
Nandi Barrios*
Quando setembro se aproxima e os preparativos para as comemorações da Semana Farroupilha e do Dia do Gaúcho começam, surgem na mídia e nas redes sociais textos abordando a Revolução (ou Guerra) Farroupilha.
As festividades contam com ativa participação do MTG, que se auto considera “guardião das tradições gaúchas” e elegeu como sua referência a Guerra Farroupilha. Na minha opinião, esta escolha do MTG foi ruim para o evento histórico e para a tradição e cultura gauchesca.
O movimento tradicionalista ao exaltar, de modo reacionário a Farroupilha, tratada como uma “epopeia”, onde “os heróis” (líderes das classes dominantes) são os verdadeiros representantes da “raça gaúcha”, recebe críticas pertinentes, principalmente da esquerda.
Porém, ano a ano, se repetem críticas, que, na ânsia de se contraporem a concepção tradicionalista, tratam os farroupilhas como um bloco homogêneo, generalizam infâmias de correntes farroupilhas, desconsiderando ideias republicanas e abolicionistas de outras correntes, reduzindo a importância desta revolta, que, assim como outras no Brasil e na Região Platina, enfrentaram impérios monarcas.
E muitas críticas ainda trasbordam para manifestações depreciativas da tradição e cultura gauchesca, confundindo estas com tradicionalismo.
Desta forma, ao se aproximar o setembro de 2025, apresento aqui considerações que produzi em 2023.
Desinterditando o diálogo
Estas considerações são motivadas, por um lado, pelo fato de há muito tempo companheiros/as da esquerda, individualmente ou coletivamente (setoriais, coletivos), manifestarem opiniões negativas (hostis até) sobre a “cultura gauchesca” e, por outro, a pouca ou nenhuma referência a mesma em teses, manifestos, programas e ações dos partidos de esquerda.
Tal situação, envolvendo militantes e quadros partidários (incluindo acadêmicos/as) possivelmente decorra de incompreensões ou de preconceitos ou, ainda, da visibilidade proporcionada a polemistas. A confusão mais corriqueira, no âmbito do “gauchismo” (área que abrange práticas e manifestações culturais relacionadas aos gaúchos, enquanto grupo social específico) é a associação inadequada (por desconhecimento ou discriminação) da “cultura gauchesca” com o “tradicionalismo” e sua institucionalização, o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), derivando para abordagens de episódios históricos do Rio Grande do Sul (RS), especialmente da “Revolução Farroupilha”, escolhida pelo MTG como sua principal referência.
Contrapontos a esta confusão, proposições de discussão sobre o tema aberta a diferentes angulações, visando uma intervenção política qualificada na cena do gauchismo, não raro, são tratadas com intolerância, chegando à interdição do diálogo.
Apostando na desinterdição e disposição para o diálogo, abordaremos algumas questões na intenção de que incompreensões e preconceitos sejam superados e a cultura gauchesca passe a ser considerada, ter visibilidade e vez nas discussões e propostas da esquerda para a sociedade.
Antes de avançar no texto é necessário dizer que diferenciamos cultura gauchesca ou gauchismo (entendendo o “nativismo” e “os missioneiros” como integrados neste) de “cultura gaúcha”, uma vez que “gaúcho/gaúcha” passou a ser sinônimo de sul-rio-grandense, referindo-se ao que é do RS (gentílico).
Nesta compreensão cultura gaúcha abarca uma rica diversidade cultural, decorrente da formação histórica e multiplicidade étnica do Rio Grande do Sul, incluindo as culturas gauchesca; dos povos originários (guaranis, Kaingang, minuanos e charruas); dos descendentes dos colonizadores espanhóis e portugueses, dos povos africanos (aqui chegados na condição de escravizados e de indivíduos livres) e dos imigrantes alemães, italianos, árabes, judeus, entre outros.
Os Gaúchos/gauchos
Para falar de cultura gauchesca/gauchismo, é necessário falar (mesmo que brevemente) dos “gaúchos/gauchos”, grupo social específico, com cultura própria, surgido no Pampa, bioma específico do sul da América do Sul. Oportuno frisar que nossa abordagem não é resultante de imaginação idealizada, mas sim calcada na bibliografia registrada ao final deste artigo, contando com autores reconhecidos, que, por sua vez, se basearam, entre outras fontes, em documentos primários e relatos de pesquisadores e viajantes.
