Privatizar a Carris é um erro, uma arbitrariedade e uma decisão que vai contra os interesses da população de Porto Alegre
Maria do Rosário (*)
O transporte público em Porto Alegre enfrenta uma série de desafios que têm impactado diretamente a qualidade de vida da população. A tarifa alta, a falta de previsibilidade, conforto e segurança são apenas algumas das questões que levam muitos passageiros a optarem por outros meios de transporte privado, individual.
Sabemos, aliás, que a cada dia que passa a questão ambiental se sobrepõe às demais, e, a ela, os meios de transporte se entrelaçam. Para uma crise climática de proporções planetárias, precisamos contar com soluções coletivas, conscientes e que sejam implementadas também no plano das cidades.
Um dos problemas mais alarmantes da nossa cidade é a sanha privatista que ronda Porto Alegre. A Carris, empresa que já foi um orgulho da cidade, ao que tudo indica, será privatizada pelo Prefeito Sebastião Melo nesta segunda-feira (02), resultando na exclusão de benefícios para estudantes e outros passageiros. Além disso, a retirada de cobradores de diversas linhas, afeta o emprego desses profissionais ao mesmo tempo que prejudica a qualidade do serviço prestado aos passageiros.
Privatizar a Carris é um erro e uma arbitrariedade. Uma empresa criada por Dom Pedro II, que atravessou o Império até os dias atuais, e agora é simplesmente descartada pelo prefeito Melo. Uma decisão desta magnitude, às vésperas de uma eleição, é grave. Nossa cidade tem dado sinais de que precisa e respira ares da mudança. Quase ao apagar das luzes de sua gestão, o prefeito tenta colocar em prática um projeto que torra o patrimônio, despreza o conhecimento acumulado que trabalhadores da Carris possuem, e atua para desorganizar ainda mais um sistema que está perdendo qualidade ano a ano, em seu governo.
Ou seja, privatizar a Carris é contrário ao interesse dos porto-alegrenses, que já demonstraram não serem favoráveis a tal aventura, em consulta feita pela própria Prefeitura. Em 2022, a Prefeitura abriu Consulta Pública sobre o tema e, das 101 manifestações, 88 foram contrárias à privatização.
Quando a política de mobilidade só visa atender o mercado, deixando de lado o direito ao transporte de qualidade e à circulação na cidade, a gestão pública municipal descumpre uma de suas atribuições essenciais. Ao invés de resolver problemas como a superlotação, qualidade dos ônibus e o atraso nas linhas, a opção da Prefeitura tem sido transferir responsabilidades para o setor privado e agravar os problemas. Quem paga a conta é literalmente o usuário.
No momento em que a cidade tem oportunidades abertas junto ao governo federal, com o PAC e muitas outras possibilidades, é lamentável que a gestão municipal não tenha um projeto sustentável, com transporte coletivo de qualidade.
O prefeito não consegue integrar a cidade à Era Lula, de desenvolvimento e excelência nos serviços. Segue repetindo a receita derrotada de Bolsonaro: sucatear, desqualificar serviços e empresas públicas, vender e privatizar.
Esse debate deve ser feito imediatamente, pois, não alertada a municipalidade, o presente e o futuro serão comprometidos. Para um sistema de transporte público eficiente, acessível e capaz de atender com eficiência todas as comunidades, precisamos da Carris como referência para todas as decisões estruturantes a serem tomadas.
Para alcançar esse objetivo, é fundamental que a política municipal de transporte seja repensada com soluções que considerem os direitos e as necessidades dos cidadãos. Privatizar a empresa pública, que já foi e pode voltar a ser modelo, não é uma delas!
(*) Deputada federal (PT/RS), Segunda-Secretária da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados