Do Blog Fatos Novos e Novas Ideias,
O presidente Hugo Chávez vencerá as eleições presidenciais de Outubro, como indicam todas as pesquisas. Mas não me refiro aqui apenas à vitória eleitoral. Estou falando da irreversibilidade da Revolução Bolivariana.
E a Revolução é irreversível não só pela consagração popular, revelada nas eleições, como porque está arraigada por diversos mecanismos psicossociais e institucionais. Sobressai, nesse aspecto o comprometimento das Forças Armadas com a perenidade da Revolução e as organizações populares de base.
Estas organizações populares já demonstrarão sua efetividade durante a tentativa de golpe contra o presidente Chávez de abril a dezembro de 2002. Na ocasião consolidou-se também a solidariedade logística e diplomática do Continente através de países amigos, o Brasil entre eles.
Parece claro que a burguesia apátrida que não vacila em aliar-se a potências inimigas para usurpar o poder perdeu sua capacidade de ação efetiva. Entretanto, resta analisar os rumos da Revolução Bolivariana.
As afinidades com Cuba são evidentes, mas isso não significa que a Venezuela copiará o modelo cubano. Cuba é um ícone vivo da revolução socialista internacional. Todavia é preciso dar muitos passos à frente no sentido de atualização teórica do marxismo revolucionário.
No contexto em que foi dita, a frase de Lênin estava absolutamente correta: “O Imperialismo é a fase superior do Capitalismo”. Na atual contexto, com muitas características de pós capitalismo e que chamo de O Crepúsculo do Capital, seria correto dizer que o Neufeudalismo é a etapa superior do Imperialismo.
O que caracteriza está fase crepuscular é a incapacidade de o Capital (enquanto sistema global) de acumular seu próprio excedente. Disso resulta sua migração para o Setor de Serviços, onde o capitalista individual obtém seu lucro, mas onde o Capital (enquanto sistema global) não tem com o acumular.
Esta acumulação só ocorre no setor efetivamente produtivo, onde ocorre a metabolização entre o excedente de trabalho com a base material do sistema: os recursos naturais.
Temos, então, que sob o ponto de vista geográfico, mas principalmente sob o ponto de vista de seu próprio estágio, o Capital, em sua fase terminal (crepuscular), perde algumas de suas características essenciais.
E,neste ponto é crucial que e entenda que com o esvaecimento capitalista, ocorre o esvaecimento, também, de suas duas classes protagonistas, a burguesia e o proletária. Isto ocorre via terceirização, leasing, cessão de uso de marcas. Tanto a burguesia quanto o proletariado passam por um processo de avassalamento ou feudalização, diante do Sistema que ainda é capitalista, mas, concomitantemente, já é neofeudal.
Sempre que toco neste tema tenho o hábito de acrescentar um outro texto já antigo, onde procuro de forma sintética, explicar, ao leitor não habituado com os textos marxistas, o processo íntimo da acumulação do Capital.
Eis o texto:
O Crepúsculo do Capital
Todos comentam a atual crise econômica mundial, mas poucos percebem que ela é, na verdade, uma crise do próprio modo de produção capitalista. Trata-se de um sistêmico que aponta para crescente incapacidade de o Capital acumular o seu próprio excedente. É a fase crepuscular ou terminal. Entender isso não é muito complicado desde que se saiba, preliminarmente:
1-O Capital é, em si, um excedente. Excedente de trabalho (próprio ou alheio) que não é consumido e sim acumulado.
2-O Capital só obtém lucro efetivo na sua parte variável, dinheiro vivo reservado para pagamento de salários. É essa a parte do Capital que retorna ao bolso no proprietário, inflado pelas horas excedentes (não confundir com horas extras) de trabalho não pagas, a famosa mais-valia.
3-A parte fixa ou constante do Capital, máquinas e equipamentos (e insumos também) não fornece, a rigor, nenhum lucro ao capitalista. Isto, pela boa razão de que ela transfere o seu próprio valor para o valor da mercadoria que ajuda a produzir. No caso dos insumos (energia e matérias-primas) esta transferência é instantânea. No caso de máquinas a transferência pode levar anos. Mas, inexoravelmente, insumos, máquinas ou equipamentos se exaurem, cedo ou tarde, na produção das mercadorias. Entretanto, é aqui, na sua parte constante, que o Capital acumula.
4-A última frase do item anterior não é gratuita: o Capital só materializa e fixa os lucros obtidos com a rodada anterior de exploração do trabalho, quando investe em novas máquinas e em mais terrenos e edificações. É assim e só assim que ele realiza sua acumulação ou, mais propriamente, sua reprodução ampliada. Pois é assim que ele amplia sua capacidade de explorar mais trabalho a partir da mesma base inicial.
Agora reparem (e isto é estampado diariamente pela mídia) que o Capital está em permanente revolução interna, sempre substituindo sua parte variável (salários e mão de obra) pela parte constante (máquinas e equipamentos). É a automação vertiginosa que acomete o Sistema nesta sua fase terminal. Quando as máquinas e equipamentos perdem densidade de valor ou simplesmente tornam-se descartáveis (substituídas em prazos cada vez mais curtos), o Capital vai, concomitantemente, perdendo sua capacidade de acumulação.
Então, fica nítida a noção de que, principalmente nos países tecnologicamente mais adiantados, o Capital (entendido aqui como o conjunto de capitais – o Sistema), vai despregando-se daquela parte que dá lucro, bem como daquela onde ocorre a acumulação efetiva.
Quando isto ocorre, o Capital toma três rumos: a- deixa de ser produtivo e transforma-se em capital de serviços que dá lucro, mas não realiza a acumulação clássica que só ocorre (como foi exposto acima) no capital efetivamente produtivo, industrial ou agrícola; b- ingressa no cassino especulativo e passa a obter a maior parte de seus lucros não mais no chão da fábrica, mas no departamento financeiro e c- migra para a periferia do sistema, os países em desenvolvimento, onde ainda é possível obter altas taxas de mais-valia, em função da mão de obra barata. Neste último caso, China, Índia e Brasil são três excelentes exemplos.
Enfim, creio que aí está um pequeno, porém eficiente, roteiro para acompanhar a atual crise com melhor capacidade de percepção dos fenômenos que são subjacentes a ela e vão muito além das baboseiras repetidas à exaustão pela mídia pobre e podre.
Reparem, ainda, que o que foi dito aí em cima, não é simples literatura marxista dogmática e sim leitura correta dos antigos clássicos da economia como Adam Smith, David Ricardo e Jean-Baptiste Say, em cujos textos Marx colheu os fundamentos para desenvolver sua teorias sobre a acumulação capitalista. Um processo que chega agora à sua fase crepuscular.
O Neofeudalismo
A esta fase crepuscular eu dou o nome de Neofeudalismo, a etapa superior do Imperialismo.
O Neofeudalismo tem como principal característica a monopolização e/ou oligopolização extremas e a nível mundial. Some-se a isso, a terceirização da produção. As grandes corporações cedem a terceiros avassalados, sua marca, suas invenções e modos de produção e venda. Assim, passam (eis aí o aroma feudal) a auferir renda com algo que é de sua propriedade, sem se imiscuirem na produção propriamente dita.
Com isso, como já é visível a olho nu, há uma total revolução das relações do trabalho, somada ao crescente descarte de mão de obra, por conta da vertiginosa automação. Nasce aí o chamado desemprego estrutural.
E desemprego estrutural é um eufemismo, um nome técnico que se dá a algo brutal: a exclusão definitiva de populações inteiras ao redor do Mundo. Populações que se tornam excedentes e descartáveis enquanto elementos do processo produtivo.
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