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Sem Margem Equatorial, ‘podemos perder autossuficiência em petróleo em menos de 10 anos’, diz diretora da Petrobras, diz Sylvia dos Anjos, Diretora de Exploração e Produção da Petrobras
As Petroleiras americanas Exxon e Chevron, a Francesa Total e a Inglesa BP já exploram e extraem na Margem Equatorial pela Guiana e pelo Suriname com legislação ambiental muito menos qualificada do que o Brasil tem.
A Petrobras, que descobriu as mega reservas da Margem Equatorial, ainda não começou o processo e extração, por que passa por um período de adequação dos Projetos a Legislação Ambiental do Brasil, com certeza a mais rígida do mundo.
O fato é, que com ou sem a Petrobras, o Petróleo da Margem Equatorial já esta sendo extraído por Petroleiras multinacionais, na Guiana, Suriname e outros países que a Margem alcança.
Por isto a Petrobras tem a expectativa de obter a licença ambiental do Ibama até fevereiro,
Se por um lado, a questão ambiental é central e a Petrobras deve se adequar a legislação, e tudo indica que está, por outro lado é óbvio que se não houver o licenciamento da Petrobras, as demais petroleiras vão “Chupar óleo de Canudinho da Margem Equatorial”, como disse o Ministro das Minas e Energia.
Executiva defende atividade na Margem Equatorial para elevar reservas. Região responde por quase 40% dos investimentos previstos. Alta do dólar deve afetar resultado financeiro no trimestre, mas não prejudica projetos
![Sylvia dos Anjos, Diretora de Exploração e Produção da Petrobras](https://archive.ph/liDBK/be4c5b0612528442c76140e50fe827cca151510a.avif)
Com expectativa de obter a licença ambiental do Ibama até fevereiro, Sylvia dos Anjos, diretora de Exploração e Produção da Petrobras, defende a atividade na Margem Equatorial. O tema, considerado divisivo no governo, faz parte da estratégia da petroleira e responde por quase 40% dos investimentos previstos em exploração.
De acordo com Sylvia, a produção do pré-sal começa a cair em 2029 ou 2030 e, sem descobertas de grandes volumes, o país corre o risco de perder a autossuficiência em petróleo em menos de dez anos.
Enquanto aguarda a decisão, a Petrobras volta as atenções para a África, onde surgem oportunidades, e para a Bacia de Pelotas. No curto prazo, a companhia deve sentir os efeitos da alta do dólar em seu resultado no trimestre. Veja trechos da entrevista.
O ano praticamente chegou ao fim sem a licença do Ibama para a Margem Equatorial. Qual é a expectativa?
A Petrobras foi criada para avaliar o potencial do Brasil e torná-lo autossuficiente em petróleo. E conseguimos, embora ainda precisemos importar derivados, pois não refinamos tudo o que consumimos. A Margem Equatorial vai do Rio Grande do Norte à Colômbia. Já encontramos petróleo no Rio Grande do Norte, no Ceará e na Colômbia. Já perfuramos mais de 60 poços no litoral do Amapá. No total, mais de 560 poços em toda a região. E quantos acidentes ocorreram? Zero.
Mas com questões como alta do dólar, ajuste fiscal e o potencial divisivo do tema no governo, há risco de a Margem Equatorial ficar em banho-maria?
Acredito que não. Sou muito otimista. Temos tudo mapeado. A primeira questão é: ‘há alguma ameaça ambiental?’ Digo que só tem ameaças se você tiver derramamento e não souber operar. Se a Petrobras for proibida de explorar, alguém vai trazer o petróleo. Então, não tem argumentos técnicos para não furar. Além disso, pegamos uma sonda mais robusta que tem duplas garantias. Vamos alocar 13 barcos de contenção. E temos 7 na Bacia de Campos. Tudo que se possa imaginar para dar conforto ao Ibama nós fizemos.
O grau de exigência do Ibama é maior do que o de qualquer outra operação da Petrobras?
Sim. A Margem Equatorial está sendo muito mais complicada.
Quanto a Petrobras já gastou?
Foi muito dinheiro. Mais de centenas de milhões. Até o ano passado, tínhamos uma sonda lá. Uma sonda custa US$ 1 milhão a cada dois dias. Ela ficou dois meses. A sonda foi o mais caro. Também criamos um centro (de despetrolização de fauna) em Belém, mas ficava a 24 horas da costa. E aí pediram outro no Oiapoque de proteção de fauna.
