
Em um passo significativo para fortalecer as relações econômicas bilaterais e diversificar as moedas usadas no comércio internacional, o Banco Central do Brasil (BCB) assinou um acordo de swap cambial com o Banco Popular da China (PBoC). O acordo, no valor máximo de R$ 157 bilhões (equivalente a aproximadamente US$ 27,7 bilhões), permite a troca de moedas locais — real e yuan — para fornecer liquidez aos mercados financeiros em momentos de necessidade.
Esse movimento não apenas aprofunda os laços entre as duas maiores economias emergentes, mas também contribui para o debate global sobre a redução da dependência do dólar americano como moeda de reserva mundial.
O acordo foi formalizado em 13 de maio de 2025, em Pequim, durante uma visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China. Os signatários foram Gabriel Galípolo, presidente do BCB, e Pan Gongsheng, seu homólogo no PBoC.
De acordo com a resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN), o valor máximo em aberto das operações é de R$ 157 bilhões, com validade de cinco anos, podendo ser renovado ao final do período.
Na prática, o swap permite que o PBoC receba reais brasileiros, enquanto o valor equivalente é creditado em uma conta especial no BCB, facilitando o acesso a liquidez em yuan.
Os fundos só podem ser movimentados conforme os termos do acordo, garantindo equilíbrio econômico-financeiro. Para calcular as operações, o BCB considera as cotações de câmbio das moedas nos mercados nacionais e internacionais, além de taxas de juros e prêmios de risco para obrigações soberanas, como as taxas de títulos públicos.
Esse tipo de acordo não é inédito. Desde a crise financeira global de 2007-2008, bancos centrais ao redor do mundo têm adotado swaps cambiais para mitigar riscos de iliquidez. O PBoC, por exemplo, mantém cerca de 40 acordos semelhantes com autoridades monetárias de países como Canadá, Chile, África do Sul, Japão, Reino Unido e o Banco Central Europeu.
O BCB, por sua vez, já possui um acordo similar com o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos, conhecido como Foreign and International Monetary Authorities Repo Facility (FIMA), que permite acesso a dólares americanos por meio de operações de recompra de títulos.
A China é o principal parceiro comercial do Brasil há mais de uma década, com um volume de trocas que ultrapassou US$ 150 bilhões em 2024. O Brasil exporta principalmente commodities como soja, minério de ferro e petróleo para o gigante asiático, enquanto importa manufaturados e tecnologia.
No entanto, grande parte dessas transações ainda é liquidada em dólares americanos, o que expõe ambos os países a flutuações cambiais e aos custos associados à conversão de moedas.
Iniciativas para usar moedas locais no comércio bilateral ganharam força nos últimos anos. Em 2023, Brasil e China anunciaram um acordo para realizar transações comerciais diretamente em reais e yuans, sem a intermediação do dólar.
O swap cambial de 2025 representa uma evolução dessa estratégia, fornecendo uma rede de segurança financeira que incentiva o uso do yuan em operações brasileiras. Durante a visita de Galípolo à China, ele também participou de um seminário sobre títulos públicos internacionais chineses, conhecidos como Panda Bonds, sinalizando interesse em emissões de dívida em yuan pelo governo brasileiro.
Com a crescente tensão geopolítica, incluindo sanções econômicas impostas pelos EUA a países como Rússia e Irã, há um movimento para reduzir a dependência do dólar, que domina cerca de 60% das reservas cambiais mundiais e 80% das transações comerciais internacionais.
Analistas apontam que o uso ampliado do yuan no comércio com o Brasil pode pressionar a supremacia do dólar, especialmente em regiões como a América Latina e a Ásia.
“Esse swap aprofunda a relação entre Brasil e China e coloca uma pressão inédita sobre a supremacia global do dólar”, destacou uma análise recente.
Ao facilitar o acesso a liquidez em yuan, o acordo reduz os riscos associados à volatilidade do dólar e aos custos de transação, incentivando empresas brasileiras e chinesas a negociarem diretamente em moedas locais.
Com a validade de cinco anos, o acordo abre portas para uma maior integração financeira entre Brasil e China. Futuras renovações ou expansões poderiam incluir mecanismos para liquidação de comércio em yuans, fortalecendo o papel da moeda chinesa na América do Sul.
A medida que os BRICS avançam em iniciativas como um banco de desenvolvimento próprio e pagamentos transfronteiriços em moedas locais, o mundo observa de perto os impactos sobre o Império do Dólar, que vai perdendo força Econômica e Geo Política.