Um dos primeiros registros da palavra “gaúcho” em documentos dos colonizadores data de 1771, porém, é certo que há uma precedência do uso oral da palavra. Identifica homens, a maioria mestiços de indígenas, espanhóis, portugueses e negros, vinculados a um ambiente/paisagem peculiar (o/a Pampa) e a lida, a cavalo, com o gado (introduzido no século XVII por espanhóis via Uruguai e Missões Guaranis-jesuíticas). Eram andarilhos que caçavam o gado, para vender a gordura e o couro ou trocar por produtos necessários para sobreviver. Vestiam camisas de algodão, chiripás (mais tarde bombachas), ponchos, vinchas, botas garrão de potro; portavam facas, adagas, lanças, laços, boleadeiras; comiam carne assada, tomavam mate; tinham por companheira ou amazias mulheres indígenas, negras e mestiças, por vezes brancas. Peleavam entre si e nas guerras de fronteira. Gaudérios, sem paradeiro, hábeis cavaleiros, vagavam pelos campos fora do alcance das autoridades, sentindo-se autônomos na imensidão do Pampa. Quando a Coroa espanhola regularizou a exploração do couro, foram considerados fora da lei e mais fora da lei ficaram quando, a partir de 1875, os campos começam a ser cercados. Marginalizados, o “oficial colonial e o viajante europeu” (Leal, 2021) em seus registros (euro)etnocêntricos tratou o gaúcho como bandido, marginal, rústico, vadio, selvagem. Alias, adjetivos também utilizados para indígenas e negros.
Os campos passaram a ser propriedade de poucos latifundiários, “afastando da posse da terra a multidão de gaúchos” (Golin, 1999) e indígenas, restando-lhes vagar nos campos, ser soldado nas guerras (dos séculos XVII ao XX), peão nas estâncias ou changueiro.
Nas estâncias, a sede era composta pela casa principal (patrão latifundiário, chefe político e militar); casa do capataz; galpão dos peões solteiros; senzala para negros/as escravizados; e, mais afastados, ranchos dos peões com família. Campereadas, rodeios, domas, cavalgadas, destreza no laço e na carneação; galpão, fogo de chão, roda de chimarrão, causos, trovas, lendas, proezas, falas em portunhol, mescladas com o guarani; churrasco, mocotó, puchero, pirão, quibebe, charque, batata, mandioca, abóbora; campeiros, ginetes, posteiros, alambradores, guasqueiros, tropeiros; bolichos/pulperias, ramadas, carreiras de cancha reta, jogo do osso, carteadas, fandangos, sapateados, xote, chimarrita, balaio, milongas, chamamés, pajadores, trovadores, violão, gaita e pandeiro.
Nos parágrafos acima (telegrafados para “encurtar o causo”) vários elementos dessa cultura e identidade gauchesca, com origens indígena, europeia e negra. Uma cultura, surgida no Pampa, espaço GEOGRÁFICO (ocupando terras no RS, Uruguai e Argentina), mas também SIMBÓLICO, cuja expressão cultural extrapolou limites físicos, estendendo-se até o Chile, Paraguai e Planalto Meridional brasileiro, superpondo e integrado geograficamente, historicamente e culturalmente as Regiões Platina (Bacia do Prata) e Missioneira.
Tradição não é tradicionalismo
A afirmativa deste subtítulo parece óbvia, porém tradição e tradicionalismo seguidamente são utilizados de forma confusa, como sinônimo ou uma substituindo a outra. Na definição de “culturas tradicionais” adotada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, 1989), tradição está associada a um conjunto de criações que emanam de uma comunidade cultural, manifestadas por um grupo ou por indivíduos, enquanto expressão de sua identidade cultural e social. Um conjunto de saberes, fazeres, como a língua; arquitetura; artesanato, música, dança e outras artes; culinária; mitos, ritos e religiosidades; costumes, normas e valores. Criações transmitidas (oralmente, por imitação e de outras maneiras) de uma geração à outra dentro da comunidade ou grupo social. Assim, povos originários, quilombolas, ribeirinhos, ciganos, vaqueiros nordestinos e gaúchos, enquanto comunidades ou grupos sociais específicos, são detentoras de tradição ou de culturas tradicionais.