Teve a questão do aeroporto, que já tem uma licença. E mesmo com o uso da Petrobras, o uso fica aquém da licença existente. Como a gente teve que fazer esse centro no Oiapoque, tivemos que comprar terreno. E começaram a perguntar qual é a quantidade de veterinários, se tem veterinários 24 horas por dia. Todas as perguntas foram respondidas.
Se a parte técnica já foi resolvida, falta a parte política?
Estamos zero confronto. Cumprindo as exigências. Só resta aprovar (risos).
Se a licença sair, quanto tempo leva para começar?
Demora. O navio que vai furar lá está aqui no Campo de Marlim (na Bacia de Campos). A hora que sair o sinal verde, tenho que fazer uma limpeza na sonda. Até chegar lá leva quatro meses. No local onde vamos perfurar, passam 1.100 navios por ano, inclusive petroleiros. Não é um santuário ecológico, um lugar totalmente protegido e que vai a empresa desvirginar o local. Não é.
Qual é a prioridade sem a Margem Equatorial?
Dos US$ 7,9 bilhões previstos em exploração, mais de US$ 3 bilhões são na Margem. A decisão é muito importante porque mostra para onde vou. Mas a gente vai continuar buscando áreas e bids (ofertas).
Quando houve a troca no comando da Petrobras, a cobrança era por mais investimento. Tem plano B?
Em fevereiro a gente deve terminar o centro de proteção à fauna. Depois disso, acredito que a gente tenha a licença. Mas continuo fazendo análise de portfólio. Fui no evento Africa Energy na África do Sul, pois adquirimos parte de um bloco (10% no DWOB, que tem entre os sócios TotalEnergies, Qatar Energy e Sezigyn). Apareceram vários países perguntando ‘o porquê de a Petrobras não vir’. Eu me senti a queridinha da África.
Quais países?
África do Sul, Namíbia, Angola, Gana, Guiné, Congo, Mauritânia, Moçambique, Tanzânia. Todos querendo que a gente participe mais. Não foi proposta. Esses países precisam de investimento e têm potencial de petróleo. Tanzânia já teve descobertas. A coisa mais importante é que viram a Petrobras como parceira. E isso é muito bacana.
Essa incursão está no radar?
Sim. Em 2025, vamos perfurar um poço em São Tomé, um poço na África do Sul e dois na Colômbia. São quatro poços no exterior.
Qual é relação entre reservas e produção da Petrobras?
Está em 12,2 anos, mas vai aumentar no atual plano estratégico (de 2025 a 2029). O pré-sal é mais de 80% disso. É o maior de todas as empresas. E é tudo crescimento orgânico. Somos a única empresa que explora, produz e desenvolve. As outras compram outras companhias.
Mas há preocupação em aumentar as reservas…
O pico de produção na Bacia de Campos foi em 2009. Em 2006, nos tornamos autossuficientes. A sorte é que em 2007 a gente descobriu o pré-sal. Em 2029 e 2030, o pré-sal começa a cair. Podemos perder a autossuficiência em 2032.
Em menos de dez anos?
Sim. Já encontramos grandes acumulações no pré-sal. A Margem é muito parecida com a Bacia de Campos. Leva muito tempo até produzir. Se faço a descoberta hoje, levo um ano avaliando e quase um ano fazendo bid (licitação) de plataforma e depois quatro anos para construir. Se tudo certo, são seis anos ou até oito anos. E o que vou produzir daqui a oito anos já tem que ser descoberto hoje. O ciclo é muito longo. E a gente vai gastando reserva e declinando.
E como a Bacia de Pelotas, no Sul, entra na equação?
Em Pelotas, a gente já furou em água rasas, mas não em águas profundas. Adquirimos 29 blocos e vamos fazer sísmica. Até agora, a gente só conseguiu fechar sísmica de dois blocos. Ali é o caminho por onde passam baleias jubarte. Então, uma parte do ano não se pode fazer sísmica.
Onde vai furar no pré-sal?
Vamos furar em 2025 dois poços em Aram, mais dois poços em Alto de Cabo Frio Central e em Água Marinha. Raia Manta e Pintada a gente não vai furar mais, mas vai vai entrar para produzir.
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