Raro e pouco estudado, animal que só existe no Brasil corre risco de desaparecer. Mas 2014 pode ajudá-lo a driblar o perigo; a bola começa a rolar domingo, com anúncio da Fifa
Em 2014, não será apenas o título de campeão da vigésima Copa do Mundo que estará em jogo nos nossos campos de futebol. Mas também o futuro de um pequeno e dócil animal genuinamente brasileiro, o tatu-bola. No próximo domingo, durante o programa Fantástico, da TV Globo, o público conhecerá as três opções de nome escolhidas pela Fifa para o bichinho, que será anunciado oficialmente como mascote. Esse episódio marcará o começo de uma longa batalha por sua sobrevivência.
O título de embaixador dos jogos será um divisor de águas para a espécie, que em breve passará da classificação “vulnerável” para “criticamente ameaçada”, na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN). “Ao ganhar os olhos do mundo, durante a competição, tudo pode mudar”, diz o biólogo Rodrigo Castro, coordenador da campanha que promoveu o tatu-bola como um dos candidatos a mascote.
A sugestão da candidatura foi feita em fevereiro pela ONG Associação Caatinga, sediada no Ceará, que atua em prol da preservação da biodiversidade do bioma na região Nordeste. Para Castro, a grande visibilidade proporcionada pelo evento pode atrair patrocínios vultosos para projetos de conservação do animal. “Meu sonho é daqui a 20 anos olhar para trás e ver que 2014 foi a Copa que salvou o tatu-bola da extinção”, almeja.
Da Caatinga para o mundo
O desafio é grande. Além de só ser encontrado no Brasil, nosso mascote é a menor e a menos conhecida das 11 espécies de tatu do país. Para se ter uma ideia, não se sabe quantos são e onde estão seus indivíduos. Sabe-se, no entanto, que a distribuição da população se restringe à Caatinga e ao Cerrado, regiões onde as ameaças crescem em proporção inversa a do conhecimento sobre a espécie. Segundo maior bioma da América do Sul, depois da Amazônia, o Cerrado já perdeu mais da metade de sua área, e a Caatinga, mais de 60% da cobertura original. Tanto que hoje, segundo Castro, as maiores à espécie são o desmatamento, a expansão da agricultura e pecuária.
Mas, durante muito tempo, a caça foi o principal vilão. Quando se sente ameaçado, o animal tem a habilidade de se enrolar e assumir a forma de uma bola, protegendo as partes moles do corpo no interior da carapaça rígida, o que justifica o nome de tatu-bola (veja no vídeo abaixo). Essa peculiaridade é um escudo poderoso contra predadores da natureza, mas que torna o animal uma presa fácil para os humanos. “Ele pode ficar hermeticamente fechado nessa posição por até duas horas. É muito fácil para um caçador pegá-lo com as mãos”, explica o pesquisador, destacando que hoje a caça ao animal está restrita a regiões onde ele ainda ocorre, como Tocantins e Goiás.
"Há muito trabalho pela frente", reconhece o biólogo, destacando a necessidade de mais pesquisas para conhecer melhor a espécie, identificar e promover a conservação de áreas-chave para sua sobrevivência e levar educação ambiental para a sociedade. "É preciso mostrar ao Brasil a riqueza de sua biodiversidade e a Copa 2014 é a oportunidade para deixar esse legado ambiental”, diz. "Seria um belíssimo gol de placa".
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