
Nos últimos anos, tem havido no Brasil uma forte dicotomia entre duas vertentes de usuários de sistemas baseados no kernel Linux: o movimento OSI e o movimento Software Livre. Tal dicotomia tem sido acirrada por fortes nomes deste, notavelmente o sr. Anahuac de Paula Gil, que insistem em postar textos enormes em sites como br-linux.org e softwarelivre.org com o suposto objetivo de expor as vantagens do segundo sobre o primeiro. Dentre os principais argumentos utilizados, podemos destacar:
- Há uma diferença entre liberdade de software e liberdade de escolha: ambas são disjuntas e o fato de a pessoa escolher usar uma distribuição baseada no kernel Linux não a torna, necessariamente, livre.
- O movimento OSI é uma criação de grandes corporações capitalistas com o objetivo de enfraquecer e de destruir o movimento do software livre;
- Softwares open source ou distribuições que incluem programas proprietários são utilizados por grandes agências governamentais ou por grandes empresas para coletar informações e rastrear os hábitos do usuário.
- Apenas o software livre é bom, pelo fato de ser ético e de ser totalmente aberto; softwares OSI e proprietários representam o mal.
Embora todas essas argumentações tenham seu fundo de verdade, atitudes como a do sr. Anahuac – que utiliza-se dos sites supracitados bem como da rede social Twitter para intimidar os usuários de distribuições não totalmente livres, obrigando-os a “se assumirem” como OSI, como se, desta forma, estivessem reconhecendo que são inferiores àqueles que utilizam sistemas totalmente livres – tem como único efeito apenas a prestação de um gigantesco desserviço ao próprio movimento do software livre, pois através das arrogância e ignorância demonstradas, muitos usuários – alguns, inclusive, com potencial para se tornarem ativistas de software livre – acabam simplesmente desistindo de ir mais à fundo nesse maravilhoso mundo que nos é oferecido.
Além disso, não podemos nos esquecer que esse senhor e seus comparsas encaixam em seus discursos pró-software livre, de maneira quase subliminar, uma forte alusão ao socialismo. Nisso temos dois problemas: o primeiro é que a maioria das grandes personalidades da cena software livre – incluindo, aí, o bom Dr. Richard Stallman – já negaram publicamente, em várias ocasiões, que houvesse qualquer relação entre tais movimentos. O segundo problema é que a teoria socialista, em si, não funciona porque foi baseado em ideias erradas, conforme você pode verificar aqui.
Logo, de maneira indireta, o que Ananhac faz é apenas servir àquilo que as grandes corporações e órgãos governamentais desejam: o enfraquecimento do software livre.
Mas será necessário, realmente, que um usuário de sistemas com kernel Linux venha a público assumir se ele é OSI ou é livre? Pensemos: Seria possível que, do dia para a noite, um usuário que sempre usou um sistema Windows a vida inteira jogasse tudo para o alto e passasse a utilizar apenas aquilo que é estritamente recomendado pela Free Software Foundation? Eu acredito que tal transição não possa ocorrer de forma tão abrupta e, por isso, imaginei que existem 7 tipos de usuários de software livre.
- Os usuários do tipo 0 são aqueles que usam apenas e exclusivamente softwares proprietários;
- Os usuários do tipo 1 são aqueles que utilizam um sistema operacional proprietário, mas que instalam ou usam algum software livre nele, sem se importar com ou conhecer a natureza desse software. A maioria dos usuários de computador está nessa categoria.
- Os usuários do tipo 2 são aqueles que ouviram falar dos sistemas GNU/Linux e, esporadicamente, utilizam alguma distribuição via live cd, live usb ou máquina virtual.
- Os usuários tipo 3 instalam alguma distribuição de GNU/Linux nos discos rígidos de seus computadores, mas mantém um dual boot com algum sistema proprietário.
- Os usuários tipo 4 mantém exclusivamente alguma(s) distribuição(ões) de GNU/Linux em seus computadores, mas não se importam com as licenças dos programas que utilizam, podendo usar emuladores ou versões nativas de softwares proprietários, quando disponíveis.
- Os usuários tipo 5 também utilizam apenas sistemas livres em seus computadores, mas preferem utilizar softwares livres sempre que possível, utilizando softwares e drivers proprietários apenas em último caso.
- Os usuários do tipo 6 utilizam apenas sistemas, serviços online e softwares livres, mesmo que isso signifique abrir mão de sua comodidade.
Assim, vemos que não é tão simples dividir os usuários de sistemas livres em dois grupos distintos. Da mesma forma que a psicologia aponta que a sexualidade humana pode variar conforme o tempo, a maioria dos usuários pode migrar de uma categoria para outra dependendo da situação ou, até mesmo, estar em mais de uma (alguém pode ser tipo 5 em casa e tipo 0 no trabalho). Com isso, podemos enxergar as distribuições compostas puramente de software livre como os “gases nobres” dos sistemas operacionais, ou seja, como um modelo a ser seguido e alcançado, não como uma imposição.
Logo, para que o software livre prospere (e isso é o que todos nós queremos), ao invés de ficarmos rotulando as pessoas de forma machista e elitista, aceitemos essa classificação, na qual o usuário que está em um nível puxaria os que estão nos níveis anteriores até que todos possamos desfrutar da maior quantidade de software livre possível. Em outras palavras, ao invés de nos separarmos, vamos nos unir!
Isso, é claro, não significa que devamos deixar de ser atentos e sempre alertar a todos das artimanhas de grandes empresas e de órgãos governamentais estrangeiros para perseguir nossas liberdade e privacidade. No entanto, isso não nos dá o direito de oprimir as pessoas que ainda dependem de sistemas ou de aplicativos não livres. Para você ter uma ideia, o próprio Anahuac, um dos maiores ativistas da liberdade de software do Brasil, usa Ubuntu no servidor de seu site pessoal (quem sabe, sem saber). Ora, se ele pode, por que nós não podemos?








