Por Gabriela Valente, em O Globo
Os juros cobrados das famílias brasileiras pelos bancos quebraram novo recorde. De acordo com os dados divulgados nesta segunda-feira pelo Banco Central, a média do custo financeiro de empréstimos com recursos livres (os que as instituições financeiras têm liberdade para escolher como emprestar) subiu de 44% ao ano para 44,2% ao ano em novembro. É o maior já visto desde quando o BC passou a registrar os dados em 2011.
A taxa que deu o maior salto foi a do cheque especial: passou de 187,8% ao ano para nada menos que 191,6% ao ano no mês passado. É a mais alta dos últimos 15 anos. Em média, os bancos 103,7% ao ano em empréstimos de crédito pessoal como, por exemplos, os CDCs. É a maior taxa já registrada desde 2011, quando o Banco Central passou a armazenar os dados sobre esse tipo de operação.
Até mesmo o crédito consignado – com menor risco de calote para os bancos porque o descontos das parcelas já é feito no contracheque do cliente – ficou mais caro. Subiu de 25,5% ao ano para 26,1% ao ano.
A tendência é que esses empréstimos fique cada vez mais salgados. É que o Banco Central iniciou um processo de alta da taxa básica de juros (Selic), em outubro, para conter o consumo e tentar domar a inflação. Como essa taxa é referencia para o custo do dinheiro no mercado financeiro, quando ela aumenta, os empréstimos ficam mais caros.
De outubro até agora, a Selic passou de 11% ao ano para 11,75% ao ano. E a tendência é continuar o aperto monetário. Mesmo assim, o BC manteve a previsão de crescimento do crédito no Brasil de 12% neste ano. E aposta no mesmo ritmo de expansão no ano que vem por mais que os economistas do mercado financeiro prevejam um cenário pior para o desempenho.
Por mais que o ritmo de crescimento do crédito no país seja o mesmo em 2015, o Banco Central projeta mudanças na concessão de empréstimos. Em 2014, por exemplo, os bancos públicos devem aumentar suas carteiras em 17%, mas no ano que vem esse número deve ser de apenas 14%.
São as instituições públicas as grandes responsáveis pelo aumento do crédito no Brasil desde a grande crise financeira de 2009. Já os bancos privados nacionais devem ampliar os empréstimos em apenas 5% neste ano. Essa projeção foi revisada para baixo pelo BC. Era de 6%. A autoridade monetária, entretanto, aposta num desempenho mais otimista em 2015: alta de 9%.
Os bancos estrangeiros devem expandir o crédito em 7% neste ano. Antes, a previsão era aumentar a carteira em 9%. Em 2015, a projeção também é crescer 7%.
‘BOOM’ DE FINANCIAMENTOS
Ao todo, o crédito deve representar 58% do Produto Interno Bruto (PIB, todos os serviços e produtos produzidos no Brasil em um ano). A expectativa do BC é que isso chegue a 61% do PIB no ano que vem.
— A base de comparação o crescimento mais contido neste ano favorece o crescimento em termos estatísticos no ano que vem — afirmou o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel.
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Na avaliação do Banco Central, depois de um boom de financiamentos no Brasil, ele cresce de forma mais sustentável. Para Maciel, o destaque do mercado de crédito é a manutenção de níveis baixos de inadimplência ao longo de 2014.
— Um aspecto que me parece relevante foi o comportamento da inadimplência. Uma alta era esperada e isso não se concretizou. Isso reflete uma série de fatores, entre eles, os impactos da educação financeira nos últimos anos — sublinhou Maciel. — Entramos em 2014, olhando a inadimplência com cautela e ela continuou em patamares baixos.
Ao considerar créditos livres e direcionados, a inadimplência da pessoa física está em 1,7%. Já a de pessoas jurídicas ficou em 0,5% em novembro.
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