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Rodrigo Vianna

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Palavras, palavras, palavras…

5 de Julho de 2012, 21:00 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Por Izaías Almada

Naquela que é, talvez, uma de suas peças mais estudadas, comentadas e encenadas, a tragédia de “Hamlet”, o dramaturgo William Shakespeare descreve em cena do Segundo Ato, a conversa entre Polônio, pai de Ofélia e o próprio protagonista, que caminha fingindo ler um livro. Perguntado sobre o que está lendo, Hamlet, no seu exercício de dissimulada loucura responde: “Palavras, palavras, palavras, nada mais que palavras…”.

Sem fingir loucura, mesmo porque ela parece se insinuar cada vez mais em cada esquina das cidades em que vivemos, nos parlamentos, na imprensa e nos tribunais de justiça, peço licença ao mestre inglês para usar a sua frase e com ela tentar configurar alguns indícios das pequenas tragédias dos nossos dias:

01 – O senador Demóstenes Torres faz um discurso para um plenário vazio de homens e de ideias: palavras, palavras, palavras…

02 – as convenções partidárias homologam seus candidatos de olho no butim: palavras, palavras, palavras…

03 – Constituída a CPI da Privataria Tucana e…: palavras, palavras, palavras… Nada mais que palavras…

04 – Revolta e resistência em sites, blogues e reuniões ao golpe que destituiu Lugo no Paraguai: palavras, palavras, palavras…

05 – Outro mundo é possível, ouve-se dizer há alguns anos: palavras, palavras, palavras…

06 – A CPMI Veja/Cachoeira/Demóstenes avança em perguntas e recua em alguns silêncios: palavras, palavras, palavras…

07 – Nova Lei de Meios no Brasil ganha grandes promessas e muitas gavetas: palavras, palavras, palavras…

08 – A tortura é crime imprescritível. A Comissão da Verdade não tem poder de punir, portanto: palavras, palavras, palavras…

09 – Por vezes o realismo político exige alianças espúrias… E daí? Palavras, palavras, palavras…

10 – Não há mais clima para golpes de estado no Brasil: palavras, palavras, palavras…

11 – Honduras, Colômbia, Chile, México, Paraguai: palavras, palavras, palavras…

12 – Precisamos mudar São Paulo: palavras, palavras, palavras…

13 – A Veja continua a mentir, A Folha continua a mentir, a Globo continua a mentir e nós não fazemos nada, ou melhor: palavras, palavras, palavras, nada mais que palavras…

14 – Eu escrevo esse artigo e leio outros artigos: palavras, palavras, palavras…

15 – Comentários nesse e em outros blogs, favoráveis ou contrários: palavras, palavras, palavras…

16 – Enquanto a direita age, a esquerda discute: palavras, palavras, palavras…

Fico com a sensação de que se o protesto digital substituir de vez o protesto das ruas, o capitalismo – seja ele selvagem ou civilizado, progressista ou conservador, ortodoxo ou heterodoxo – por pior que seja, ainda nadará de braçada por muitos e muitos anos.

“O resto”, ainda fazendo minhas as palavras de Hamlet, “o resto é silêncio…”.
Izaías Almada é escritor, dramaturgo e roteirista cinematográfico, É autor, entre outros, dos livros “Teatro de Arena, uma estética de resistência”, da Boitempo Editorial e “Venezuela, povo e Forças Armadas”, Editora Caros Amigos.


Fonte: http://www.rodrigovianna.com.br/colunas/reflexoes/palavras-palavras-palavras.html

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