Apple transforma linguagem Swift em código aberto
Dicembre 7, 2015 9:13No meio do ano, durante a conferência WWDC 2015, a Apple pegou todo mundo de surpresa ao anunciar o plano de transformar a linguagem de programação Swift em open source. Na ocasião, a companhia prometeu fazer a mudança até o final de 2015. Pois aí está: a linguagem está disponível desde esta quinta-feira (3) sob licença Apache.
A intenção da Apple com a decisão é expandir o uso do Swift. A linguagem foi apresentada oficialmente na WWDC de 2014 para, tanto quanto possível, substituir o Objective-C no desenvolvimento de aplicativos para as plataformas OS X e iOS.
Alguma coisa mais atual deveria mesmo surgir. O Objective-C apareceu na década de 1980, logo, muitos desenvolvedores sentiam necessidade de contar com uma linguagem que facilitasse a implementação de recursos mais alinhados com as necessidades atuais do mercado.
Para atender a essa demanda, o Swift oferece suporte a protocolos e extensões atuais ao mesmo tempo que considera padrões modernos de segurança e desempenho. Além disso, a linguagem reúne características importantes “herdadas” do Objective-C, diminuindo o tempo de adaptação do desenvolvedor, por exemplo.
Com a abertura de seu código-fonte, o ecossistema do Swift poderá chegar mais facilmente a aplicações nas nuvens ou mesmo a plataformas rivais, como Android e Windows. Não que a Apple planeje disponibilizar compiladores para essas plataformas; se isso acontecer, será pelas mãos de comunidades de desenvolvedores.
Como a Apple é uma empresa fortemente centrada em seu próprio universo, a decisão pode soar estranha. Mas, acredite, a abertura do código da linguagem pode trazer vários benefícios à companhia.
Se o Swift for usado em outras plataformas, presume-se que o envolvimento de programadores e empresas de software com a linguagem será muito maior. Isso deve resultar em soluções mais rápidas para deficiências no Swift, assim como na implementação de mais recursos, já que a própria comunidade poderá se encarregar dessas melhorias (ainda que a Apple continue no controle de tudo).
É aí que outras vantagens começam a ficar claras. Uma delas é desenvolvimento mais rápido de aplicativos seguros e com bom desempenho. Outra é a relativa facilidade com que será possível portar software entre plataformas distintas. Há ainda o fato de que os desenvolvedores poderão criar software para as plataformas da Apple a partir de máquinas com Linux, por exemplo.
Interessado? Você pode fazer download do código e saber mais sobre a linguagem Swift em seu site oficial. Repositórios também podem ser encontrados na página da Apple no GitHub
publicado originalmente em: https://tecnoblog.net/188838/apple-linguagem-swift-open-source
Campanha de Apoio à Software Freedom Conservancy
Dicembre 7, 2015 8:45
A Software Freedom Conservancy[1] é uma organização sem fins lucrativos que fornece “personalidade jurídica” a projetos de software livre, o que possibilita que os projetos recebam doações, emitam recibos sem precisarem passarem pelo processo árduo de formalizarem as suas próprias organizações.
Projetos membros da Conservancy incluem: git, Inkscape, Samba e QEMU.
Uma outra atividade muito importante que a Conservancy desempenha é a de combater violações da GPL (Gnu General Public License) para os projetos membros. Por exemplo ela no momento está numa batalha judicial contra a VMWare[2] onde a mesma é acusada de violar da GPL no Linux (o kernel, como você já sabe) na distribuição de um de seus produtos proprietários de virtualização.
Na última Debconf em Agosto deste ano, a Software Freedom Conservancy anunciou um programa[3] onde membros do Debian podem escolher delegar à Conservancy os direitos de garantir o cumprimento da GPL nos seus projetos.
Garantir o cumprimento da GPL é uma tarefa árdua, e precisa de recursos para poder pagar as pessoas. E pode te trazer inimigos poderosos: por exemplo, em função da ação contra a VMWare a Conservancy teve palestras em eventos canceladas na última hora, e perdeu patrocinadores.
Para dar continuidade às suas atividades, a Conservancy está com uma campanha[4] para ter o apoio de indivíduos, de forma que os patrocinadores corporativos tenham menos peso no seu financiamento. Se você se importa com a GPL e pode contribuir, por favor faça a sua parte:
https://sfconservancy.org/supporter/
Referências:
[1] https://sfconservancy.org/
[2] https://sfconservancy.org/copyleft-compliance/vmware-lawsuit-faq.html
[3] https://sfconservancy.org/news/2015/aug/17/debian/
[4] https://sfconservancy.org/supporter/
Apoie a Software Freedom Conservancy
Dicembre 2, 2015 16:42A Software Freedom Conservancy é uma organização sem fins lucrativos que fornece “personalidade jurídica” a projetos de software livre, o que possibilita que os projetos recebam doações, emitam recibos sem precisarem passarem pelo processo árduo de formalizarem as suas próprias organizações.
Uma outra atividade muito importante que a Conservancy desempenha é a de combater violações da GPL para os projetos membros. Por exemplo ela no momento está numa batalha judicial contra a VMWare onde a mesma é acusada de violar da GPL no Linux (o kernel, como você já sabe) na distribuição de um de seus produtos proprietários de virtualização.
Na última Debconf em Agosto deste ano, a Software Freedom Conservancy anunciou um programa onde membros do Debian podem escolher delegar à Conservancy os direitos de garantir o cumprimento da GPL nos seus projetos.
Garantir o cumprimento da GPL é uma tarefa árdua, e precisa de recursos para poder pagar as pessoas. E pode te trazer inimigos poderosos: por exemplo, em função da ação contra a VMWare a Conservancy teve palestras em eventos canceladas na última hora, e perdeu patrocinadores.
Para dar continuidade às suas atividades, a Conservancy está com uma campanha para ter o apoio de indivíduos, de forma que os patrocinadores corporativos tenham menos peso no seu financiamento. Se você se importa com a GPL e pode contribuir, por favor faça a sua parte!
Entidades recebem resposta do Governo Federal a questionamento sobre parceria com Facebook
Novembre 25, 2015 19:30A Associação Software Livre.Org e demais entidades que interpelaram o Governo Federal sobre um eventual acordo entre a união e o Facebook receberam resposta do Ministério das Comunicações. Por meio de correspondência, o chefe de gabinete do ministério Ricardo Antônio de Souza Karam afirmou que foram feitos apenas estudos de projetos iniciais que pudessem ajudar o país a implementar soluções para inclusão digital. Além disso, salientou que qualquer iniciativa do gênero deve respeitar o Marco Civil da Internet e legislações que regulam direitos de concorrência e do consumidor. O governo também se posicionou sinalizando que está aberto a diálogos com a sociedade civil para o desenvolvimento e aprimoramento de políticas públicas de inclusão digital.
A correspondência questionando o governo foi enviada no dia 23 de abril de 2015, dirigida à presidenta Dilma Rousseff e cobrava explicações do governo sobre declarações do governo que afirmavam a adesão do Brasil ao projeto Internet.Org, que claramente desrespeita princípios básicos da neutralidade da rede e ampla concorrência, na opinião da Associação Software Livre.Org. O documento foi assinado pela ASL e por mais 33 instituições e pessoas físicas.
Veja o documento digitalizado.
As seguintes organizações assinaram a carta:
1) Artigo19
2) Associação Brasileira de Centros de Inclusão Digital
3) Associação Software Livre do Brasil
4) Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé
5) Co: Laboratório de Desenvolvimento e Participação - USP
6) Coletivo Digital
7) Coletivo Soylocoporti
8) Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
9) Frente Acorda Cultura
10) Hacklab Independência
11) Instituto Bem Estar Brasil
12) Instituto Beta Para Internet e Democracia
13) Instituto de Defesa do Consumidor
14) Instituto Telecom
15) Intervozes
16) Movimento Mega
17) PimentaLab - Unifesp
18) Recursos Educacionais Abertos Brasil
19) Rede Livre
20) União Latina de Economia Política da Informação, 21) Comunicação e Cultura
Pessoas físicas:
1) Anahuac de Paula Gil
2) Augusto César Pereira da Silva
3) Bruno Freitas
4) Camila Agustini
5) Raphael Martins
6) Diego Viegas
7) Hilton Garcia Fernandes
8) Iuri Guilherme dos Santos Martins
9) Marco Gomes
10) Raphael Martins
11) Reinaldo Bispo
12) Thadeu Cascardo
13) Thiago Zoroastro
Leia o documento na íntegra:
Carta à Presidente Dilma Roussef sobre o acordo com o Facebook
Exma. Sra. Presidente,
As organizações e indivíduos abaixo assinados vêm por meio desta manifestar sua contribuição ao debate com relação ao recente anúncio realizado por Vossa Excelência durante a 7o Cúpula das Américas sobre o estabelecimento de uma parceria com o Facebook para a implementação do projeto "Internet.org" no Brasil.
