Durante o feriado, um dos articuladores políticos de Dilma ligou para Picciani e avisou: se o PMDB do Rio decidir mesmo sair do governo Dilma, o PT fará o mesmo na capital fluminense. O PT romperia a aliança com Eduardo Paes. E poderia fazer um movimento inusitado: apoiar Marcelo Crivella para a prefeitura, e de quebra receberia os votos do PRB para barrar o impeachment.
por Rodrigo Vianna
A velha imprensa, que apoiou o golpe de 64 e quer derrubar Dilma, está empenhada numa dupla tarefa nos últimos dias: criar um clima de “inevitabilidade” do impeachment (ou “estouro da boiada” na base aliada); negar que o impeachment (na forma em que está sendo feito) é um golpe.
O segundo ponto mostra que a Globo e seus parceiros de segunda linha estão incomodados com a pecha que lhes é atribuída: são, sim, parceiros numa tentativa de golpe. Mas não é isso que nos interessa tratar aqui.
A eventual saída do PMDB do governo (que será votada até amanhã) está longe de decidir a questão na Câmara. Por que digo isso?
Este blogueiro recebeu a informação de que, durante o feriado de Páscoa, um dos articuladores políticos de Dilma ligou para Jorge Picciani (PMDB) e avisou: se o PMDB do Rio decidir sair do governo Dilma, fortalecendo o impeachment, o PT fará o mesmo na capital fluminense.
O PT carioca romperia a aliança com Eduardo Paes. E mais que isso: ao invés de apoiar Marcelo Freixo (PSOL) numa frente de esquerda, ou mesmo lançar candidatura própria, o PT poderia fazer um movimento inusitado: apoiar Marcelo Crivella (PRB).
Crivella, um senador conservador nos aspectos morais, mas decididamente avançado no debate da economia (votou com a esquerda, contra a entrega do Pré-Sal) e nas questões sociais, tem recebido grandes votações para cargos majoritários no Rio. Mas sempre “bate na trave”.
O apoio do PT a Crivella daria mais tempo de TV ao candidato do PRB, colocaria em apuros o candidato apoiado por Paes (Pedro Paulo), e de quebra ajudaria a colocar contra o impeachment a bancada de 24 deputados do PRB.
Esse movimento do Palácio do Planalto talvez explique por que o partido de Crivella ameaçou romper com Dilma, mas depois recuou para uma posição de “independência” – mantendo cargos no governo federal.
Uma eventual aliança com o PRB no Rio compensaria, na votação do impeachment, os votos que o PMDB do Rio ameaça tirar de Dilma.
Esse movimento mostra como é precipitada a ideia de que “se o PMDB sair do governo, o impeachment não tem volta”.
Políticos experientes, como Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), que está na oposição ao PT, declaram que a oposição não tem os votos para derrubar Dilma com um golpe.
Lembremos: o governo conta com uma base sólida de aproximadamente 120 votos (PT, PCdoB, PSOL, PDT, Rede, além de deputados avulsos que está em pequenas legendas).
Mesmo com o rompimento do PMDB de Temer, não é impossível que o governo consiga 10 ou 15 votos peemedebistas (numa bancada de 60). Fora isso, poderia obter mais 20 ou 30 votos nas legendas de centro-direita: PR,PP, PSD, PTB (especialmente entre deputados do Norte/Nordeste).
Só nessa conta, o governo chegaria perto de 160 votos. Dilma precisa de 172 deputadosos pra barrar o impeachment? Sim. Mas atenção: a oposição é que precisa botar em plenário 342 votos pelo “SIM” ao golpe.
Se Dilma tiver, digamos 160 votos pelo “Não”, e a oposição reunir 320 pelo “Sim”, basta que 33 parlamentares se ausentem, e o impeachment estará derrotado. Digamos que o PRB acerte uma posição de neutralidade e se ausente do plenário. Só isso já seria um baque gigantesco para as pretensões golpistas.
A favor de Dilma contarão os votos “não” e também as ausências e abstenções. Isso se chegarmos ao voto, porque o STF pode interromper a ilegalidade comandada pelo réu Eduardo Cunha.
Portanto, calma. Muita calma nessa hora.
Fica cada vez mais claro que o impeachment é um golpe paulista (Serra/Temer), e que fora da elite paulista há muita gente que até não gosta de Dilma, mas que também não está disposta a embarcar numa aventura golpista.
O caso do Rio de Janeiro pode fazer com que muita gente no PMDB perceba que trocar o certo (Dilma, eleita pelo povo) pelo duvidoso (Temer, um vice com pecha de golpista) é uma aventura perigosa para o país, e inútil do ponto de vista eleitoral.
Quem entende de política (Ibsen Pinheiro era o presidente da Câmara no impeachment de Collor em 1992) dá seu veredito: a votação será apertada, mas o impeachment não passa. Mesmo que o PMDB saia do governo.
Por último, duas observações:
- o eventual apoio a Crivella pode ajudar a salvar o mandato de Dilma, mas sepultará o PT como força de esquerda no Rio;
- se o PMDB de Paes insistir no golpe, pode assistir ao desembarque no Rio, em plena Olimpíada, de milhares de manifestantes ligados a movimentos sociais anti-golpe. O Rio olímpico seria palco de protestos e denúncias contra o golpe. Paes provavelmente não quer estragar assim a festa que preparou com tanto zelo durante anos.
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