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Divulgando Aloysio Biondi parte I

3 de Dezembro de 2012, 22:00 , por Dagmar Olindo Vulpi - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Pretendo fazer uma série de curtos textos divulgando parte do trabalho do Aloysio Biondi* 
Adianto que, caso haja entre os distintos leitores deste texto algum investidor, que não se empolgue, pois essa mamata foi anos atrás, e os espertos daquela época não perderam a oportunidade e hoje estão trilionários.
“Compre você também uma empresa pública, um banco, uma ferrovia, uma rodovia, um porto. O governo vende baratíssimo. Ou pode doar. Aproveitem a política de privatizações do governo brasileiro. “negócios da China” para os “compradores”, mas péssimos para o Brasil.” Escreveu Aloysio Biondi no seu livro - O Brasil privatizado Um balanço do desmonte do Estado.
Se o amigo leitor tiver um tempinho sugiro que pegue uma calculadora e faça as contas dos números que aparecerão na seqüência, não que você vá ganhar algo com isso, o máximo que poderá ganhar é uma sensação de ter sido roubado, mas vale o exercício para calcular quanto foi perdido.
Não que esse tenha sido o melhor negócio para aqueles que investiram na compra de empresas publicas, mas vamos começar pela telefonia.
Muito bem, antes de vender as empresas telefônicas, o governo investiu 21 bilhões de reais em dois anos e meio naquele setor.  O nosso representante máximo da época juntamente com seu ministro e sabe lá mais quem, concluíram que já estava na hora de sairmos daquela situação, onde, para os menos favorecidos a única forma de se comunicar via telefone era precariamente e através de orelhões públicos, pois comprar uma linha telefônica naquela época era privilégio para uma diminuta e afortunada parcela da população.
Depois do astronômico investimento de 21 bi, sabe-se lá por quais cargas d’água nosso senhorio resolveu vender tudo por uma “entrada” de 8,8 bilhões de reais ou menos – porque financiou metade da “entrada” para grupos brasileiros.
As empresas telefônicas realmente deixavam muito a desejar, eu tive o privilégio de estagiar numa delas, mais precisamente da Telest (Telecomunicações ES), e pude comprovar que a tecnologia era arcaica, se é que podemos chamar aquilo de tecnologia. Lembro da sala onde trabalhavam as telefonistas, com fones nos ouvidos e dezenas de cabos conectores nas mãos, ficava um amontoado de mulheres completando as ligações, não havia uma ligação feita naquela época que obrigatoriamente não passasse pelas mãos daquelas pobres mulheres.
E aí chegou a tecnologia, graças a aquele bendito investimento do governo federal. Eu que estava prestes a ser efetivado, completei o contrato de estágio e fui cantar em outra freguesia, aquelas mulheres da tal sala, muitas com mais de 20 anos de serviços prestados, foram colocadas em disponibilidade, mas essa não foi a parte ruim do investimento. Logo após as privatizações as coisas pioraram, irritada, tentando há 15 minutos utilizar um orelhão, Maria coloca o telefone no gancho e desabafa:
– Esse demônio só liga em número errado... É o terceiro orelhão com defeito em que estou tentando, e preciso falar urgente com meu filho, que vai sair para a escola...
– É, tá um inferno mesmo – retruca o Zé, no orelhão ao lado. – E olhe que já estou sendo forçado a vir fazer ligações no orelhão porque o telefone lá de casa está mudo há duas semanas...
E disseram que tudo ia melhorar com a tal privatização...
“Telefone instalado, já, já, até em São José da Tapera”.
Lembra do anúncio na televisão? Este país...
Diálogos igualmente indignados repetiram-se aos milhares, nas principais cidades brasileiras, nos últimos meses. Não apenas por causa das “telefônicas”, tristemente famosas, mas também em razão dos desastrosos “apagões” da Light, da Eletropaulo, do “raio de Bauru”... 
Ou dos postos de pedágios que brotaram como cogumelos nas rodovias de São Paulo, Paraná etc., antes mesmo de as empreiteiras “compradoras” terem executado um único centímetro de pista nova... Ou dos bancos, que fecham agências em cidades onde eram os únicos a atender à população... Ou das ferrovias, que não cumprem metas, mas aumentam os fretes... Ou dos fertilizantes, defensivos, remédios para o gado, antes produzidos no país e agora importados e, por isso mesmo, pagos em dólar pelos agricultores...
Todos esses desastres já criaram a convicção de que o famoso processo de privatização no Brasil está cheio de aberrações. Não foi feito para “beneficiar o consumidor”, a população, e sim levando em conta os interesses – e a busca de grandes lucros – dos grupos que “compraram” as estatais, sejam eles brasileiros ou multinacionais. Mas há mentiras ainda maiores a serem descobertas pelos brasileiros, destruindo os argumentos que o governo e os meios de comunicação utilizaram para privatizar as estatais a toque de caixa, a preços incrivelmente baixos.
A venda das estatais, segundo o governo, serviria para atrair dólares, reduzindo a dívida do Brasil com o resto do mundo – e “salvando” o real. E o dinheiro arrecadado com a venda serviria ainda, segundo o governo, para reduzir também a dívida interna, isto é, aqui dentro do país, do governo federal e dos estados. Aconteceu o contrário: as vendas foram um “negócio da China” e o governo “engoliu” dívidas de todos os tipos das estatais vendidas; isto é, a privatização acabou por aumentar a dívida interna. Ao mesmo tempo, as empresas multinacionais ou brasileiras que “compraram” as estatais não usaram capital próprio, dinheiro delas mesmas, mas, em vez disso, tomaram empréstimos lá fora para fechar os negócios. Assim, aumentaram a dívida externa do Brasil. É o que se pode demonstrar, na ponta do lápis, neste “balanço” das privatizações brasileiras, aceleradas a partir do governo Fernando Henrique Cardoso. 


Aloysio Biondi* - Jornalista econômico colaborou durante 44 anos com reportagens e análises para jornais e revistas. Começou na Folha de S. Paulo em 1956, ocupando o cargo de editor-executivo do caderno de Economia, que o jornal (já) mantinha na época. Ocupou os cargos de secretário de redação da Folha de S. Paulo e da Gazeta Mercantil. Foi diretor de redação do Jornal do Comércio (RJ) e do Diário Comércio & Indústria (SP). Também foi editor de economia das revistas Veja e Visão e editor de mercado de capitais (“pioneiro”, em 1969) de Veja e do jornal Correio da Manhã. Foi diretor editorial do grupo DCI/Shopping News. Ganhou dois Prêmio Esso de Jornalismo Econômico: 1967, revista Visão, e 1970, revista Veja. Faleceu em julho de 2000, na cidade de São Paulo.  

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