Por Cmarinsdasilva,
Quando se é criança o imaginário reflete tudo aquilo que nos cerca. O grande lance do jogador, que passando por oito adversário, com seus dribles desconcertantes, daqueles que só o “Mr M” poderia revelar, pois só a mágica teria a capacidade de explicar como aquela jogada foi possível, marcar o gol e partir para a torcida ensandecida, comemorando loucamente aquele sensacional golaço. O piloto que com seu avião e manobras rasantes destruía todo exército nazista e salvava a cidade sitiada a vários dias por seus algoses opressores armados. O Cowboy que com uma arma e sozinho, enfrentava os peles vermelhas e seus gritos de terror, mas tinha também o melhor de todos, com seus golpes de karaté, kung fu que encarava dezenas de adversários, movimentos que superava as leis de newton, e todos os outros estudiosos, pois ali estava o Bruce Lee, não era qualquer um, era o homem capaz de realizar o impossível com seu corpo. Bons tempos. Lembrar com romantismo, aquilo que fez parte da minha infância e do meu imaginário.
Hoje estou mais maduro, o tempo apagou aquele poder de imaginar histórias de mentira, de faz de conta. O tempo me apresentou outras formas de ver a vida, de encarar a realidade com sua forma real e fria, o dia a dia de luta por sobrevida nessa sociedade competitiva. Agora, o imaginário infantil de hoje, será que também mudou?
Acredito que não, mas as influências, com certeza, mudaram.
Falo isso com o coração cheio de tristeza, pois o que vi hoje quando caminhava para minha casa, após desembarcar do ônibus, não só o que vi, mas o que ouvi antes da visão.
- Sangue! Tem que bater forte para arrancar sangue. Disse uma voz bem infantil, uma voz de menino.
- Espera ele baixar a guarda e bate, bate forte. Disse outra voz, agora de menina.
- Chuta, chuta na perna. Falou novamente o menino, nesse instante já podia ver, pois havia apresado o passo com intenção de separar uma provável briga de meninos…O que vi me deixou arrasado.
Dois meninos lutavam em “ring imaginário”, corpo esguio, sem camisa e nas suas mãozinhas pequenas luvas improvisadas com pano e espuma, aquela usada para proteger os dedos dos lutadores de rinha humana, que são televisionada ao vivo, ou reprisada várias vezes por dia em determinadas emissoras. O rostinho de um dos meninos, o mais magrinho, estava bem avermelhado, acredito ter sido por algum golpe desferido por seu pequeno oponente, que tinha um arranhão em sua costa. Pequenos grandes homens com plateia de meninos incitando e aconselhando nos movimentos dos galinhos de briga, só faltou as apostas.
Aquela cena fez com que a minha viajem através dos tempos fosse mais profunda, minhas perguntas, aquelas que não queriam calar: “Que influência é essa? Que contribuição esse tipo de influência teria no futuro daquelas crianças? Como tão jovens, tão violentos? Que esporte é esse? Rinha de galo é proibida, porque esse tipo de violência é permitida? Quem banca, patrocina tanta violência? Por que tanta permicidade? Como fica aqueles pais que dependem da mídia para entreter seus filhos,quando ausêntes?” As perguntas pareciam não ter fim, infinita, pois quanto menos importamos e menos questionamos pior são as ações. O que fazer para evitar esse tipo de influência no cotidiano de nossos meninos? Proibir de assistir a televisão nos horários que ocorrerem as rinhas humanas? Desligar a televisão, a prostituta de nossos lares, no horário que ocorrerem essas batalhas sanguinolentas? Pois a violência é exposta com sangue, suor e muita dor.
Imaginar aquela família onde o casal, que trabalha junto para garantir sobrevivência doméstica, onde seus filhos após o horário de estudo, estejam em casa, entretidos com a programação televisiva, que no nosso desejo fosse alguma programação de caráter educacional, mas que figura mesmo são esse tipo de aberração, esse tipo de violência, exposição desnecessária. Quem regula? Por que isso, com tanta violência?
Não desejo proibir programação alguma, não desejo que as pessoas que gostam desse tipo de violência, sejam impedidos de seus direitos sagrados de liberdade de expressão, não desejo censura na produção televisiva. Desejo sim, e tenho muita fé, e acredito ser o desejo de muitos pais de família, que os responsáveis pelas programações televisiva, tenham sensibilidade e evitem de expor nossas crianças a esse tipo de violência descabida e desnecessária.
Um pai que acabou de ver uma chamada na televisão para rinha humana a ser realizada nesse final de semana, com socos e pontapés em rede nacional e horário totalmente equivocado.
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