Por Carlos Bandeira
Os dirigentes dos sindicatos, movimentos populares e organizações de juventude se reuniram em Belo Horizonte, nesta quarta-feira, na seção mineira da Plenária dos Movimentos Sociais, sob o impacto do discurso do ex-presidente Lula, em São Paulo.
A estrela da plenária foi o líder do MST, João Pedro Stedile, que empolgou a militância ao conclamar a continuidade das lutas das forças progressistas em defesa da democracia, de acordo com relatos dos participantes, a partir de uma plataforma que congrega cobranças ao governo Dilma e o enfrentamento à ofensiva dos setores conservadores.
Assim, ele demarcou com a linha de Lula, que colocou a centralidade na defesa intransigente do governo Dilma, frustrando a militância. Stedile disse em alto e bom som: “Não podemos ficar ao lado do ajuste fiscal. Nosso compromisso é com o povo, contra o Joaquim Levy [ministro da Fazenda]”.
A plataforma para as lutas sociais apresentada pelo dirigente do MST tem a defesa intransigente dos direitos dos trabalhadores, contra as medidas provisórias com cortes de direitos do governo e o projeto da terceirização em discussão no Congresso; a defesa da Petrobrás como guardiã do petróleo e motor para o desenvolvimento com soberania nacional; a reforma tributária com taxação de grandes fortunas e a democratização dos meios de comunicação e da política, que aponte para a convocação de uma Constituinte.
Essa linha conjuga a pressão sobre o governo ao enfrentamento aos inimigos das mudanças sociais, como os agentes neoliberais que conspiram para diminuir o papel do Estado na economia, o sistema político que quer mutilar o governo, os empresários que atuam para flexibilizar a legislação trabalhista, as petroleiras estrangeiras com interesse em explorar o pré-sal, os milionários que não querem pagar impostos e a oligarquia que controla o Congresso Nacional e as redes de TV/rádio.
O contraste dos discursos de Lula e Stedile expressa diferentes perspectivas para encarar a ofensiva da direita. Lula parte da leitura de que o governo e apenas o governo, com sua estrutura, instrumentos, ritmo e limites, pode garantir a continuidade do projeto que começou em 2003.
Assim, o ex-presidente coloca a centralidade na institucionalidade, para fazer o governo funcionar, reorganizar a base parlamentar, tendo como sustentação as organizações fiéis ao PT e os segmentos desorganizados.
Para Stedile, esse projeto já bateu no teto com a crise econômica e as contradições do sistema político e, apenas com a mobilização dos setores progressistas e medidas concretas do governo, será possível impedir um retrocesso.
Por isso, ele propõe tirar a gravidade do enfrentamento da institucionalidade, com uma pauta mais avançada de reformas estruturais, para congregar os setores críticos que se uniram no 2º turno da eleição presidencial e catalisar a crescente insatisfação na sociedade, ampliando a capacidade de luta por medidas do governo que alterem a correlação de forças.
No discurso em Minas, Stedile disse que entende que Lula tem dificuldades para expressar qualquer contrariedade às políticas do governo, para não enfraquecer a presidente Dilma em um momento complexo. No entanto, pontuou que os sindicatos, movimentos e entidades de juventude não podem se orientar exclusivamente pela dinâmica da institucionalidade.
O dirigente do MST afirmou que os forças progressistas perderão de W.O. se não fizeram os enfrentamentos políticos e ideológicos na sociedade, com mobilizações de massa. Nesse sentido, defende que é hora da esquerda pisar no acelerador, massificar as manifestações agendadas para o dia 7 de abril, cobrando mudanças na política econômica do governo, com a revogação das MPs, e enfrentando a ofensiva da direita em todos os campos.
Dentro do arco de forças sociais que construiu a jornada do dia 13 de março, há compreensões distintas da forma de atuar diante de um governo que adota políticas neoliberais, em um quadro de ofensiva dos setores conservadores no Congresso, no Poder Judiciário, nos meios de comunicação e nas ruas.
Os discursos de Stedile, em Minas, e do presidente da CUT, Vagner Freitas, em São Paulo, demonstraram a disposição de ir para a ofensiva, sem admitir a perda de direitos nem o golpismo dos setores conservadores. Caberá aos dirigentes das forças populares em todo o país definir a estratégia.
No entanto, a decepção com as medidas do governo e a frustração com o discurso de Lula apontam que, depois de 12 anos, a militância das organizações de esquerda quer ser protagonista na disputa política no país.
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