Embora estejamos de acordo com o diagnóstico de que há um grande déficit na qualidade e na extensão do acesso à Internet fixa e móvel em países em desenvolvimento como o Brasil, consideramos que este projeto que vem sendo promovido pelo Facebook em diversos países da América Latina, África e Ásia, pode colocar em risco o futuro da sociedade da informação, da economia no meio digital e os direitos que os usuários usufruem na rede, como a privacidade, a liberdade de expressão e a neutralidade da rede.
Ao prometer acesso gratuito e exclusivo a determinados serviços e aplicativos o Facebook está na verdade limitando o acesso à Internet aos demais serviços existentes na rede e oferecendo aos que têm menos recursos econômicos o acesso a apenas uma parte da Internet, o que viola os fundamentos e princípios basilares do Marco Civil da Internet (Lei no 12965), da Declaração Multissetorial do NETMundial e dos Princípios para a Governança e Uso da Internet no Brasil do CGI.br (RES/2009/003/P), conforme elencamos a seguir:
• A lei no 12965 que institui como fundamento do uso da Internet a liberdade de expressão, o reconhecimento da escala mundial da rede, a pluralidade e a diversidade, a abertura e a colaboração, a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor (art.2o), assim como reconhece os princípios da proteção da privacidade, a preservação e garantia da neutralidade de rede e a garantia da preservação da natureza participativa da rede (art.3o).
Lembramos também que a referida lei estabelece como objetivo do uso da Internet o direito de acesso a todos, o acesso à informação, ao conhecimento, à participação na vida cultural e política, a inovação e a adesão a padrões tecnológicos abertos(art.4o);
• O Encontro Multissetorial Global sobre o Futuro da Governança da Internet (NETMundial) que reconheceu a Internet como um recurso global que deve ser gerido como recurso público, e identificou um conjunto de princípios comuns e valores, dentre os quais ressaltamos o caráter de espaço unificado e não fragmentado, onde datagramas e informação fluam livremente de ponta a ponta independentemente de seu conteúdo legal, a proteção e promoção da diversidade cultural e linguística, a arquitetura aberta e distribuída, preservando o ambiente fértil e inovador, a promoção de padrões abertos consistentes com os direitos humanos e com o desenvolvimento e a inovação na rede, e a preservação de um ambiente favorável à inovação sustentável e à criatividade, reconhecendo o empreendedorismo e o investimento em infraestrutura como condições para a inovação;
• Os Princípios para a Governança e Uso da Internet do Brasil aprovados pelo CGI.br, o Comitê Multissetorial de Governança da Internet no Brasil, que buscam embasar e orientar ações e decisões com vistas à governança democrática e colaborativa, preservando e estimulando o caráter de criação coletiva da Internet, a universalidade, a diversidade, a inovação,a neutralidade da rede e a padronização e interoperabilidade da rede.
Enfatizamos ainda que essa estratégia do Facebook e de outras grandes empresas, realizada em parceria com as operadoras de telecomunicações, representa uma grave violação da regra da neutralidade quando promove "acesso para todos" sob a máxima "internet grátis". Esta prática é conhecida internacionalmente como zero-rating (taxa zero) e, mesmo que possibilite o uso dos serviços mais populares, no longo prazo acaba gerando concentração da infraestrutura e monopólio sobre o tráfego de dados na rede, reduzindo tanto a disponibilidade de aplicativos e serviços na Internet, quanto a liberdade de escolha do usuário. Com isso, cabe perguntarmos como se espera que o Brasil desenvolva o setor de aplicativos, um dos mercados que mais crescem no mundo, se estes terão limitado seu acesso a grande parte da população. O modelo proposto pelo projeto Internet.org tem também efeitos desastrosos para o desenvolvimento das culturas regionais, comprometendo o direito de acesso à informação ao violaroutro princípio basilar do Marco Civil e da declaração Multissetorial do NETMundial que é a liberdade de expressão. Isto porque boa parcela da receita das empresas de Internet e operadoras de telefonia são hoje provenientes da venda de aplicações e conteúdos que acabam sendo fornecidos de forma imposta e verticalizada nos pacotes de serviços. A formação de conglomerados econômicos, devido ao processo de convergência dos meios de comunicação, tem feito com que as empresas que prestam serviços de acesso à Internet sejam as mesmas que fornecem conteúdos. O resultado é o desrespeito ao direito de escolha dos consumidores e à livre concorrência, a limitação da diversidade cultural e o cerceamento do livre fluxo de informações na rede.
