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Blog da Mulher

7 de Outubro de 2013, 13:50 , por Blogoosfero - | No one following this article yet.
Licenciado sob CC (by)

Ananda Hilgert: Em busca de novos apelidos para a vagina

1 de Fevereiro de 2015, 17:27, por Desconhecido

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VAGINA NÃO É BACALHAU

por Ananda Hilgert, no Noo, em 26.01.2015, sugerido por Eduardo Prestes Diefenbach

O nome que a gente dá para as coisas na vida não é inocente, não é por acaso, é marcado por posicionamento, é político, é cultural. Pensando nisso, os diversos apelidos dados aos órgãos sexuais feminino e masculino dizem muito sobre sexo e papéis de gênero:

Enquanto o pênis tem todos os nomes possíveis que remetem ao formato de cenoura, nabo, cano, anaconda, espeto e tantos outros mais, à vagina direciona-se outro tipo de apelido, muito mais pejorativo, como:
bacalhau

carne mijada

nugget de peixe

marisco

suvaco de coxa

túnel cheiroso

suadinha

A vagina e seus perseguidos odores! Fedor de peixe, suor, mijo. A vagina é nojenta, tem mau cheiro. Tudo que o homem hétero quer é que sua estaca crave esse marisco, mas sem abrir mão de rebaixar essa pobre carne mijada ao seu devido lugar.

A mulher escuta esses nomes desde pequena mesmo sem entender ainda seus significados. A gente vai crescendo e entendendo que é suja, que deve esconder nossos cheiros, mesmo que sejam naturais para todas as mulheres. A menina desde novinha aprende a usar uma infinidade de produtos de higiene, enquanto o menino aprende a fazer xixi na árvore e dar só uma balançadinha na sua bengalinha. A gente aprende que peixe podre e vagina tem o mesmo odor. Carregamos um túnel “cheiroso” no meio das pernas, motivo de piada, medo, objeto de controle.

Esses apelidos podem parecer apenas piadinhas inofensivas para muita gente, mas carregam um peso muito maior que uma comédia boba. Muitas mulheres realmente acabam tendo nojo de si mesmas, não conhecem suas próprias vaginas, não tocam em si mesmas. Aliás, falando em toque, a masturbação feminina é um grande tabu que vem também desses apelidinhos carinhosos:
engole espada
ninho de rola
lixa-pica
casa do caralho
papa-duro
gulosinha
buraco da serpente

Se o homem chama a vagina de lixa-pica e casa do caralho, isso significa que a maldita xoxota só existe para servir ao homem; portanto, mulheres, o prazer sexual não é de vocês, mas do homem e sua espada.

O homem carrega orgulhoso sua terceira perna (a vontade de aumentar o tamanho do pênis através de apelidos é visível), sua furadeira, seu socador, sua ferramenta. A mulher esconde, depila, limpa sem cansar seu suvaco de coxa. Dar nomes pejorativos à vagina prejudica muito a sexualidade feminina, pois a mulher tem pensamentos negativos em relação a si mesma, acaba se limitando, tem medo de se expor, de ter o cheiro errado, o formato errado, o prazer errado.

A tentadora vagina, o testador de batina pode parecer idolatrado por muitos homens, mas essa adoração tem um limite muito demarcado: o controle. Dar nome é querer controlar, diminuir, determinar a função. O homem apelida de ninho de rola quando quer dizer que a vagina serve para nada além das vontades de sua rola. O homem corta, mete, penetra, come com sua serpente, seu canivete, sua arma. E finaliza chamando de bacalhau.

Essa mistura de idolatria e controle é muito parecida com aquela história de chamar as mulheres de musas que muitos adoram. Vários homens tentam fugir de uma imagem de machista dizendo que amam as mulheres, que elas são musas inspiradoras, deusas que devem ser veneradas. Gente, deixa eu contar um segredo: isso ainda é machismo, isso ainda é tentar definir uma posição para mulher alheia à sua vontade. Portanto, não me venha dizer que a vagina é a coisa mais adorada do mundo, a área VIP, a desejada, a caixa dos prazeres, pois, homem, você está determinando que a vagina só serve pra ti.

