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Luiz Muller Blog

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FEICOOP, MARCO DE REFERÊNCIA DA EDUCAÇÃO POPULAR PARA AS POLÍTICAS PÚBLICAS E O ANEL DE TUCUM (Por Selvino Heck)

17 de Outubro de 2025, 16:21 , por Luíz Müller Blog - | No one following this article yet.
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A 31ª FEICOOP me salvou. Há semanas perdi o anel de tucum em algum lugar, voltando para casa em Porto Alegre. Virei, revirei, desvirei tudo, e nada! Procurei encontrar outro anel em algum lugar, e nada também. Até chegar na FEICOOP, Feira Internacional do Cooperativismo e da Economia Solidária, a maior da América Latina, em Santa Maria, RS, que frequento desde sua primeira edição, com o apoio do saudoso Dom Ivo Lorscheiter e da sempre presença, perto ou longe, da Irmã Lourdes Dill. Circulei pelas bancas, até a Dani, Daniela Tolfo, do CAMP, Centro de Assessoria Multiprofissional, me levar até a banca certa. Comprei logo dois anéis, para ter sempre um de reserva como garantia.

Só podia reencontrar meu anel de tucum na FEICOOP, cujo tema em 2025 foi: CONSTRUINDO A ECOLOGIA INTEGRAL, FRENTE ÀS EMERGÊNCIAS CLIMÁTICAS. O Brasil de Fato RS fez duas matérias especiais contando o que foi esta 31ª FEICOOP (www.brasildefators.com.br, 13.10.25): “FEICOOP é marcada pela diversidade e fortalece alianças entre povos e movimentos populares” – “Santa Maria celebra a 31ª FEICOOP com foco na ecologia integral e nas emergências climáticas.”

Nada mais necessário e urgente que esta FEICOOP e suas reflexões, nestes tempos de ausência de paz, dos acontecimentos tristes com tempestades e ciclones, especialmente no Rio Grande do Sul, FEICOOP que há 31 anos celebra e anuncia uma economia popular e solidária, com sinais e práticas de justiça social, igualdade,  solidariedade e fazer coletivo.

Fiquei semanas sem um anel de tucum no dedo angular da mão esquerda. Inclusive em vários dias do histórico relançamento do MARCO DE REFERÊNCIA DA EDUCAÇÃO POPULAR PARA AS POLÍTICAS PÚBLICAS, feito pela Secretaria Geral da Presidência da República, com presença, participação e apoio de movimentos sociais e populares, Pastorais Sociais, ONGs e sociedade civil. 

A Introdução do Marco de Referência 2025 diz, na página 8: “A Educação Popular é, ao mesmo tempo, uma concepção filosófica, ética, política e pedagógica, além de um conjunto de metodologias educacionais participativas. Ela promove a articulação de diferentes saberes e práticas, enraizados na diversidade cultural e nos direitos humanos. Seu surgimento está diretamente ligado ao protagonismo da s classes populares na luta por transformações sociais, políticas e econômicas.”

São fundamentos político-pedagógicos da Educação Popular, segundo o Marco (p. 36): “3.1. Fundamentos ético-políticos: a. Os seres humanos são sujeitos da transformação social. b. A realidade do mundo é diversa e conflituosa. c. Participação popular.” Os Fundamentos Pedagógicos são, segundo o Marco de Referência 2025: “a. Relação entre teoria e prática. b. Relação dialógica; Relação horizontal; Diálogo entre saberes; Construção coletiva do conhecimento. c. A amorosidade na Educação Popular. d. Construção coletiva do conhecimento: Pesquisa participante; Sistematização de Experiências.”

As Diretrizes metodológicas do Marco são (p. 41 e ss.): “a. Valorizar saberes tradicionais para aprender com a ancestralidade. b. Promover igualdade racial com o protagonismo negro. c. Educar para a justiça socioambiental. d. Juventudes e culturas periféricas. e. Articular a Educação Popular com a Educação Popular. f. Tecer redes em um mundo digital. g. Construir coletivamente a saúde para o bem viver. h. Educar para a diversidade e igualdade de gênero como formas de (re)existência. i. Cooperar para gerar uma economia solidária. j. Mediar conflitos para fortalecer a democracia. k. Educar em direitos humanos.”

E quais são os desafios atuais, segundo o Marco de Referência da Educação Popular para as Politicas  Públicas? (p. 66 e ss.): “Como lidar com a diversidade e ampliar inclusão? Como fazer comunicação em contexto midiático e polarizado? Como a Educação Popular pode fortalecer a participação democrática? Como a Educação Popular pode contribuir na construção de novas utopias emancipatórias?” 

Não é a primeira vez que perco meu anel de tucum.  Já aconteceu em 2017 e 2023, como conto no artigo `AOS 73, MARÇO E ABRIL SUPER QUENTES: A ÁRVORE E O ANEL DE TUCUM´ (Brasil de Fato RS, 26.04.24). Até escrevi um poema na época sobre o acontecido, declamado no Curso Oscar Romero, em 7 de janeiro de 2018, em Santa Maria. E que continua valendo hoje, 2025.

“NU, SEM O ANEL DE TUCUM

Saio de casa,/ algo me incomoda,/ há um vácuo,/ falta alguma coisa,/ estou sem horizonte.

Será o calçado fora de hora,/ com duas meias de cor diferente?/ Ou o pouco cabelo estará despenteado?/ O fecho da calça de um velho/estará aberto?/ Ou, quem sabe,/ seja a ausência de um botão da camisa?/ Ah, esqueci o anel de tucum/ em algum lugar recôndito,/ nalguma gaveta.

Estou nu sem o anel de tucum.

Dou meia volta,/ fico pensativo,/ ruminante./ Circulo em casa de mamãe,/ última parada,/ última noite./ Terá rodopiado por baixo/ de uma das duas camas do quarto?/ Larguei-o em cima de qual pia?/ Perdeu-se nos fundos do armário/ cheio de roupas e tralhas?/ Ou tirei-o para esvaziar e lavar/ a cuia do chimarrão matinal?

Meu anel de tucum faz-me irmão/ dos esquecidos e humilhados da história,/ faz-me companheiro de quem não conheço ainda/ ou encontrei pela primeira vez na vida./ Leva-me a caminhar longas/ marchas e jornadas/ com quem acredita nos meus sonhos,/ com quem constrói comigo/ as lutas por um outro mundo possível,/ urgente e necessário,/ quem faz da igualdade o sentido da vida,/ da justiça o cuidado de ser e viver,/ da fraternidade a utopia e o Reino.

Sem o anel de tucum/ estou no frio do inverno,/ desagalhado,/ sem fogão a lenha para esquentar as mãos,/ os pés,/ o coração./ Pareço perdido no asfalto,/ sem luz no meio da densa floresta./ Caminho na estrada sem rumo,/ sozinho, sem roupa,/ sem abrigo,/ nu,/ completamente nu.

Com o anel de tucum/ no dedo anular esquerdo,/ sou povo,/ sou guarani,/sou Sepé Tiaraju.”

Estou inteiro de novo, vivo, pronto para tudo. E, como sempre digo e desejo a todas e todos, com o anel de tucum no dedo da mão esquerda e na vida: NA BOA LUTA, COM FÉ E CORAGEM, ESPERANÇAR.

Selvino Heck

Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990)

Em dezessete de outubro de dois mil e vinte cinco 


Fonte: https://luizmuller.com/2025/10/17/feicoop-marco-de-referencia-da-educacao-popular-para-as-politicas-publicas-e-o-anel-de-tucum-por-selvino-heck/

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