“Em dezembro de 2012, quando Capriles ganhou a eleição pelo governo do Estado de Miranda, por uma diferença de somente 45 mil votos, a segurança do processo nunca foi posta em dúvida.”
por Maximilien Arveláiz, embaixador da República Bolivariana da Venezuela no Brasil
Os acontecimentos violentos que sucederam a vitória de Nicolás Maduro na Venezuela são reveladores do comportamento intransigente e oportunista de uma elite saudosista do tempo em que era dona absoluta do petróleo e obediente às ingerências dos Estados Unidos.
Incapaz de fazer qualquer concessão aos trabalhadores, essa elite organizou várias tentativas de desestabilização desde que Hugo Chávez chegou ao poder.
A onda de violência que resultou na morte de nove pessoas (todas apoiadoras do governo), após o pleito de 14 de abril, soma-se a uma coleção de práticas autoritárias da direita. O Henrique Capriles que hoje incita a população a realizar protestos violentos e insiste em não aceitar a derrota é o mesmo que participou ativamente do golpe de Estado contra Chávez em 2002, invadindo a embaixada cubana e prendendo um ministro ilegalmente.
Do mesmo modo, os deputados oposicionistas da Assembleia Nacional que hoje não reconhecem Nicolás Maduro como presidente e tumultuam as sessões do plenário são os mesmos que apoiaram a greve patronal da PDVSA e que boicotaram as eleições de 2005.
A oposição recorre a mecanismos desesperados e nada democráticos porque não consegue vencer por meio da lei. Bem que tentou. Em 2004, convocou um referendo revogatório para perguntar à população se Chávez deveria ser retirado da presidência, mas saiu derrotada.
Aqui vale uma observação. Por obra do próprio Chávez, a “ditadura” na Venezuela prevê, como um direito constitucional, a convocação de um referendo revogatório no terceiro ano do mandato do presidente, desde que se recolham as assinaturas necessárias.
Mas o que mais soa incoerente e oportunista é o fato de questionarem a lisura do processo eleitoral que levou Maduro à Presidência.
Em dezembro de 2012, quando Capriles ganhou a eleição pelo governo do Estado de Miranda, por uma diferença de somente 45 mil votos, a segurança do processo nunca foi posta em dúvida. Tal eleição foi organizada pelo mesmo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), presidido pela mesma pessoa, utilizando-se do mesmo sistema de votação do último pleito. Também não detectaram nenhuma fraude nas eleições primárias organizadas pelo CNE que escolheram Capriles como candidato oficial da oposição.
Por que questionam agora algo que nunca questionaram antes, principalmente quando obtiveram resultados positivos nas urnas? Gostaria de ver essa pergunta sendo feita pelos mesmos analistas da mídia que insistem em taxar de autoritário o governo da Venezuela.
Ao não reconhecer o resultado da eleição, a oposição pretende desintegrar as instituições democráticas que a revolução bolivariana construiu, desgastando um governo que quer trabalhar para aprofundar o processo de mudanças em curso e avançar na resolução dos problemas que ainda afligem a população.
Se observarmos a estratégia adotada pela direita nas últimas campanhas eleitorais, fica ainda mais fácil detectar o oportunismo. Aproveitando-se da fragilidade causada pela doença e pela morte prematura do presidente Chávez, Capriles centrou sua campanha no reconhecimento dos benefícios das missões sociais do governo, prometendo incrementá-las. Tão logo terminou o pleito, foi desmascarado pelos atos violentos que incentivou ao não aceitar a derrota.
Nicolás Maduro é fruto da história recente do nosso país. Conhece muito bem a herança violenta da direita que, desde o Caracazo, recorre à repressão contra a população que luta por melhores condições.
Para que cesse a violência, o presidente está instituindo o que chama de “governo de rua”, fazendo o debate das ideias com o povo organizado, em busca da paz, da união dos venezuelanos, da independência e da preservação do legado de Chávez. Que nos deixem trabalhar.
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