Já tradicionalismo (RS) é um movimento cultural, com antecedentes no “Partenon Literário” (1868), conformado em meados do século XX, a partir de manifestações/ações de jovens estudantes interioranos (C. E. Júlio de Castilhos – “Julinho”) contestando a ideia de que “o modo de vida gaúcho” era atrasado ou coisa de “grosso”. Estas manifestações ocorreram num contexto marcado pela construção forçada (ditadura do Estado Novo) de uma “identidade nacional”, onde expressões e elementos regionais foram reprimidos, bem como, pela imposição dos Estados Unidos do “modo de vida norte americano”, associado ao progresso, que opunha o moderno ao tradicional, urbano ao rural. Matear em público nas cidades era ridicularizado, discriminado.
Os estudantes fundaram no “Julinho” um “Departamento de Tradições Gaúchas”. A ideia ultrapassou os limites do colégio, passando a interessar pessoas vinculadas a maçonaria e a Brigada Militar. Foram realizadas campanhas para criação de um “clube tradicionalista”, resultando na fundação, em 1948, do “35 CTG” (Centro de Tradições Gaúchas). No entanto, segundo o historiador Zalla (2016), surgiu uma divergência entre esses fundadores. Os estudantes pretendiam um clube aberto, para reunir pessoas, em torno da cultura e folclore gaúcho, focado na figura do peão de estância. Por sua vez, o grupo influenciado pelos militares queriam uma sociedade fechada que celebrasse os feitos militares gaúchos, focado na “Revolução Farroupilha”. Resultou num “acordo”: O clube seria aberto, mas reunindo as duas concepções: a cívica de exaltação dos feitos militares da Farroupilha e a concepção paisana de exaltação aos costumes do campeiro, o gaúcho. Assim começa a surgir “o movimento tradicionalista”. Por cerca de 10 anos o 35 CTG teve como sede uma sala na Federação da Agricultura do Estado do RS (FARSUL), materializando intimidade com a elite latifundiária do Estado.
Esse movimento “cívico-cultural” constituído de elementos da cultura gauchesca, se alastrou pelo Estado com a criações de inúmeros CTGs. Após encontros, congressos, criação de uma federação de CTGs, foi constituída em 1966 a instituição MTG. Assim, misturando elementos da tradição gauchesca, com “tradições regradas”; referenciado numa versão idealizada da Revolução Farroupilha; se auto definindo como guardião da “tradição gaúcha” (em formato artificializado, regrado, ufanista, conservador); alinhado às classes dominantes; e se infiltrando nas esferas estatais, consolidou-se a hegemonia do MTG. Sua exaltação aos líderes farroupilhas para celebrar o “gaúcho”, carrega uma contradição, pois os estancieiros chefes deste movimento não admitiam ser chamados de “gaúchos” (marginalizados) e sim de “sul-rio-grandenses”.
Pelo exposto até aqui, nos parece claro a significativa distinção entre tradição, cultura, identidade gauchesca e tradicionalismo.
Valorizar e dar visibilidade a cultura gauchesca/gauchismo
Como mencionado, a cultura gauchesca (expressão histórica e cultural de um grupo social especifico) ultrapassou simbolicamente os limites geográficos do Pampa, bem como, perpassou no tempo (perto de 400 anos), chegando até nossos dias. Evidente que interagiu com as demais culturas que compõem a diversidade cultural gaúcha, platina, latina e de outros estados brasileiros. Também, como tradição e cultura viva/dinâmica, acompanhou as transformações sócio-econômicas, tecnológicas e históricas. Como sintetiza o “Tambo do Bando”, manteve o pé no galpão (territorialidade, pertencimento, identidade) e a cabeça na galáxia (atualidade, universalidade).
Desta maneira, pela oralidade, imitação, arte e por outros meios, vários elementos tradicionais chegaram ao presente. Nos campos, povoados, arrabaldes, assentamentos, acampamentos do MST, cidades, etc. Fazem parte da vida do povo o chimarrão, churrasco, arroz de carreteiro, puchero, fogo de chão, poncho/pala, bombacha, lidas campeiras, vocábulos típicos, bolicho, carreira, truco, cantorias, danças, trova, pajada, causos e tantas outras manifestações da cultura gauchesca.
