Foto simbólica da época mostra Helicóptero no teto da Embaixada Americana em Saigon e americanos em fuga
Há exatos 50 anos, em 30 de abril de 1975, os tanques da Frente Nacional de Libertação do Sul do Vietnã (FNL) adentraram os jardins do Palácio Presidencial em Saigon, antiga capital do Vietnã do Sul, e as tropas revolucionárias o ocuparam.
Com isso, completou-se a libertação do Vietnã, depois de 35 anos de luta contra três dos mais poderosos e cruéis imperialismos – o japonês, o francês e o estadunidense.
Na embaixada dos EUA, assistiu-se um espetáculo dantesco, onde fugitivos desesperados disputavam aos murros e aos empurrões a prioridade na fuga em helicópteros militares…
A OFENSIVA FINAL
A ofensiva final da FNL teve início em março de 1975, com um ataque diversionista em Kontum e Pleiku, ao Norte. Quando o General Nguyen Van Thieu – que havia assumido o poder no Sul – deslocou tropas para defende-las, a FNL atacou no Sul de Anam e tomou a cidade de Ban Mê Thuot, ocupando a seguir toda a província.
Em 26 de março, Hué, a antiga capital imperial, foi tomada. Em 29 de março, foi conquistada a poderosa base militar de Da Nang, no Norte. A próxima a cair foi Nha Trang, em 3 de abril. Assim, estavam desmanteladas as I e II zonas militares, aniquiladas 6 divisões e colocados fora de combate 300 mil soldados. Nesses combates, as tropas libertadoras tomaram uma enorme quantidade de armamentos.
Multiplicaram-se as sublevações nas tropas títeres, parte das quais aderiram às forças libertadoras. Em inúmeras localidades, a população se insurgiu e tomou o poder em suas mãos.
As tropas sul-vietnamitas em debandada foram concentradas e reorganizadas no porto de Phan Rang, onde existiam três aeródromos que abrigavam a 6ª divisão aérea. Em 16 de abril, essas forças foram derrotadas e a cidade foi conquistada, tendo os aviões da 6ª divisão sido tomados intactos. Em 19 de abril, caiu o porto de Phan Thiet.
A última resistência, antes de Saigon, estava em Xuan Loc. Sem esperar pela caída de Phan Rang e Phan Thiet, as forças revolucionárias iniciaram o ataque a Xuan Loc já em 9 de abril. Os inúmeros reforços enviados pelo governo títere de Van Thieu foram dizimados. Ao mesmo tempo que sitiavam essa praça de guerra e destruíam as últimas reservas do exército sul-vietnamita, a FNL contornou Xuan Loc e, com o apoio da população sublevada, libertou inúmeras localidades ao redor de Saigon.
Em 21 de abril, quando Xuan Loc caiu, Van Thieu renunciou, acusando os EUA de terem descumprido suas promessas, entregou o poder a Tran Van Huong, outro títere de Washington, e fugiu para Taiwan.
A embaixada dos Estados Unidos, diante da derrota iminente, iniciou a evacuação de seus dois mil funcionários e de outros cinco mil estadunidenses que atuavam em Saigon.
A TOMADA DE SAIGON
No dia 26 de abril, teve início a ofensiva contra Saigon, a partir de cinco direções – Leste, Sudeste, Oeste, Noroeste e Sul. Foi cortada toda a comunicação de Saigon com o mar.
Uma a uma, as últimas posições do exército sul-vietnamita foram sendo tomadas.
Em 27 de abril, as duas câmaras de Saigon aceitaram a renúncia de Tran Van Huong – que durou apenas seis dias no cargo – e entregaram a presidência ao general Duong Van Minh. Mas o poder sul-vietnamita já não existia e ninguém mais o respeitava.
Em 28 de abril, a cidade de Bien Hoa – grande base militar, aeroporto e concentração militar da defesa de Saigon – caiu. Em Saigon, o aeroporto de Tan Son Nhat passou a ser bombardeado, levando o pânico aos estadunidenses e a seus apaniguados. Mais de 80 helicópteros militares foram mobilizados para retirar os fugitivos de Saigon. No Delta do Mekong, muitos fugiram por via fluvial.
Assistiu-se a uma debandada caótica de oficiais do exército sul-vietnamita e das forças policiais. Parte da população organizou unidades de auto-defesa e ocupou serviços públicos e pontos estratégicos da cidade.
Às 3h30, do dia 30 de abril, o embaixador dos EUA fugiu Saigon, pondo fim a 25 anos de interferência estadunidense no Vietnã…
Às 11h30 – precedidas por uma coluna de tanques – as forças libertadoras içaram a bandeira do Governo Revolucionário Provisório no Palácio Presidencial.
Em toda parte, as forças militares e policiais que restavam se renderam de forma incondicional e depuseram as armas.
A batalha de Saigon havia terminado, com a vitória total do povo vietnamita!
O 1º de Maio de 1975 pôde ser festejado pelo povo do Vietnã, do Norte e do Sul, com a nação totalmente libertada.
A HERANÇA TRÁGICA
O país estava destruído, suas terras calcinadas ou envenenadas. O gado havia sido dizimado. A infraestrutura estava desmantelada. Dois milhões e meio de vietnamitas haviam sido mortos, quatro milhões feridos, afora milhões contaminados pelo agente laranja. Havia um milhão de viúvas, 800 mil órfãos, 360 mil mutilados e três milhões de desempregados. Dez milhões de camponeses haviam sido desalojados de suas aldeias.
Mais de um milhão de ex-soldados, policiais e oficiais do exército títere, desmobilizados, eram um sério risco para a segurança nacional. Havia cessado, da noite para o dia, o ingresso de dólares dos EUA, que sustentavam a guerra. No Sul “americanizado”, proliferavam a criminalidade, o tráfico de drogas, o mercado negro e a prostituição. Em Saigon, quatro milhões de pessoas precisavam ser alimentadas.
Assim, enquanto no Norte prosseguiu a edificação socialista, o Sul precisou iniciar a reconstrução econômica e realizar uma Revolução Nacional, Democrática e Popular.
Desde então, passaram-se 50 anos e o povo vietnamita – com a mesma tenacidade e heroísmo com que conquistou a sua libertação – construiu uma Pátria Socialista, garantiu condições dignas de vida para o seu povo e é hoje um dos países mais respeitado no concerto das nações, com uma das economias mais modernas e dinâmicas do mundo.
*Raul Carrion é historiador, sindicalista, escritor e político brasileiro. Foi vereador de Porto Alegre e duas vezes Deputado estadual do RS, pelo PCdoB
