*Fabio Anibal Jara Goiris
O Brasil está passando por um momento crucial da sua história republicana. Há uma pugna eleitoral entre dois candidatos, mas, por trás disto há também um confronto entre duas propostas ideológicas francamente antagônicas. De acordo com Mangabeira Unger, o candidato Aécio Neves propõe seguir o caminho recomendado pelos países ricos do Atlântico Norte, um caminho que esses mesmos países, incluído os Estados Unidos, nunca seguiram. Na esteira do neoliberalismo defende, por exemplo, a flexibilização das relações de trabalho para tornar mais fácil demitir e contratar. Defende a independência do Banco Central que irá resultar na despolitização da economia política outorgando total previsibilidade aos investidores. Nesse contexto, durante o governo do PSDB, segundo dados da ‘Folha de S. Paulo’, o Brasil atingiu os maiores picos de desemprego (cujo ápice chegou a 11 milhões de desempregados), ao mesmo tempo, os juros chegaram a acumular, em oito anos, mais de 500%. Os excluídos sociais chegaram á marca de 50 milhões de indigentes, segundo a FGV. O governo do PSDB nunca soube a verdadeira dimensão do que é permeabilidade social.
Dilma Rousseff, por seu lado, propõe continuar a luta contra a tragédia que será a negação de instrumentos sociais e de oportunidades a milhões de brasileiros condenados a viver na exclusão. O social, defendido pela candidata, coaduna o desenvolvimento econômico com o desenvolvimento social. Um exemplo desta política é a questão do salário mínimo que obteve, ao longo dos 12 anos dos governos do PT, um aumento real de 72%, e a geração de mais de 20 milhões de empregos. Nesse período, o PIB alcançou R$ 2,27 trilhões. Mais contundente ainda são os dados que indicam o surgimento de uma nova classe social no Brasil, a Classe C, por conta das políticas de inclusão. Mais de 36 milhões de pessoas foram retiradas da extrema pobreza e 42 milhões ascenderam para a classe média. Tais índices foram fundamentais para que o Brasil, pela primeira vez em sua história, saísse do mapa da fome, elaborado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Este é um exemplo para o mundo de uma mudança de paradigma por conta de uma profunda transformação social.
O Brasil durante os governos do PT não só incluiu no mundo da economia quase quarenta milhões de cidadãos, mediante o Bolsa Família e o Programa ‘Minha Casa Minha Vida’, também incluiu o jovem afastado da educação. O acesso às universidades foi amplamente facilitado com a construção de 18 campi federais e o fácil crédito por meio do Fies, Prouni e cotas. Por isso, hoje são mais de 7 milhões de pessoas no ensino superior. No ensino técnico, 422 escolas foram construídas e, no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), são 8 milhões de jovens matriculados. A expressão ‘somente se pode ser livre mediante a educação’ encontrou no Brasil o seu verdadeiro significado.
Diante do exposto, não se sustenta a tese da direita conservadora de que existe uma luta entre ricos e pobres no Brasil. As célebres palavras de Jacques Wagner (PT) foram estas: ‘Pobre não tem raiva de rico, pobre tem raiva de exclusão social’. Nesse contexto, é triste observar que o PSB – Partido Socialista Brasileiro -, que representava uma resistência de esquerda, socialista e democrática, tenha que se aliar a Aécio Neves renegando compromissos programáticos e estatutários e jogando no lixo da história a oposição que sempre moveu contra o governo FHC e a direita brasileira.
É preciso dizer também que o Partido dos Trabalhadores teve o grande mérito de trazer a público temas importantes que estiveram sempre escondidos ou deliberadamente escamoteados. O PT secularizou a política no Brasil. Por exemplo, trouxe a público diversos temas como a desregulamentação dos créditos bancários subsidiados. O partido é contra este procedimento visto que abalaria a política de moradia e o financiamento agrícola. Além disso, o PT trouxe a discussão pública sobre o regime de exploração do pré-sal, a manutenção das políticas distributiva e a defesa de uma política externa independente. O partido contribui enormemente, diz o jornalista Breno Altman, para que os mais diversos temas, originalmente embutidos em papelórios para poucos leitores, viessem a ser conhecidos e discutidos. O jornalista disse ainda que o Brasil ganharia muito se Aécio Neves seguisse o bom exemplo do PT e trouxesse na mesa de discussões uma apropriada comparação entre os oito anos da gestão tucana e os 12 anos do governo petista.
Por fim, nestas eleições não estaria em jogo a disjuntiva maniqueísta: verdade versus mentira. Mas, a defesa de um alinhamento a perspectivas ideológicas que encarnam, num mesmo país, interesses de camadas sociais diferentes, com modos de vida dessemelhantes e necessidades econômicas e sociais muito distintas.
*O autor é cientista político e professor da UEPG
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