Por um FLISOL livre.
Qual o poder de um nome? O que um nome representa?
Um nome representa o ideal que foi atribuído a ele, seja por algo ou alguém, por exemplo, atribuimos o nome “dado” ao hexaedro que utilizamos para jogos de azar, se chamarmos o “dado” de “bola”, o objeto perderá seu sentido, o ideal que foi atribuido a ele, será perdido.
Seguindo esta mesma linha de raciocinio, chamar um pássaro em uma gaiola de livre, ao invés de torna-lo livre, deturpa o sentido da liberdade dele.
Trazendo o pensamento para o mundo digital, existem grupos que lutam pelos mais diversos movimentos digitais existentes, o grupo pró facebook, o grupo anti facebook, o grupo pró microsoft, o grupo pró linux, o grupo pŕo GNU, o grupo pró Apple e tantos outros grupos distintos que dificilmente caberiam em um texto com intuíto de trazer discussões de idéias. Esses grupos, por mais diversos que sejam, compartilham de algo em comum em suas organizações, existem os pró movimento, os simpatizantes do movimento e os militantes, os pró movimentos se sentem bem naquele ambiente porém não sentem a necessidade de militar sobre ele, os que simpatizam estão alí, porém, quando não lhes servir mais para nada o movimento em questão, simplesmente vão procurar outro que se adeque e os militantes, bom vamos para um paragrafo só para os militantes.
Os militantes sentem uma necessidade de expor ao mundo a mensagem daquele movimento em particular e sentem necessidade em contribuir com o máximo que podem para com o crescimento da causa, existem diversos tipos de contribuições, um militante desses pode contribuir programando, palestrando, educando, inserindo idéias, criando comunidades, agregando conhecimentos de causa, opinando, ou seja, fazendo o que está a seu alcance, tanto que, não raro vemos ai eventos dos mais variados movimentos digitais organizados em ambientes físicos, um bom exemplo é o do movimentos dos game devs indies que se reúnem sempre que possivel para fazer game jams onde se reúnem com outros membros do movimento e criam novos produtos, novas equipes, novas idéias a partir dessas reuniões de comunidade.
Esses militantes, de qualquer causa que seja, assumem para sí uma responsabilidade, tornando assim a causa, em algo que, para elas, passa a ter valor maior do que para os outros, e isso acarreta uma série de responsabilidades, responsabilidades essas que as vezes acabam passando batido pelos próprios membros com o passar do tempo e que, de tempos em tempos, precisam ser reforçados.
O movimento do Software Livre desde sua fundação em 1985 luta para que todos possam utilizar Software que possua as 4 liberdades que dão ao usuário o respeito e o poder que ele merece ao usar qualquer software em seu computador. Essas liberdades são:
- Liberdade 0: A liberdade para executar o programa, para qualquer propósito;
- Liberdade 1: A liberdade de estudar o software;
- Liberdade 2: A liberdade de redistribuir cópias do programa de modo que você possa ajudar ao seu próximo;
- Liberdade 3: A liberdade de modificar o programa e distribuir estas modificações, de modo que toda a comunidade se beneficie.
Qualquer programa que não cumpra as quatro liberdades não cumpre os requisitos necessários para receber o nome de Software Livre.
Com base no movimento do Software Livre, surgiram comunidades em torno do movimento e eventos em torno dessa comunidade, um dos eventos mais importantes, se não o mais importante da américa latina como um todo é o FLISOL (Festival Latino Americano de Instalação de Software Livre), que vai além de ser uma imensa Install Fest onde, além de serem realizadas instalações de distriuições GNU/Linux ou Software Livre em geral nas máquinas do público participante que assim queira em seus equipamentos, acontece também toda uma programação local voltada para a educação do que é o Software Livre, da importância do mesmo, da filosofia por trás , dos avanços da área e do desenvolvimento do mesmo.
Quem milita, quem propaga a mensagem do Software Livre, reconhece a importância de eventos como o FLISOL e sabe que hoje, da forma com que as distribuições GNU/Linux são distribuidas e como as fabricantes de hardware trabalham, que é dificil (porém não impossivel) para o usuário “comum” utilizar somente Software Livre no seu dia a dia e que, grande parte dos desenvolvedores de hardware não possuem drivers livres para utilização plena de seus recursos, requisitando assim que software proprietário seja injetado em distribuições livres para que funcionem corretamente.
Então, chegamos a um impasse, como militar Software Livre se, para que o equipamento do visitante funcione plenamente, você terá de injetar software proprietário?
Fazer vista grossa e instalar qualquer distribuição que possua drivers proprietários vindos por omissão na instalação da distribuição? escolhendo distribuições GNU/Linux que acabam por prezar mais pela facilidade do que pelos ideais que tornaram aquela distribuição algo real? Esquecer o sentido do Software Livre em prol da usabilidade? Qual a importância de um nome?
Pois bem, existem saidas, e não me entendam como alguém que simplesmente quer criticar um evento ou um grupo de pessoas, você pode simplesmente não saber que existem alternativas. Vou listar algumas abaixo que podem ser interessante caso você seja um organizador de um FLISOL em sua região ou queira repassar para um:
- Não incentivar a instalação de distribuições GNU/Linux que simplesmente saem instalando software proprietário nas máquinas dos usuários por omissão;
- Não habilitar e/ou instalar software proprietário nas distribuições que oferecem essa opção;
- Incentivar a instalação de distribuições GNU/Linux aprovadas pela FSF como o Trisquel, o Parabola e o GnewSense observando a compatibilidade do hardware em questão em locais como o H-Node;
- Deixar à escolha do usuário, após educa-lo, de qual distribuição ele quer que seja feita a instalação.
É importante lembrar que, invariavelmente da escolha feita, nunca deve-se zombar ou discriminar um usuário por sua escolha, ele é livre para escolher usar Software Livre ou não, agora, o evento que leva o nome de Festival Latino Americano de Instalação de Software Livre esse já assumiu a postura em seu nome de ser sobre Software Livre e nada mais, caso ele queira continuar a instalar Software não livre durante sua execução, o sentido de seu nome, a filosofia por trás, os ideais de todos os seus colaboradores, todos os seus militantes, todos perderão o sentido para o evento, logo o mesmo, perante a comunidade de Software Livre não teria mais o por que de carregar o nome do movimento do Software Livre.
Veja bem, nem todos precisam militar a respeito de algo, você pode usar Software Livre totalmente, parcialmente ou negligenciar completamente sem ter que necessariamente levantar uma bandeira, você é livre para escolher isso, porém, você não pode dizer que luta por uma causa, uma comunidade, sem na verdade faze-lo. Você não precisa lutar por algo que não acredita, porém deveria respeitar quem escolhe faze-lo.
Esse é um apelo com o intuíto de levantar uma discussão por um FLISOL Livre.
Saudações Livres.
O trabalho Por um FLISOL Livre de Thiago Faria Mendonça está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição 4.0 Internacional.
Texto original em: http://acesso.me/acesso/por-um-flisol-livre







