por Conceição Oliveira do Blog Maria Frô, twitter: @maria_fro
Fiquei praticamente fora da rede uma semana, volto e encontro tudo igual: os mesmos comerciais chinfrins, as mesmas desculpas esfarrapadas para justificar comercial chinfrim e as mesmas reações diante de comercial chinfrim, por exemplo aqui, aqui e abaixo:
Print do twitter oficial de José Serra.
Eu confesso aos leitores e leitoras que eu não tenho mais paciência de escrever sobre o mesmo assunto. Mas, felizmente, há feministas que têm e escrevem para esclarecer o óbvio ululante.
Neste e no próximo post, reproduzirei dois textos que fazem bem o trabalho de explicar didaticamente que a propaganda da Hope é sexista, meu bem.
O primeiro é de autoria de Marjorie Rodrigues. Para além de desvelar o sexismo surrado dos comerciais de langerie, Marjorie fala do lugar de quem já trabalhou com marketing e conclui o que nós mulheres feministas (e até muitas que não são feministas estamos carecas de saber), além de sexista a propaganda é ruim, criatividade zero dos publicitários que fizeram a campanha com a modelo Gisele Bündchen. Vale leitura na íntegra.
Alguns tostões sobre a propaganda da Hope
Por: Marjorie Rodrigues, em seu blog
29/09/2011
Depois de trabalhar com assessoria de imprensa/Relações públicas, eu não consigo mais olhar da mesma forma para essas querelas envolvendo empresas. Antes, o que mais me impressionava em um comercial sexista era o sexismo. Eu olhava para a propaganda como linguagem, como discurso somente. Hoje, penso também nas questões de mercado, na construção da imagem da empresa. Porque se tem uma coisa que eu aprendi nesses meses trabalhando como marketeira filha da puta é que o capital imagético das empresas é coisa séria.
Então fico abestada de ver como uma empresa pode ser burra a ponto de arriscar sua imagem com um comercial tão babaca, tão bobo e tão pouco criativo. Não é possível que as pessoas sejam burras a ponto de não perceber que o comercial é ruim. Porque, né. Talvez isso seja o mais impressionante: o quanto o comercial é ruim. Se o pretexto era fazer humor, não teve graça. A piada é velha, a Gisele interpreta mal, o texto é fraco.
Fico imaginando em que mundo esses publicitários vivem. Para achar que esse comercial aí é bacana. Vai ver eles são é espertos. Porque estão ganhando grana com o trabalho mais nas-coxas do mundo. E têm a lábia de convencer os clientes de que a ideia é boa, “vai por mim”. Mas aí fico imaginando também quem está do lado do cliente. Quem aprova. Essa gente não tem formação em comunicação? Não tem referência nenhuma? Como é que uma empresa investe milhões (porque o cachê da Gisele não é bolinho, sabemos) num comercial sem exigir da agência que ele seja, no mínimo, criativo? Porque, né, se eu tivesse pagando uma nota preta por uma propaganda, ia querer algo mais do que “mulher no volante, perigo constante” e “ai, a sensualidade da brasileira”. Tô pagando, porra.
Como é que ninguém dentre todas as pessoas envolvidas na concepção, aprovação e produção desse comercial tenha sequer desconfiado de que apelar para as idéias da mulher que usa o corpo em troca de alguma coisa e da brasileira naturalmente sensual pudesse causar algum desconfortinho? Como é que ninguém sequer desconfiou de que algum mulher poderia não gostar de ser aconselhada a ficar pelada para se safar de alguma cagada? Então fica a pergunta, mesmo. Em que mundo essas pessoas vivem. Que não estão em contato com discurso nenhum. Parecem fora da realidade. Afinal, mesmo que nós, os que abrem a boca para criticar qualquer coisa na cultura de massa, não passássemos de uns chatos “politicamente corretos” que só sabem ficar de mimi, se a sua função é ser publicitário, você tem que calcular a possível reação do grupo chato politicamente correto. Você não quer que os chatos politicamente corretos (ou qualquer grupo, for that matter) comece a xingar muito sua empresa no twitter. Porque isso é uma crise de imagem que precisará ser gerenciada.
Para continuar a leitura do texto da Marjorie vá até o seu blog: Alguns tostões sobre a propaganda da Hope
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