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No RS, mais de 14 mil crianças e Jovens ainda são submetidas a multisseriação na Educação Pública. Leia:

8 de Maio de 2025, 16:11 , por Luíz Müller Blog - | No one following this article yet.
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Pra quem “é das antigas”, lembra das Escolas do interior com crianças de Séries diferentes frequentando a mesma sala de aula com a mesma professora. Isto deveria ser coisa do passado.

Mas no Rio Grande do Sul do “moderno” e liberal Eduardo Leite, esta barbaridade não só existe como não há empenho em acabar com ela. É o que mostra Análise do DIEESE sobre Censo da Educação Básica 2024.

O Censo Escolar da Educação Básica 2024, analisado pelo DIEESE, traz um alerta importante para toda a sociedade gaúcha: Ainda existem 14.020 estudantes inseridos nesse tipo de organização pedagógica — uma das mais desafiadoras da educação pública. Nessas turmas, estudantes de diferentes séries e idades são agrupadas(os) em uma mesma sala, com apenas uma(um) professora(or) responsável por ministrar conteúdos diversos simultaneamente.

Esse modelo, comum em áreas rurais e com pouca estrutura, compromete a qualidade do ensino e sobrecarrega docentes. Os dados mais recentes, de 2023, mostram um cenário ainda mais preocupante: o Rio Grande do Sul lidera o país tanto no número de matrículas quanto no número de professoras(es) atuando em turmas multisseriadas, com 2.535 docentes nessa situação. O dado exige atenção das autoridades e da população, pois revela desigualdades profundas que afetam diretamente o direito à educação de qualidade.

O estudo também revela que existem no estado 1.267 turmas e 537 escolas estaduais organizadas por meio dessa prática. A gestão do governador Eduardo Leite (PSDB) tem sido marcada pela omissão diante dessa problemática. Em vez de ampliar o número de professoras(es), garantir turmas adequadas e fortalecer a infraestrutura escolar, o governo opta por políticas de contenção de gastos que desconsideram o impacto direto sobre as(os) alunas(os). Faltam concursos públicos, há fechamento de escolas, municipalização e uma notável ausência de iniciativas voltadas à valorização da educação pública e das(os) educadoras(es).

Fonte: INEP – Censo Escolar da Educação Básica 2018/2023
Notas 1 – O mesmo aluno pode ter mais de uma matrícula. 2 – Não inclui matrículas em turmas de Atividade Complementar e Atendimento Educacional Especializado (AEE). 3 – Inclui matrículas em turmas de Educação Infantil e Ensino Fundamental Multietapa, em turmas Multi e Correção de Fluxo.
Elaboração: DIEESE

A prática que deveria ser excepcional, vem se tornando uma regra preocupante diante da falta de investimentos adequados na educação. Do ponto de vista pedagógico, a multisseriação impõe sérios obstáculos ao processo de aprendizagem. As(os) estudantes, com níveis de conhecimento e necessidades diferentes, são prejudicadas(os) pela impossibilidade da(o) professora(or) em atender todas(os) de forma individualizada. O resultado é uma queda na qualidade do ensino, aumento da evasão escolar e formação deficiente, comprometendo o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes.

Duas escolas diferentes com realidades parecidas

Na EEEF Joaquim Pedro Salgado Filho, localizada na periferia do bairro Aeroporto, em Erechim, a prática da multisseriação está presente desde 2019. A professora das séries iniciais, Márcia Silva, tem enfrentado há anos o desafio de atender turmas de diferentes séries em uma mesma sala de aula. “Às vezes, a gente não tem tempo nem para ir ao banheiro. Como sou comprometida com os estudantes, tento atender todos, corrigir cadernos, propor atividades de leitura. Não dá para fazer o trabalho de qualquer jeito, mas é muita sobrecarga”, relata.

Neste ano, Márcia leciona exclusivamente para o 5º ano e expressa alívio. “Se pudesse escolher, jamais assumiria uma turma multisseriada. É muito estressante para a professora: são duas aulas diferentes, dois planejamentos simultâneos. Quando trabalhei com 1º e 2º anos, eu dividia o quadro — de um lado, letra bastão; do outro, letra cursiva”, explica.