Para facilitar a percepção da presença da cultura gauchesca na vida dos(as) sul-rio-grandenses, listamos a seguir conhecidos autores/artistas da literatura, música, charges, cinema, teatro e artes plásticas com produções enraizadas na cultura gaúcha, não limitados aos bretes do tradicionalismo:Tabajara Ruas, Eduardo Trevisan, Loma, Sergio Rojas, Simões Lopes Neto, Tambo do Bando, Humberto Zanata,Santiago, Su Paz, Cyro Martins, Sirmar Antunes, Noel Guarani, Martin Coplas, Maria Luiza Benites, Érico Veríssimo, Aparicio Silva Rillo, Demétrio Xavier, Oliveira Silveira, Emily Borghetti, Jayme Caetano Braun, Cenair Maicá, Florisnei Thomaz, Pedro Ortaça, Oristela Alves, Almôndegas, Raul Ellwanger, Borguetinho, Mauro Moraes, Clarisse Ferreira, Bebeto Alves, Yamandu Costa, Vitor Ramil, Cezar Passarinho, Shana Müller, Os Tapes, Ciro Ferreira, Danúbio Gonçalves, Fátima Gimenez, Chicão Dornelles, Bagre Fagundes, Aureliano de Figueiredo Pinto, Liane Schuler, Antônio Gringo, Vasco Prado, Araci Esteves, Luiz Sergio Metz (Jacaré) e tantos outros(as).
Uma vez compreendida a presença histórica e atual, a legitimidade, a popularidade da cultura gauchesca e a qualidade da arte produzida a partir das suas raízes, entendemos que os partidos de esquerda devem valorizar e trabalhar para sua visibilidade dentro da diversidade cultural do Estado.
Arrancar a tradição das mãos do tradicionalismo
O pesquisador e professor de literatura Fischer (2016), lembrando Walter Benjamin, evoca a necessidade de “constantemente arrancar a tradição das mãos do conservadorismo”, referindo-se ao tradicionalismo.
Antes de tratar do tradicionalismo é necessário registrar que a gênese da cultura gauchesca ocorreu em ambiente colonial patriarcal escravocrata e, como demostra Leal (2021), centrada no masculino: “o gaúcho”. Desta forma, carrega concepções conservadoras e discriminatórias, como ocorre em outras culturas, por exemplo, a do “vaqueiro nordestino”, que se orgulha de ser “cabra macho”, enfim valores conservadores presentes em nossa sociedade.
Cabe a nós e aos demais atores presentes na cena gauchesca, questionar e rechaçar o machismo, racismo e discriminações de classe social e de pessoas LGBTQIA+. O que tem sido feito, como no festival “Peitaço da Composição Regional”, organizado por mulheres (Shana Müller, Fátima Gimeneze outras), onde participam somente mulheres (numa contraposição a “Barranca”, festival exclusivo de homens), objetivando maior protagonismo de mulheres compositoras/cantoras na música regional gaúcha.
Voltando ao tradicionalismo, já foi explicitado que o conservadorismo e a ideologia das classes dominantes são suas bases, alimentando preconceitos. No entanto, é necessário reconhecer que este movimento envolve milhões de gaúchos/as, o que decorre das seguintes condições: a) Credibilidade junto a sociedade, construída ao se apropriar de elementos da cultura gauchesca, aliado a necessidade dos indivíduos de pertencimento a determinado grupo/cultura; b) Capilaridade e uniformidade, proporcionada pelo modelo organizacional (regras rígidas e CTGs filiados, constituídos em qualquer lugar); c) Apoio das classes dominantes, retribuído com pregações e simbologias (patrão/patroa, exaltação da estância/propriedade privada); d) Inserção na estrutura estatal; e) apoio das empresas de comunicação local.
Estas condições permitem significativa penetração nas classes populares. Imperioso reconhecer que em muitas vilas pobres o CTG é o único espaço com infraestrutura para convivência e organização da comunidade. Além dos bailes e eventos regrados, estas entidades abrigam festas de casamento e de aniversário, “chás de fralda”; apresentações artísticas de outras matrizes culturais; reuniões do time de futebol, da associação comunitária e do clube de mães.
Também os CTGs, com seus bailes, jantares/almoços, oficinas/cursos de danças, são importantes espaços de trabalho e divulgação (“mercado cultural”) para músicos, compositores, cantores, conjuntos musicais, produtores, operadores de som, iluminadores, professores de dança, dançarinos, que mesmo não alinhados ao tradicionalismo labutam nestes centros.
Como todo fenômeno social, o tradicionalismo apresenta contradições e mesmo impondo regramentos está sujeito a questionamentos, conflitos e dissidências. Brechas a serem aproveitadas para a disputa, tendo como referência não seus diretores/ideólogos, mas a sua base popular. Na sequência algumas situações destas tensões, sem considerar aspectos estéticos.