Os apelidos dados à vagina tiram da mulher o controle (e orgulho) sobre o próprio corpo. Quando somos condenadas a levar entre as pernas nada além de um nugget de peixe e um buraco de serpente, aprendemos que somos submissas ao gigante adormecido masculino. O poder das palavras é forte na subjugação de qualquer grupo, qualquer minoria. As 100 palavras para vagina citadas no vídeo no início deste texto podem ser separadas em três grupos: mau cheiro/aparência feia; diminutivos; provedor do prazer masculino. Nenhum apelido carrega uma ideia de poder como espada, ou de algo que machuca e domina como arma.

Esses nomes condenam a mulher pela sua própria natureza, ou seja, não há saída. As mulheres passam a vida lutando contra as suas cavernas, cabaças, cabeludas, pombinhas. A espada manda, o engole-espada obedece. Vivemos numa cultura de idolatria do pênis, toda a teoria psicanalítica do Freud gira em torno do desejo ao falo. No entanto, com as mulheres tentando se libertar cada vez mais, podendo finalmente falar (de vez em quando e ainda controladamente) que gostam de sexo, que se masturbam, que gostam do próprio corpo, acho que está na hora de apelidos com mais empoderamento feminino.

Veja também:

Miriam Leitão da BBC não deixa ministro grego falar

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Feministas reúnem-se com Líder do Governo na Câmara para discutir MP 557/2011

9 de Maio de 2012, 19:43, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Líder do Governo na Câmara recebe grupo de feministas para discutir MP 557/2011

Do Coletivo Leila Diniz 

09/05/2012 às 16:22:02

Na próxima quinta-feira (10), feministas de vários estados se reunirão como líder do Governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), para debater a Medida Provisória 557/2011. A medida foi editada pelo governo em 26 de dezembro de 2011, e institui o cadastro obrigatório de gestantes. Sob a justificativa de reduzir a morte materna, a MP prevê a transferência de R$ 50,00, pagos em duas parcelas, durante a gravidez.

No entanto, os setores médico, os movimentos feministas e de direitos humanos defendem que essa MP não tem eficácia no combate à redução da morte materna, não dialoga com a agenda dos direitos sexuais e direitos reprodutivos e nem com as estratégias de redução da mortalidade maternas contidas na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM).

Diante da proximidade do prazo de votação da Medida, que se encerra em 31 de maio, representantes Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Marcha Mundial de Mulheres (MMM), União Brasileira de Mulheres, Secretaria de Mulheres da CTU-DF, Liga Brasileira de Lésbicas (LBL), CEBES, Católicas pelo Direito de Decidir (CDD), NEPEM (UNB), Fórum de PLP, Secretaria de Mulheres-PT, Marcha das Vadias-DF, Fórum Nacional de Mulheres Negras, Movimento Nacional de Cidadãs Positivas, Grupo Brasil e Desenvolvimento e Instituto NUPEF encontrarão com o deputado Arlindo Chinaglia para expor a posição contrária sobre essa iniciativa.

Informações:

Data: 10/05/2012

Local: Câmara dos Deputados – Gabinete de Arlindo Chinaglia (PT)

Horário: 9h

Contatos:

Kauara Rodrigues (CFEMEA): (61) 9271-6826
Paula Viana (Grupo Curumim): (81) 8863-1243
Beatriz Galli (Ipas): (21) 8723-8223
Rogéria Peixinho (AMB): (21) 9122-0133/ 7902-2683

Magaly Pazello: (21) 8121-0857

CFEMEA

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MPF ajuíza ação contra TV Globo para que produza e exiba campanha sobre Direitos da Mulher

1 de Maio de 2012, 12:48, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Por Conceição Oliveira, no twitter: @maria_fro

A quem pense que com o fim do BBB12 terminou também as acusações que esta edição do programa sofreu. Mas não é bem assim.

Em 2010 a rede Globo exibiu um participante do BBB prestando um serviço de desinformação e inutilidade pública ao afirmar que ‘hetero não pegavava AIDS’. Naquele ano o MPF não titubeou: conseguiu na Justiça que a Rede Globo fosse obrigada a informar à população as formas de contágio da doença. Da mesma forma que agiu em 2010 exigindo punição à emissora, o MPF acaba de ajuizar uma ação contra a mesma emissora e o mesmo BBB pra que ela não exiba neste programa inútil cenas que incitem ao crime. Na mesma ação exige também que a Rede Globo seja obrigada a produzir e divulgar campanha sobre os Direitos da Mulher e contra violência de gênero e ainda requer que o MinCom fiscalize o programa.