Não podemos esquecer ainda que a plataforma tecnológica do Facebook tem sido uma das principais portas para a vigilância em massa, colocando em risco outro importante princípio do Marco Civil e da declaração Multissetorial do NETMundial que é a privacidade dos cidadãos. A ausência de uma lei de proteção de dados no país agrava o problema e faz com que hoje os possíveis usuários dos serviços que serão disponibilizados pelo Internet.org fiquem vulneráveis aos interesses comerciais dessa plataforma e às pressões políticas que uma empresa com sede nos Estados Unidos está sujeita.
É por considerar que existem outras alternativas de políticas públicas capazes de promover a universalização do acesso à Internet, tais como cidades digitais, provedores comunitários integrados a telecentros, pontos de cultura, GESAC, estações digitais e iniciativas de comunicação comunitária, que nos posicionamos veementemente contra o acesso privilegiado ao mercado e aos dados dos brasileiros que o Facebook pretende obter com seu projeto através do Internet.org. Dentre as excelentes alternativas internacionais que poderiam ser aproveitadas, cabe também mencionar o Plan Ceibal no Uruguai, que busca fomentar as redes livres, o GuifiNet, uma parceria entre sociedade, ONGs e governos, OpenWRT, Commotion Wireless, entre outros.
Por último, vale lembrar que o Brasil possui um enorme contingente de organizações e ativistas que vem atuando na promoção da inclusão digital. Os esforços do Governo Federal no sentido de envolver tais agentes sempre foram reconhecidos e o diálogo tem avançado ao longo dos anos, tendo alcançado resultados positivos concretos. A notícia de uma parceria com a empresa Facebook sem qualquer conhecimento prévio pela sociedade civil, no entanto, diverge da postura democrática, transparente e inclusiva que tem sido adotada nos últimos anos.
Conforme o exposto acima, concluímos que é de extrema importância que se preserve o desenvolvimento da economia digital e que se garantam os direitos estabelecido pela Marco Civil da Internet assim como os princípios estabelecidos no encontro multissetorial Netmundial. Assim, as entidades ora signatárias requerem:
(i) Que não sejam firmados quaisquer acordos com a empresa Facebook no âmbito da sua iniciativa Internet.org que tenham como objeto o provimento de acesso grátis à Internet; e
(ii) Que quaisquer acordos que venham a ser firmados com a empresa Facebook - ou quaisquer outras empresas - respeitem os direitos positivados pelo Marco Civil, em especial o da neutralidade de redes;
Desde já nos colocamos à disposição para um encontro presencial com Vossa Excelência para debatermos melhor o assunto e certos de sua habitual atenção, subscrevemos.
Microsoft adota Open Source e rompe o paradigma do Software Livre. Será?
Novembre 24, 2015 21:43Por Anahuac de Paula Gil, publicado orginalmente no blog anahuac.eu
Método KISS: a resposta é não. Agora me permita desenvolver mais um texto didático para explicar. A quantidade de erros do título é tamanha que quando terminar este artigo, provavelmente, vamos ter que encontrar outro. Mas como diria nosso amigo "Jack", vamos por partes.
O primeiro nó a ser desfeito é o de tentar misturar Open Source e Software Livre em um mesmo conceito. Perceba que nossa discussão é filosófica e nesse ponto Open Source provê sustentação ideológica a um modelo de produção mais eficiente baseando-se do desenvolvimento colaborativo e metodologia "Bazar" para reduzir custos, melhorar o desempenho das equipes e permitir uma melhor qualidade de código. Então no fim das contas o objetivo é ajudar o processo de produção e não o usuário ou o desenvolvedor. Neste modelo filosófico trata-se do empenho em ajudar as empresas a serem mais eficientes e não a mudar a sociedade. Tanto que as licenças chamadas OSI não são Copyleft, ou seja, elas permitem que qualquer um se aproprie do código, desobrigando o seu compartilhamento.
É claro que ter acesso ao código é importante, mas não pelos motivos acima, ao menos é isso o que defende a filosofia do Software Livre. Nesta outra abordagem foca-se não apenas no acesso ao código, mas na perpetuação desse acesso. O foco do Software Livre é empoderar o usuário através da liberdade do Software de modo a mudar a relação de poder entre usuários e fornecedores de tecnologia. Mas a única maneira de garantir que o poder se mantenha do lado dos usuários é impedindo que a liberdade lhes seja negada. Perceba a mudança de paradigma nas relações comerciais que este modelo propõe. Não basta ter acesso ao código é preciso garantir as liberdades para sempre e essa é a linha divisória que separa Software Livre de OSI: a perpetuação das liberdades.
