Por Aldo Arantes, no sítio Vermelho:
A mídia conservadora já julgou e condenou os envolvidos no chamado “mensalão”. Procuram agora compelir o STF a julgar o caso segundo esta posição. E, fato grave, há ministros que estão “jogando para a plateia”, em sintonia com a mídia. Manifestam-se claramente já definidos pela condenação dos acusados, mesmo que para isto seja necessário atropelar jurisprudências consolidadas pela própria Corte Suprema.
O professor de Direito da PUC de São Paulo Pedro Serrano publicou artigo na revista Carta Capital sob o título “Juízo de Exceção na Democracia”, onde afirma: “A Corte (STF) tem adotado posições de constitucionalidade duvidosa e de mudança evidente em sua recente, mas incisiva jurisprudência no âmbito penal”.
Tal alteração se expressa na chamada “teoria funcional dos fatos”, do direito alemão. Segundo o procurador geral Roberto Gurgel, seguindo aquela teoria, “autor é aquele que tem o controle final do fato”. Não é só “quem realiza a conduta típica, mas sobretudo, quem chefia a ação criminosa. Quem planeja a atividade criminosa dos demais integrantes do grupo”. Com isto fica colocada de lado a necessidade de provas para condenar uma pessoa acusada de cometer determinado delito.
A adoção de tal fundamento jurídico visa criar as condições para condenar o chamado núcleo político do “mensalão”. Isto porque, tanto o procurador geral Roberto Gurgel como o ministro Joaquim Barbosa coincidem em afirmar a dificuldade em encontrar provas para a condenação do chamado núcleo político. Na falta destas alteram-se as regras do jogo aceitas até agora.
Por outro lado, até agora a comprovação do crime de corrupção exigia o “ato de ofício” para caracterizar a culpa do acusado. Trata-se de um ato ilícito praticado por administrador, no exercício da sua função.
Como não é necessário prova para condenar, nesta nova interpretação jurídica, chega-se ao absurdo em que o ônus da prova passa a ser do acusado e não do acusador.
Tudo isso acarreta a subversão de princípio fundamental do direito penal em que, quando há dúvida, a decisão judicial deve favorecer o acusado (in dubio pro reo). Todavia, com estas alterações o princípio passa a ser “na dúvida, contra o réu”.
Toda essa alteração da jurisprudência do direito penal tem por objetivo condenar os acusados do chamado “mensalão”, independentemente de provas. Isto para ratificar o julgamento e condenação já feita pela mídia conservadora.
Fato grave é que este julgamento está sendo realizado no período eleitoral. A oposição e a mídia conservadora procuram tirar o partido dessa situação explorando o fato para fragilizar a base do governo e fortalecer a oposição.
O fato objetivo é que, independentemente das explicações do STF, a realização deste julgamento no período eleitoral favorece a oposição e os setores conservadores do país. A imprensa traz farto noticiário desta utilização pelos partidos da oposição.
O sentido geral de toda essa movimentação é claramente político. Visa fragilizar a liderança do presidente Lula. Visa torpedear o projeto econômico e político adotado a partir do governo presidente Lula que teve continuidade no governo da presidenta Dilma. Em decorrência da realização de um governo voltado para os trabalhadores e o desenvolvimento do país, Lula se transformou na maior liderança política brasileira. Isto deixa as elites irritadas e a oposição sem bandeiras.
Na história política brasileira a direita sempre utilizou a denúncia de corrupção como arma contra presidentes que se colocaram ao lado dos trabalhadores. Isto ocorreu com o presidente Getúlio Vargas que foi levado ao suicídio acusado de ser o responsável pelo “mar de lama” que existiria no seu governo. Também ocorreu com o presidente João Goulart contra o qual foi desencadeado o golpe de 1964.
E este foi o mote da campanha contra o presidente Lula em seu primeiro mandato. A oposição pretendia o impeachment do presidente Lula. E a vida demonstrou que a política por ele adotada conduziu o país ao crescimento econômico, à melhoria das condições de vida do povo brasileiro, ao aprofundamento da democracia e a afirmação do país como nação soberana. Hoje, o Brasil é um país respeitado em todo o mundo.
Os democratas reivindicam um julgamento isento e com base nas provas. Defendem a condenação daqueles cujos crimes forem comprovados e a absolvição daqueles cujas acusações não forem comprovadas.
As forças democráticas e progressistas não podem se omitir face a tão graves a manipulações. A onda em defesa de um justo julgamento ganha amplitude. O PT, PMDB, PSB, PDT, PCdoB e PRB assinaram nota de solidariedade ao ex-presidente Lula e contra a iniciativa dos partidos de oposição de tentarem abrir um processo contra o ex-presidente.
Intelectuais, artistas, cientistas assinaram uma Carta Aberta ao Povo Brasileiro onde se afirma “somos contra a transformação do julgamento em espetáculo” e mais “repudiamos o linchamento público e defendemos a presunção de inocência”.
Esta onda necessita crescer, envolvendo os movimentos sociais e todos os setores comprometidos com o aprofundamento das conquistas democráticas. O futuro político e econômico do país está em jogo. Não podemos aceitar retrocessos.
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