Profissionais de saúde e representantes da indústria farmacêutica lotaram a audiência pública da Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados que discutiu os benefícios e os problemas da nutrição parenteral, quando o paciente é alimentado por substância introduzida diretamente em seu sistema circulatório.
A discussão principal foi sobre as vantagens e as desvantagens dos dois tipos de produto: o industrializado, que já chega pronto aos hospitais; e o manipulado, que é fabricado de acordo com as necessidades específicas da pessoa que está doente.
Os dados apresentados por especialistas de diversas áreas da saúde não mostraram, por exemplo, a predominância de um ou de outro tipo de alimentação como causa de infecção nos pacientes.
Os preços dos produtos também são equivalentes, mas variam muito: em Brasília, por exemplo, cada bolsa pode custar entre R$ 500 e R$ 1 mil. O Brasil utiliza cerca de 840 mil bolsas de alimentação manipulada por ano, contra 248 mil de alimentação industrializada pronta.
Riscos
Durante a audiência, médicos como Ricardo Rosenfeld, da Associação Brasileira de Medicina Intensiva, salientaram que, independentemente do tipo de alimentação parenteral que se usa, os riscos são grandes.
"São as fórmulas mais complexas que existem no hospital, porque lá estão misturados até 50 produtos dentro, e nós achamos que aquilo tudo está funcionando muito bem. É um processo complexo de produção, é uma mistura propícia ao crescimento microbiano", afirmou.
Representantes das indústrias que fabricam a alimentação pronta reclamaram da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tratamento equivalente ao da alimentação da indústria manipulada, em termos de regulação e política de preços. A Anvisa informou que há impedimentos legais para que se fiscalize os manipulados e os industrializados da mesma maneira.
Para a presidente da Comissão de Legislação Participativa, deputada Flávia Morais (PDT-GO), o controle de preços pode beneficiar os consumidores contra eventuais abusos das indústrias.
Liberdade de escolha
Já a representante do Conselho Federal de Farmácia, Maria Rita Novaes, disse que a liberdade do profissional de saúde é essencial para que se faça a escolha correta entre um ou outro produto alimentar. "É muito importante o prescritor ter a independência na sua prescrição, e o hospital também poder utilizar vários tipos de nutrição parenteral", afirmou.
Maria Rita Novaes fez um levantamento em 640 artigos científicos sobre alimentação parenteral, publicados entre 1986 e 2016. Em 60% dos casos de contaminação descritos pelos cientistas, os agentes causadores de problemas não foram as bolsas de alimentos industrializados ou manipulados: foram os cateteres utilizados para introduzir a alimentação na corrente sanguínea do paciente.
Agência Câmara Notícias