“A Grécia vai deixar a austeridade da catástrofe e do medo”, garantiu Alexis Tsipras no seu discurso. “Os que foram derrotados foram a elite e os oligarcas. Vamos ter de volta a nossa dignidade, a nossa soberania.”
por Rodrigo Vianna
A vitória do partido de esquerda Syriza, na Grécia, é uma resposta da Democracia contra o chamado “Mercado” – que tenta sequestrar a vontade popular impondo um programa liberal “inevitável” (como se homens e mulheres não pudessem escolher o seu caminho).
O Syriza ganhou as eleições na Grécia, terá maioria no Parlamento sem necessidade de grandes acordos ou concessões. A vitória veio depois de 6 anos de crise social catastrófica. E vejam que curiosa a forma como a imprensa brasileira trata o assunto: “Esquerda radical vence na Grécia“, diz o UOL/Folha; “Esquerda radical chega ao poder na Grécia e preocupa Europa”, diz o Estadão.
Desde 2008, os governos gregos seguiram à risca o programa neoliberal do FMI e da União Européia – sob supervisão da Alemanha. Resultado: cortes, desemprego, recessão.
A economia grega encolheu 25% em 6 anos. Um de cada quatro trabalhadores perdeu o emprego. Houve um desmonte do Estado, uma submissão completa ao chamado “Mercado”. Mas a imprensa brasileira jamais chamou os governos gregos anteriores, que adotaram esse programa suicida, de “direita radical”, ou de “ultraliberais radicais”.
Pouco importa, a essa altura. A tentativa agora será emparedar o Syriza, gerando tensões, obrigando a nova liderança grega a “jogar o jogo” de Merkel.
O problema para a direita liberal européia é que há outro jogo em andamento. Na Espanha, o “Podemos” (que “O Globo” também chama de “esquerda radical”) é favorito para vencer a eleição deste ano. Com um programa de aprofundamento da Democracia.
O líder do “Podemos” espanhol, Pablo Iglesias, fez aliás um comentário cáustico sobre a vitória do Syriza na Grécia: “Os gregos não terão mais à frente do governo um delegado a serviço de Angela Merkel”.
O Syriza e o Podemos não são “radicais”. Esse adjetivo é uma forma de jogá-los numa espécie de gueto ideológico. Radical era a Thatcher que esculhambou o Estado inglês. Radical é o Samaras (primeiro-ministro grego, ultraliberal, que fez o serviço sujo para o FMI e a Merkel).
Radical, talvez, fosse o Lênin. Ah, se algo parecido com Lênin existisse na Grécia, o Samaras estaria a caminho do fuzilamento. Mas não é assim. O Syriza joga na Democracia. É uma chance de resgatar a Democracia da mão dos fundamentalistas liberais.
O curioso é que a Europa – ou parte dela ao menos – ameaça virar à esquerda no exato momento em que o Brasil faz um estranho giro à direita. Joaquim Levy foi à Europa para participar do convescote liberal em Davos (Suiça). Parece que o Brasil volta aos tempos de FHC, quando ministros bem comportados se exibiam como fiéis cumpridores da fórmula liberal. Patético.
Durante 6 anos, enquanto a Europa se afundava em desemprego e recessão, o Brasil (sob o comando de Guido Mantega na Fazenda) resistia, e adotava uma fórmula oposta à sugerida pelos neoliberais.
Grécia, Espanha, Portugal e Itália seguiram à risca a formulinha liberal. Naufragaram, deixaram a Alemanha mais forte, e agora buscam saídas.
Mas o jogo é confuso. Na França, a crise ameaça levar o país para a direita fascista. Le Pen (a filha) com sua Frente Nacional (extrema-direita) pode ganhar o poder, depois da traição programática do PS (Partido Socialista) francês. Não será uma saída pela esquerda. Mas Le Pen significará também o fracasso da Europa liberal.
Nessa hora dramática, e depois de ter resistido bravamente, o Brasil inicia um ajuste liberal – com a marca da traição programática que deixou o PS francês em frangalhos.
O que o Syriza tentará fazer a dura penas na Grécia (mas com maioria parlamentar e mobilização nas ruas) é o que o PT já conseguiu fazer nos últimos anos: programas sociais, redução da desigualdade, defesa do Estado e da soberania nacional.
Tudo isso corre risco aqui no Brasil. A direita pode implodir, por dentro, o que se conseguiu construir nos últimos 10 ou 12 anos.
As ações de Levy e a omissão de Dilma (que sumiu e não fala com sua base social) mostram que o quadro pode se agravar.
Se Dilma não corrigir o rumo, o Brasil irá para a recessão. Com a direita babando pelo impeachment e os movimentos sociais nas ruas, estará aberta a disputa: mais adiante, teremos uma saída a la Syriza? Ou no estilo Le Pen?
Hoje, o jogo está indefinido.
O Brasil tem um mercado interno poderoso e um arremedo de Estado social criado nos anos Lula. Tem bancos públicos e uma classe trabalhadora razoavelmente organizada. Tem um partido de esquerda (?) ainda com alguma força, como o PT.
Deveria usar esse patrimônio para impedir que a crise se aprofunde.
A Esquerda pode costurar um programa que signifique defender os avanços dos anos Lula, radicalizando a Democracia, defendendo o papel do Estado e rejeitando o programa dos Armínios e Levys.
O PT e Lula ainda podem ajudar a costurar esse novo pacto. Mas se não agirem rápido, correm o risco de virar um PASOK (o velho partido de centro-esquerda grego, que teve menos de 5% dos votos) ou um PS francês – que jogou a história no lixo e abriu caminho para a extrema-direita fascista.
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