Então temos um mesmo modelo de produção, licenças quase idênticas mas abordagens políticas e filosóficas quase antagônicas. Um modelo ajuda a melhor o modelo de produção enquanto outro busca subverter as relações econômicas. Será que já podemos adivinhar qual deles receberá o apoio das mídias tradicionais, investimentos dos grandes players e propaganda em todos os níveis?
Empresas modernas e ágeis como Google, Facebook e Apple já fazem uso do modelo OSI a muito tempo. Se beneficiando do modelo ágil, eficiente e barato de desenvolvimento cresceram com vigor e se tornaram padrão de mercado. Google e Facebook já nasceram assim, se apropriando de tudo o que lhes convém usando as entrelinhas legais para não infringir nenhuma licença. O caso da Apple é mais interessante porque eles mantinham um sistema operacional próprio com todos os custos envolvidos para isso, então perceberam que não era necessário, bastava pegar um sistema operacional pronto publicado sob uma licença OSI, se apropriar dela, fazer os ajustes necessários e vender como se fosse seu.
Nesses exemplos houve alguma quebra de paradigma? Os usuários ganharam mais poder no relacionamento com essas empresas? Me parece nítido que os beneficiados diretos foram as empresas e não os usuários.
Há algum tempo que a Microsoft anunciou que adotaria mais software Open Source em seus sistemas e aplicativos. Inclusive formou uma parceria com a gigante do Linux, a Canonical para integrações e uso de Ubuntu Server. Muita gente comemorou, vendo ai um exemplo de como o acesso ao código quebrou o paradigma do modelo de softwares privativos, ou seja, um sinal de que a vitória se aproxima e que a adoção massiva de Softwares Livres é eminente e inevitável. E eu concordo, parece espetacular ver a gigante Microsoft sucumbindo, tendo que dar o braço a torcer, tendo que colocar o rabinho entre as pernas e mudar seu discurso privativo e arrogante. Foram quase duas décadas de ativismo cotidiano que enfim frutificam.
Só que não. Infelizmente, basta olhar mais de perto e a versão otimista se desvanece rapidamente. Será que a Microsoft vai adorar licenças GNU que garantem o copyleft? Devo acreditar que a gigante de Redmond finalmente vai libertar o código do Windows, Word e Excel? Finalmente ela adotará posicionamentos de mercado mais justos e socialmente benéficos? Por acaso ela libertará os países do terceiro mundo de suas famigeradas licenças e fará uma inexpugnável transferência de conhecimento tecnológico em nome de um Mundo Melhor?
Qual era mesmo o meu ativismo? Se o que você sempre buscou foi um novo modelo econômico baseado no acesso ao código, então você pode e deve comemorar. Mas se seu objetivo era empoderar o usuário, então é hora de assumir que a adoção de Open Source pela Microsoft cria desafios ainda maiores. Além de combater o modelo tradicional de escravização tecnológica, será necessário lidar com os antigos companheiros de trincheira que lutaram arduamente pela liberdade do software ao seu lado que acreditam que seu objetivo foi alcançado e que a sua luta, a de revolucionar, não é mais necessária.
A adoção de Open Source pelas grandes e tradicionais empresas de software privativo não quebra o paradigma que o Movimento Software Livre luta para quebrar. Na verdade essa adoção cria outro: estão convencendo os inocentes úteis de que o pensamento da liberdade tecnológica que fortalece o usuário está vencido, velho, desnecessário.
Em 1997 eu anunciei que faria do ativismo ao Software Livre uma filosofia de vida. Naqueles dias a Microsoft reinava absoluta e todos me olharam com descrença e dúvida. Muito longe de comemorar, hoje me deixa deveras preocupado que a Microsoft tenha aprendido que ela pode se apropriar das metodologias e lógicas de produção do Open Source e Software Livre, apenas para se beneficiar. Ela está usando o que temos de bom para se tornar mais forte e competitiva como empresa e não sucumbindo à nova ordem de empoderamento pela qual luto. Em termos práticos o Open Source fornece à Microsoft as armas perfeitas para extinguir o pensamento filosófico do Software Livre, e por consequência, extinguir qualquer possibilidade de fazer do Mundo um lugar melhor pela liberdade do conhecimento tecnológico.
Saudações Livres