Por Flavia Oliveira, no Facebook
“Sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB”, escreveu Michel Temer na carta à Dilma, revelada pelo craque Jorge Bastos Moreno.
E eram confiáveis o vice e seu partido?
A carta repleta de mágoas me causou algumas impressões:
1) Temer escancarou a importância da distribuição de cargos nesse já carcomido sistema de presidencialismo de coalizão. Há pelo menos três parágrafos com referências a nomeações e distribuição de emendas. Tenho a impressão de que já fomos mais discretos (ou cinicos).
2) O vice ameaça Dilma, apresentando-se como o nome capaz de unificar o país, já que seria o único a dialogar com a oposição. Não é à toa que ele cita DEM, PSB e PV, legendas com colorações ideológicas variadas. Temer se coloca como herói do impeachment, para aglutinar o apoio de quem se sente desconfortável com as manobras de Eduardo Cunha. Vai ser difícil acreditar na imagem legalista que o vice gosta de exibir publicamente.
3) Se há cinco anos o vice se sente desrespeitado pela presidente, por que aceitou encabeçar com ela a chapa da reeleição? E, tendo feito, esperou pela mais grave crise institucional para desembarcar do governo e despejar suas mágoas. Claramente, o vice abraça a possibilidade de assumir a Presidência. Sublinha, inclusive, seu programa econômico, que sugere ter respaldo da sociedade.
4) Vejo, nas entrelinhas, uma velha estratégia masculina de inverter culpa e sugerir que foi “obrigado a trair”. (Esta é uma observação de gênero. Muitos não entenderão.)
5) Por fim, como se diz nos procedimentos de emergência da aviação: “Em caso de despressurização, máscaras cairão”… No Brasil, agora, está tudo às claras, sem máscaras. É questão de escolher o lado.
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