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A captura de Gaza pelos incorporadores do governo Trump (Por Paulo de Tarso Ricordi)

октября 17, 2025 11:12 , by Luíz Müller Blog - | No one following this article yet.
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A destruição de Gaza ainda não terminou e nos bastidores já se desenha um projeto que transforma tragédia em oportunidade. Donald Trump e aliados políticos em Israel tratam a reconstrução do território não como reparação, mas como negócio. Expressões como “bonança imobiliária”, “divisão do mercado de terras” e “Riviera do Oriente Médio” são a ideia de quem decide o futuro da Faixa.

Reblogado do Terapia Política

Da destruição ao negócio

Trump tem um plano para “tomar o controle administrativo” de Gaza e transformá-la em polo turístico e comercial. O projeto prevê a criação do Great Trust (Gaza Reconstitution, Economic Acceleration and Transformation), fundo que captará capital privado para reconstrução em troca de participação em empreendimentos futuros. Gaza, reduzida a escombros, seria reerguida como ativo rentável para investidores estrangeiros.

Trump e Kushner: negócio em família

A lógica empresarial vem do topo da cadeia produtiva (literalmente). Trump, incorporador de carreira com histórico de litígios por fraudes e falências estratégicas, descreveu Gaza como terreno fértil para “um projeto urbanístico moderno” e “um polo turístico de primeira linha”. Seu genro e conselheiro, Jared Kushner, herdeiro da Kushner Companies, classificou Gaza como “propriedade à beira-mar extremamente valiosa” e sugeriu que “parte da população poderia ser temporariamente relocada para que o território fosse limpo e reconstruído sob uma nova lógica urbana”.

Kushner não chega a essa negociação com ficha limpa. Em 2021, um tribunal de Maryland concluiu que empresas ligadas a ele cobraram “taxas enganosas” e despejaram ilegalmente inquilinos. No ano seguinte, pagou US$ 3,25 milhões para encerrar outra ação por práticas predatórias. O caso mais rumoroso envolveu o arranha-céu 666 Fifth Avenue, cuja dívida bilionária levou Kushner a buscar capital de fundos estrangeiros — inclusive do Catar — enquanto atuava como emissário diplomático da Casa Branca.

Com histórico de confundir política e negócios, Trump e Kushner transformam Gaza em extensão daquilo que sempre fizeram: empreendimentos lucrativos sobre terrenos em crise.

Negociadores ou incorporadores?

Não por mera coincidência, Trump escalou para negociar “a paz” em Gaza figuras que vêm do setor imobiliário. Steve Witkoff, fundador do The Witkoff Group, foi nomeado enviado especial para o Oriente Médio e visitou Gaza como parte do planejamento da reconstrução. Sua experiência em transformar bairros degradados em zonas de luxo o coloca no centro do que muitos já chamam de “recolonização imobiliária”.

Outro nome-chave é Tom Barrack, fundador da Colony Capital e atual embaixador dos EUA na Turquia. Em 2022, Barrack foi acusado de atuar como lobista de governos estrangeiros para facilitar investimentos – o que ilustra a interseção perigosa entre poder político e interesses privados. Fundos como o seu buscam ativos desvalorizados e concessões de longo prazo – exatamente o que Gaza destruída oferece.

Quando os responsáveis por negociar a paz são também potenciais beneficiários da reconstrução, o conflito de interesses deixa de ser exceção e vira método.

Netanyahu e Smotrich: a cumplicidade local

Nenhum projeto desse tipo avança sem a anuência de quem controla o território. E o governo israelense não tem escondido seu entusiasmo. Em 17 de fevereiro de 2025, Benjamin Netanyahu declarou à Al Jazeera: “Israel está comprometido com o plano do presidente dos Estados Unidos para a criação de uma Gaza diferente.”

Em 29 de setembro de 2025, ao lado de Trump em Tel Aviv, foi ainda mais explícito: “Eu apoio seu plano para encerrar a guerra em Gaza. Ele trará de volta todos os nossos reféns, desmantelará as capacidades militares do Hamas, encerrará seu domínio político e garantirá que Gaza nunca mais represente uma ameaça a Israel.”

Netanyahu também endossou a ideia de deslocamento dos palestinos. Em entrevista à Fox News em 5 de fevereiro de 2025, afirmou: “Eles podem sair e depois voltar… mas é preciso reconstruir Gaza.”

Se Netanyahu oferece legitimidade política ao plano, seu ministro das Finanças Bezalel Smotrich verbaliza mais cruamente o objetivo econômico da expedição bucaneira. Em 17 de setembro de 2025, em um encontro com empresários em Tel Aviv, disse: “Há uma verdadeira bonança imobiliária ali. É assim que o projeto se paga. Já iniciei negociações com os americanos. Não estou brincando. Foi uma conversa séria.” E acrescentou: “A fase da demolição está concluída; agora só precisamos construir.”

Em entrevista à Sky News no dia 18 de setembro de 2025, foi ainda mais direto: “Israel gastou muito dinheiro nesta guerra, então precisamos decidir como obteremos nossa porcentagem no mercado de terras depois, em Gaza.” A frase sintetiza o projeto em toda sua brutalidade: o massacre vira investimento; a destruição, oportunidade.

Smotrich fala em Gaza não como território habitado, mas como ativo imobiliário a ser predado por investidores.

Reconstrução ou espoliação?

Chamam de reconstrução, mas a lógica é outra. A criação de um fundo de investimento para Gaza, a presença de incorporadores à mesa de negociação e a retórica de “divisão de mercado” revelam um plano de privatização territorial. Resorts, marinas e zonas de livre comércio podem surgir onde hoje existem ruínas e campos de refugiados — não para os palestinos, mas para investidores internacionais.

Os riscos são profundos. Milhares de palestinos permanecem deslocados, sem garantias de retorno e sem voz nos planos que decidirão o destino de suas terras. A proposta de “realocação temporária” soa como eufemismo para expulsão permanente como no restante do território palestino invadido. E ao transformar Gaza em empreendimento, o projeto normaliza a ideia de que guerras podem se converter em oportunidades de lucro.

O plano de Trump para Gaza representa um conflito de interesses obsceno. Os negociadores são incorporadores imobiliários. Os promotores da paz calculam margens de lucro. E ministros falam em “bonança imobiliária” enquanto corpos ainda são retirados dos escombros.

Se levado adiante, Gaza deixará de ser símbolo do massacre e genocídio para se tornar um condomínio global — um território tomado não apenas por tanques, mas por tratores e escrituras. Sob a cumplicidade de Netanyahu e o entusiasmo mercantilista de Smotrich, os piratas da construção civil estadunidense herdaram Gaza — não para devolvê-la ao seu povo, mas para vendê-la.


Источник: https://luizmuller.com/2025/10/17/a-captura-de-gaza-pelos-incorporadores-do-governo-trump-por-paulo-de-tarso-ricordi/

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