao brasileiro médio?
- Sim, o governo perdeu a batalha da Copa. A maioria está convencida de que os gastos com estádios foram exagerados e desnecessários. Mas o que mais pesa neste caso é a questão das obras de mobilidade, prometidas lá atrás pelo governo federal e pelos governos estaduais e até o momento, em grande medida, muito atrasadas..
Às vezes, ao se ler previsões econômicas da grande imprensa, é difícil não lembrar daquilo que a empresária Luiza Trajano disse ao articulista do Manhattan Connection: a síndrome do copo meio vazio. É claro que muitas matérias que vemos na imprensa sobre economia apontam para problemas relevantes da economia e questões espinhosas da política econômica. Mas também é claro que a população, sobretudo a massa, hoje em dia tem mais emprego, come melhor, mora melhor e consome mais que há 10 anos. E enquanto essa situação perdurar, por mais que haja previsões catastrofistas, o governo terá alto índice de aprovação na sociedade.
4) Haveria espaço para uma nova candidatura a presidente? Joaquim Barbosa tem chance no quadro atual ou deve sair mesmo ao Senado?
- Olha, o momento atual está parecendo os 15 primeiros minutos de Fla x Flu ou Corinthians x São Paulo. Como dizem os locutores esportivos, “os times estão se estudando”. A rigor, a rigor, qual candidatura presidencial estaria plenamente confirmada hoje? Não pergunto daqui a um mês, pergunto hoje. Acho que se a oposição avaliar que Joaquim pode ser importante para provocar um segundo turno na eleição presidencial, ele poderá sair sim candidato. Os partidos fazem pesquisas o tempo todo, estão monitorando os humores da população em relação à eleição, e as definições devem sair aos 45 do segundo tempo, no que diz respeito ao prazo que a legislação dá para que os candidatos sejam lançados..
5) O que esperar de um eventual segundo segundo governo Dilma. Lula fez um segundo mandato melhor que o primeiro. Elegeu Dilma. Ela tem o que pra mostrar na reeleição?
Eu não daria como certo por enquanto um segundo mandato de Dilma. Vamos ver como se desenrolam os próximos meses. Sobre o que ela tem a apresentar para se reeleger? Alguns programas que têm forte impacto social e de imagem, como o Brasil Carinhoso, o Mais Médicos e Pronatec. Além disso, ela provavelmente vai mostrar conquistas como o recorde histórico do nível de emprego, a ampliação do número de beneficiados pelo Bolsa Família e pelo Minha Casa Minha Vida. Mas apanhará muito da oposição em diversas frentes, como o baixo crescimento econômico, a questão da Copa do Mundo, as questões ambiental, agrária, indígena, as alianças com setores conservadores contrários à expansão dos direitos civis etc.
6) PMDB pode rachar com Dilma? Ou está só no velho jogo de vender caro o apoio. Há gente, até dentro do PT, que considere sim a hipótese de um racha…
- É difícil cravar algo com certeza absoluta neste momento. É óbvio que todas as candidaturas gostariam de ter o apoio do PMDB, tanto pelo futuro apoio no Congresso, já que o PMDB tem muita capilaridade no país e elege muitos deputados e senadores, quanto e sobretudo pelo tempo de tv que o PMDB agrega no horário eleitoral gratuito àqueles a quem apoia. De fato há questões problemáticas na relação PT / PMDB, como o caso da ruptura da aliança dos dois partidos no Rio de Janeiro. Mas em São Paulo o candidato Paulo Skaff não parece ser exatamente um adversário do governo Dilma. Se tivesse de apostar eu diria que no momento essas rusgas entre o PMDB e o governo Dilma parecem mais brigas de casal do que efetivo divórcio.
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