"Eu vou ser ser bem sincero. Eu aprendi a amar o Neymar. Ele é um dos jogadores que mais se entregou ao grupo nesta Copa do Mundo. Colocou a Seleção muito acima do seu talento. Não teve essa história de ego. É um drama o que aconteceu com ele. Mas não vamos jogar por ele, não.
Vamos dar a vida para tentar ganhar da Alemanha. Mas por cada um de nós que formamos o grupo. E lógico que o Neymar tem o seu lugar. Mas aqui ninguém é mais importante do que ninguém. Somos 23 jogadores com a sorte imensa de representar 220 milhões, um país, uma nação. É por ela que iremos colocar a alma para tentar buscar essa Copa."
São declarações dessa natureza que fizeram David Luiz o grande líder da Seleção nesta Copa do Mundo. Personagem carismático, midiático, sincero. E cada vez mais importante. Como nesse momento, sem Neymar fora da Copa e Thiago Silva, suspenso.
"Escute bem o que vou falar. Quem jogar no lugar do Neymar e do Thiago vai entrar e resolver. O nosso grupo é forte demais. Confiamos no potencial de todos os jogadores que estão aqui.
O Dante ou o Henrique, quem entrar vai jogar até com mais fome do que eu e o Thiago Silva. Sonharam tanto como a gente estar nesta Copa. O Felipão sabe tirar o melhor de cada um. Não concordo que somos dependente de quem quer que seja. Somos uma equipe forte, muito forte. Não um time. Aliás, o Brasil não é só Neymar. Vamos entrar com um time fortíssimo contra a Alemanha. Não duvidem da força do nosso elenco."
David Luiz é mineiro de Juiz de Fora. Saiu de casa para jogar futebol com 12 anos. Foi dispensado do São Paulo por ser considerado baixo nas categorias de base. Hoje, ele tem 1m89. Foi para o Vitória. De lá, empresários o levaram para Portugal. Fez muito sucesso no Benfica.
Acabou sendo comprado a peso de ouro pelo Chelsea. R$ 75 milhões mais o sérvio Matic, avaliado em R$ 20 milhões. Na Inglaterra estourou para o mundo. Ganhou a Copa da Inglaterra, a Liga Europa e a Champions. Se firmou como o zagueiro mais valioso e todos os tempos. O PSG acaba de pagar R$ 132 milhões por ele.
Se esperasse um pouco, o Chelsea faturaria ainda mais. O Mundial está sendo excepcional na carreira do brasileiro. Até as oitavas foi escolhido como nada menos do que o melhor jogador da Copa. Com média de 9,79 pontos. Na frente de Messi, Neymar, Robben, Thomas Müller, James Rodrígues, Benzema, Cristiano Ronaldo.
Há a enorme possibilidade de ele ter aumentado ainda mais sua nota depois da exuberante partida contra a Colômbia. Seus números nas cinco partidas da Copa. 31 bolas roubadas, 78% de passes certos e marcou dois gols.
A liderança é algo nato em David Luiz. Com a suspensão de Thiago Silva, ele será o capitão do Brasil contra a Alemanha. Mas a tarja não quer dizer nada. O zagueiro é o jogador mais vibrante entre os brasileiros que disputam essa Copa. Está sempre falando, orientando, cobrando e, principalmente, incentivando os companheiros. Até mesmo nos raros coletivos que Felipão deu até agora, ele elogia algum reserva que faz grande jogada. Não há como ser adorado pelos companheiros.
Dentro de campo, para os adversários, ele não é esta candura toda. Várias vezes depois de uma dividida, ele peita o rival até fora do lance. Encara, fala, provoca, xinga. Sabe usar sua experiência na Europa para se impor. De anjo talvez só o cabelo.
A torcida e os patrocinadores se apaixonaram pelo zagueiro. Em todas as partidas do Brasil são comuns perucas, camisas e até fotos do jogador. Ele já é garoto propaganda de oito marcas diferentes neste Mundial. DirecTV, Vivo, Seguros Unimed, Gatorade, Pepsi, TAM, Nike e Itaú.
O mercado comentava em tom de descrença. Mas é verdade, mesmo. Ele teve proposta de duas cervejarias importantes antes da Copa do Mundo. Só que o jogador se recusou. Alegou que não bebe e que sua imagem está ligada demais às crianças e adolescentes. Dispensou as propostas milionárias. Os jogadores da Seleção comentam com orgulho esta postura.
David Luiz também tem outra qualidade discreta. Ele é leal demais. Percebeu o quanto Thiago Silva foi criticado por chorar demais contra o Chile. E os elogios foram todos para a sua postura, mais firme do que a do capitão. O que ele fez contra a Colômbia? Se conteve.
Mudou sua postura radicalmente. Foi discreto com os companheiros. Deixou Thiago Silva tomar à frente desde o aquecimento. Esperto, quando percebia as câmeras filmando e mostrando o que acontecia nos vestiários para os telões, o zagueiro ficava balançando a cabeça, concordando com as palavras de Thiago. Isso é ser além da amigo, é parceiro de verdade.
Ele foi um dos atletas que mais ficou ligado a Neymar. Chorou ao saber que não continuaria no Mundial. E também na despedida do camisa 10 da granja Comary. A amizade entre a dupla também é emocionante. Muitos jogadores que estavam perto dos dois choraram ontem ao ver o abraço que trocaram.
Só explodiu na hora em que marcou o gol de falta, o seu segundo na Copa. "Marquei porque ando e bato na bola com os pés virados para fora, o famoso 'dez para as duas'", ironizou. Na verdade, o gol não foi por acaso. Ele treina muito a cobrança de faltas. Um pouco mais longe da área. Costuma bater com força e direção.
Alucinado de felicidade, Felipão comparou a sua batida na bola com a de Marcelinho Carioca. Puro delírio. Mas explicável. Felipão não poderia estar mais contente como o seu zagueiro. Além do excelente futebol, ele tem importância fundamental nas preleções, nas conversas com o time na preparação para o jogo.
Mas o que fascina Felipão, ex-beque tosco do interior do Rio Grande do Sul, são a simplicidade e a lealdade do jogador. Ele é o zagueiro mais caro de todos os tempos. E faz questão de ser tratado como qualquer um no grupo. E não para de incentivar, valorizar os companheiros.
Nos momentos de maior pressão, quando o time era mais cobrado, enfrentou a imprensa com personalidade. Não fugia das entrevistas como muitos consagrados fizeram.
"Ninguém pode desmerecer o trabalho desse grupo. Pode ser que até não joguemos bem. Mas todos estão dando a alma para fazer o melhor pelo Brasil. Sem exceção. Temos o privilégio e orgulho de representar a nossa nação de 220 milhões de habitante. Queremos e estamos fazendo de tudo para tentar ganhar a Copa. E o mínimo que esse grupo exige é respeito", fala encarando o jornalista.
Thiago Silva é um excelente jogador. Tem uma liderança importante, silenciosa.
Mas o verdadeiro capitão da Seleção na Copa de 2014 sempre foi David Luiz...
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