Resta saber se a Justiça fará a sua parte: acatando ação do MPF para impedir que a desinformação, a violência e tantos princípios constitucionais sejam violados com um único programa de televisão e permitidos pelo Ministério das Comunicações.

MPF move ação para que Globo seja impedida de exibir cenas de crime ou que lembrem crimes no BBB

Assessoria de Comunicação da Procuradoria da República no Estado de S. Paulo

25/04/2012

Na mesma ação, MPF requer que o Ministério das Comunicações fiscalize o programa e que Globo seja condenada a produzir e exibir campanha sobre Direitos da Mulher e contra a violência de gênero

O Ministério Público Federal em São Paulo, por meio da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, ajuizou ação civil pública contra a TV Globo e a União, com pedido de liminar, para que a emissora deixe de transmitir durante o “Big Brother Brasil”, seja em TV aberta ou em TV a cabo ou por qualquer outro meio, cenas que possam estar relacionadas, mesmo que em tese, à prática de crimes. À União, o MPF requer que a Justiça Federal determine a obrigação de fiscalizar o reality show por meio da Secretaria de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações.

Ao final do processo, o MPF requer, além da manutenção das eventuais liminares concedidas, que a Rede Globo seja condenada a elaborar e divulgar campanha de conscientização à população acerca dos direitos das mulheres, visando a erradicação da violência de gênero, além de adotar as medidas necessárias para monitorar as condutas praticadas pelos participantes do reality show com o intuito de impedir a exibição de imagens atentatórias aos valores éticos e sociais ou a imediata reparação dos danos causados pela eventual exibição dessas imagens.

Em 17 de janeiro deste ano, o Ministério Público Federal em São Paulo, após milhares de manifestações de telespectadores nas redes sociais e reportagens de jornalistas especializados, abriu procedimento visando apurar a violação de direitos da mulher no BBB 12.

O fato que causou essa comoção social foi a exibição, na madrugada de 15 de janeiro deste ano, de imagens de um suposto estupro de vulnerável ocorrido no programa, constatado por telespectadores da atração em sistema pay-per-view, que desconfiaram da prática do abuso pelo fato de que enquanto ambos estavam na mesma cama ocorreram movimentos característicos de sexo entre os participantes Daniel e Monique, sendo que ela aparentemente dormia em razão de excesso de consumo de álcool.

NOVE MINUTOS NO AR – As imagens do suposto abuso sexual foram exibidas durante 9 minutos e 29 segundos da versão pay-per-view do BBB12. Um pequeno trecho da cena foi exibido na versão do programa, em TV aberta, no mesmo dia 15, na edição que trouxe um resumo da festa na véspera.

Pela análise das cenas exibidas no pay-per-view, pode-se interpretar a possível ocorrência de abuso sexual, uma vez que Monique aparece parada na mesma posição todo o tempo em contraste com a intensa movimentação de Daniel, com conotação sexual. Ainda, pela análise da cena, pode-se observar que a movimentação do rapaz só termina após a intervenção de Monique, que o afasta com a mão, no que pareceu ser um ato de defesa.

O MPF, é bom deixar claro, não está acusando Daniel de abuso sexual. A ação civil visa tão somente a adequação do programa para impedir que cenas, que dêem margem a interpretações do gênero, aconteçam novamente, e, pior, sejam exibidas em qualquer modo de transmissão. O caso foi investigado na esfera penal pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, mas que foi trancado em virtude de, em depoimento, Monique ter declarado que os atos foram consensuais.

Entretanto, as cenas exibidas, independentemente do alegado por Daniel e Monique à polícia, deram margem a esse tipo de interpretação de sexo não consensual e, no mesmo dia, o assunto tomou proporções gigantescas no Twitter, sendo um dos assuntos mais comentados da rede social e em sites jornalísticos ou não, naquele dia e nos seguintes.