A docente também destaca o impacto negativo da multisseriação na aprendizagem das(os) estudantes e na saúde das(os) educadoras(es). “É desumano, tanto para o professor quanto para os alunos, que já foram bastante prejudicados pela pandemia. Eles perdem muito no processo de aprendizagem. Por isso, os índices de alfabetização caem”, conclui.

Além da sobrecarga, a função tem deixado marcas físicas e emocionais nas(os) educadoras(es), reflexo de um governo que retira direitos, desvaloriza e sobrecarrega as(os) profissionais da educação. “O governo paga uma professora para fazer o trabalho de duas. Hoje, tenho problema no ombro de tanto escrever em dobro, todos os dias, durante anos”, desabafa.

Atualmente, a EEEF Joaquim Pedro Salgado Filho atende cerca de 80 estudantes, do 3º ao 9º ano do Ensino Fundamental, nos turnos manhã e tarde. O governo Leite vem fechando turmas na escola há dois anos consecutivos — em 2024, foi o 1º ano e, em 2025, o 2º. “Estamos caminhando para o fechamento da escola, infelizmente”, finaliza Márcia.

Na EEEM São Izidro, localizada em São Nicolau, a situação não é diferente. A escola conta atualmente com quatro turmas multisseriadas: 1º, 2º e 3º anos; 4º e 5º anos; 6º e 7º anos; e 8º e 9º anos. O que deveria ser nove turmas acabou se reduzindo a apenas quatro. “A multisseriação começou nos anos iniciais, já há alguns anos. Começamos com o 1º e 2º anos, e, gradativamente, todas as turmas do Ensino Fundamental passaram a ser multisseriadas”, explica o diretor da escola, Oneide Oliveira.

Para Oneide, essa prática representa um fator crítico na gestão escolar, devido aos prejuízos que vem causando no processo de ensino e aprendizagem. “Um dos principais problemas está na heterogeneidade das turmas, ou seja, alunos de diferentes séries e níveis de conhecimento juntos. Isso faz com que estudantes mais avançados se sintam limitados, enquanto os que apresentam mais dificuldades têm problemas para acompanhar o ritmo da aula”, destaca o educador.

Outro ponto apontado pelo diretor é o tempo de aula, que precisa ser dividido entre duas ou até três turmas, dificultando o acompanhamento individualizado. “A ausência desse acompanhamento traz sérios prejuízos, principalmente para os alunos que necessitam de mais atenção”, observa.

Oneide também ressalta os desafios enfrentados pelos professores, que precisam planejar aulas para diferentes níveis ao mesmo tempo. “Esse planejamento exige maior dedicação e estratégia. Considero esse um ponto crítico no Rio Grande do Sul, por causa da burocratização imposta pela Secretaria de Educação. São planilhas e mais planilhas a serem preenchidas, ocupando o tempo que deveria ser destinado à elaboração de atividades voltadas ao desenvolvimento da aprendizagem dos estudantes”, critica.

Segundo ele, a comunidade escolar enxerga a multisseriação como uma forma de evitar o fechamento da escola e garantir sua permanência na localidade. “Poucos comentam sobre os prejuízos no aprendizado de seus filhos”, relata.

Quanto ao papel do governo, Oneide é claro: “Falta investimento em professores, tanto em formação adequada quanto em valorização profissional”.

O CPERS se posiciona firmemente contra a multisseriação por entender que essa prática precariza o ensino e nega o direito das(os) estudantes a uma educação de qualidade. Para o Sindicato, agrupar estudantes de diferentes níveis em uma mesma sala, sob responsabilidade de um único docente, é sobrecarregar professoras(es), comprometer o aprendizado e aprofundar desigualdades. Exigimos do governo Eduardo Leite (PSDB) investimentos reais na valorização da educação, contratação de profissionais, valorização salarial e estruturação adequada das escolas estaduais.

Educação não é gasto, é investimento no futuro!

Com Informações do CPERS SINDICATO


Fonte: https://luizmuller.com/2025/05/08/no-rs-mais-de-14-mil-criancas-e-jovens-ainda-sao-submetidas-a-multisseriacao-na-educacao-publica-leia/

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