As transgressões de Berenice Azambuja, que nem o MTG conteve, se apresentado nos CTGs de chiripá, executando a dança dos facões e a chula, consideradas danças masculinas. Os grupos “Tchê” (década de 1990), com suas “vaneiras swingadas”, sendo criticados pelo MTG e proibidos de tocarem nos CTGs; a criação (final da década de 1990), pelo grupo de danças do CTG Aldeia dos Anjos (Gravataí) de coreografias baseadas em maçambiques e quicumbis do Litoral Norte, provocando contrariedades de tradicionalistas. A cerimônia coletiva de casamento promovida (2014) no CTG Sentinela do Planalto (Santana do Livramento) contando com um casal homo-afetivo, resultando no seu galpão incendiado ao estilo Ku Klux Klan tradicionalista. A parceria entre o CTG Guardiões do Rio Grande (Restinga/POA) e integrantes de religião afro-gaúcha para a “gira solidária”, entre outras
Frente a estes episódios é comum ativistas da esquerda concentrarem suas críticas no MTG, sem maiores considerações sobre os sujeitos promotores destas iniciativas que destoam do movimento. É obvio que o tradicionalismo e seus reacionarismo tem de ser criticados, mas dialogar com os sujeitos dos CTGs que questionam seus princípios, é justo e faz parte da disputa. Parafraseando Olívio Dutra, por uma fresta, abre-se uma brecha, que pode virar um caminho.
Obrigatório abordar também o “Acampamento Farroupilha” de Porto Alegre, que surgiu em função do “desfile farroupilha”, mas, ao contrário do divulgado, não foi criado pelo MTG. Nele participam piquetes filiados ao MTG; não filiados ao MTG, uns influenciados pelo tradicionalismo e outros totalmente independentes, alinhados com a cultura gauchesca, como: Estrela Gaudéria, Pelo Escuro, Sindicato dos Bancários, Mocambo (quilombo), Tchê Gurias, entre tantos outros piquetes vinculados a empresas estatais ou privadas, diversas categorias profissionais, famílias de desgarrados das cidades do Estado que se reencontram na Capital.
Em edições do acampamentos já presenciamos atividades culturais com raízes gauchescas, diversas e provocadoras de reflexões, como: Painel – “Guerrilheiros: Honório Lemes – Diógenes de Oliveira”; Roda de conversa “Mulheres que fazem a revolução”; Feijoada Pachecônica; “Milonga reversa”, música e literatura; apresentações musicais com Florisnei Thomaz, Liane Schuler, Ciro Ferreira, Demétrio Xavier e Grupo Sikuris; Recitação de poesias de Oliveira Silveira, pelo ator Paulo Caetano; Lançamento/apresentação dos livros “Entrevero Literário” (Nandi Barrios), “Campereadas – Coração de Pandorga” (Paulo Mendes), “Cadernos de DESdENHO” (Santiago) e “Sinais de fumaça” (Jonas Dornelles); Divulgação das casas de resistência e cultura Diógenes de Oliveira e Dionélio Machado, Julgamento do General David Canabarro, por ato de traição no Massacre de Porongos, Diálogo entre Gauchismo e Tradições de Matriz Africana através da gastronomia; Homenagens a Oliveira Silveira, etc.
Finalizando
E assim vamos peleando, promovendo a popular cultura gauchesca e arrancando nacos da cultura tradicional das mãos do tradicionalismo, empreitada que, entendemos, deve ser assumida pela esquerda.
Referências
– Knierim, Claudio. Apontamentos sobre gauchismo e cultura gauchesca (2024).
– Barrios, Nandi. Apontamentos sobre cultura gauchesca (2024).
– Golin, Tau. O Povo do Pampa (1999).
– Santos, José Luis dos. Q que é cultura (1983).
– Leal, Ondina Fachel. Os Gaúchos – Cultura e identidades masculinas no Pampa – trabalho etnográfico, tese de doutorado/1999 (2021).
– UNESCO. Recomendação Sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular. 25ª Conferência Geral da Unesco, Paris (1989).
– Necch, Vitor. Entrevistas com Luís Augusto Fischer, Jocelito Zalla e Maria Eunice Maciel. Revista do Instituto Humanistas UNISINOS, n.493 (2016).
– Ferreira, Clarissa. Gauchismo liquido (2023).
*Nandi Barrios é engenheiro florestal, com trabalhos em comunidades quilombolas e indígenas.
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