Por Lúcio Uberdan no Instagram
O governo tem uma limitação que vai além da comunicação, dispersão estratégica e falta de apoio no Congresso: a estratégia geral do governo é (ou era) limitada por uma visão que opõe razão e emoção na comunicação. Esse problema não é exclusivo do governo, sendo comum em boa parte da tradição de esquerda.
A crença é a seguinte: o governo é bom e tem muitas realizações concretas, mas o cidadão não sabe disso e, por isso, não apoia a gestão. Logo, basta apresentar uma pilha de realizações (números, obras, serviços, etc.) para que o cidadão, de forma “racional”, decodifique os dados, contabilize os benefícios em ganhos diretos e passe a apoiar o governo. No entanto, a razão não funciona assim.
Em 2009, após a campanha de Obama, o linguista George Lakoff lançou o excelente livro “The Political Mind: A Cognitive Scientist’s Guide to Your Brain and Its Politics” (ainda sem versão pt-br). Naquela época, observando a ascensão da nova direita, ele se perguntou: por que pobres conservadores votam contra seus próprios interesses? Por que os conservadores são tão melhores em transmitir suas ideias? A resposta veio em forma de livro.
Lakoff baseia-se em seus estudos com Chomsky, mas também em outras produções que combinam política e neurociência, como “O Erro de Descartes” de Antonio Damasio, que sustenta que uma pessoa desprovida de emoção não consegue agir racionalmente, e “The Political Brain” de Drew Westen, que mostra, por meio de estudos de neuroimagem, como a emoção tem primazia sobre a razão no convencimento político.
Nenhum dos três, Lakoff, Damasio ou Westen, ao que me parece (li mais Lakoff), defendem o fim da “razão” como conhecemos, mas uma compreensão mais sofisticada de como ela se estrutura na mente humana, e frente a isso, a necessidade de uma comunicação política baseada em “frames”, “gatilhos emocionais”, símbolos, metáforas, etc. É por isso que o boné “O Brasil é dos Brasileiros” parece tão potente, pois diferente de quase tudo que fizeram, ele é um exemplo de “frame” curto e memorável, que desperta um “gatilho” positivo e posicionado de pertencimento e soberania com capacidade de viralizar.
*Lucio Uberdan é Formado em Marketing com pos-graduação em Marketing Político e Comunicação Eleitoral.