OMISSÃO – Entretanto, na avaliação do MPF, mesmo após a advertência do público, a direção do programa nada fez para remediar os danos do suposto crime e da veiculação das imagens. Pior, “de forma imprudente, realizou a exibição de trecho destas imagens no programa transmitido na noite do mesmo dia 15 de janeiro”. A cena aparece aos 09 minutos e 40 segundos da gravação enviada à Justiça Federal pelo MPF como prova. Logo em seguida, o apresentador Pedro Bial comenta: “O amor é lindo”.

Para o Procurador Regional dos Direitos do Cidadão em São Paulo, Jefferson Aparecido Dias, autor da ação, a direção do BBB e a Rede Globo só adotaram providências após a instauração do inquérito policial (que abriu a investigação após uma representação externa), quando decidiu expulsar Daniel do programa, por infração ao regulamento do reality show, conforme informado por Bial na edição de 16 de janeiro.

“A expulsão de D.E. demonstra que os diretores do programa e a Rede Globo também reconheceram, mesmo que tardiamente, a potencialidade abusiva da conduta deste participante em detrimento de M.A.”, afirma Dias na ação.

SUBMISSÃO DA MULHER – Entretanto, para o MPF, mesmo após reconhecer o abuso e o potencial crime na conduta de Daniel e a consequente expulsão dele, “a Rede Globo deixou de adotar medidas em prol da reparação dos danos causados pela exibição das imagens em questão, atentando, desta forma, contra os propósitos do Poder Público e da sociedade no sentido da afirmação dos direitos humanos da mulher, da desconstrução do estigma de submissão do sexo feminino ao sexo masculino e de combate à violência de gênero no Brasil”, afirma Dias.

Somente no Estado de São Paulo, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, ocorreram 80 casos de violência contra a liberdade e a dignidade sexual da mulher no mês de janeiro, o que demonstra o quanto é incompatível a exibição pela TV de cenas que possam sugerir um estupro, pois apesar de todas as iniciativas do poder público e da sociedade, como a Lei Maria da Penha e a existência de uma Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, a violência de gênero persiste.

A Rede Globo foi questionada pelo Ministério Público Federal do Rio de Janeiro, que também instaurou procedimento para apurar os fatos ocorridos no reality show. Em síntese, a emissora afirmou que o BBB “não se trata de uma obra de ficção, mas de um reality que, sem roteiro previamente aprovado – promove convivência entre pessoas de diferentes origens, provocando reações espontâneas entre os participantes”. Disse ainda que as cenas entre Daniel e Monique não foram ao ar na TV aberta, o que não corresponde à gravação obtida pelo MPF da edição do dia 15, que contém um trecho da cena.

Para o MPF, isso só aumenta a lesão ocasionada pelas imagens exibidas na versão pay-per-view do programa. Na ação, Dias recorda que essa não é a primeira ação do MPF-SP contra o BBB. Em 2010, a emissora foi condenada a prestar esclarecimentos ao público sobre as formas de contágio do vírus HIV por conta da exibição de um comentário do futuro vencedor do BBB 10, Marcelo Dourado,  que disse que “hétero não pega Aids”.

ERROS EM SEQUÊNCIA – Para o MPF, a Globo errou ao não ter tentado intervir na cena entre Daniel e Monique e errou novamente ao manter a cena no ar por tanto tempo e errou uma terceira vez por não ter acionado a polícia. Na ação, é citada entrevista da BBC Brasil com o especialista em mídia da BBC britânica Torin Douglas, que ressaltou a necessidade de monitoramento constante sobre todos os participantes para evitar que crimes sejam consumados, como ocorreu na edição britânica do programa, que, em 2004, exibiu uma briga entre dois participantes que resultou em ameaça de morte de um contra o outro e uma sanção ao Channel 4, que exibia a atração.

Na entrevista, Douglas cita o livro “Dead Famous”, de Ben Elton, que gira em torno de um homicídio ocorrido em um reality show. “A obra é de ficção, mas infelizmente a realidade do BBB não é longínqua de tal hipótese, considerando a diversidade das pessoas confinadas, e as inúmeras artimanhas da direção do programa para gerar conflitos entre estes, tais como o “Monstro” e a separação dos participantes em grupos rivais, e o ineficiente aparato de monitoramento das condutas dos participantes, demonstrado pelo episódio do BBB 12”, afirma Dias, que ressalta ainda que o número de camas menor que o número de participantes contribui para abusos contra as mulheres.

Para o MPF, a falta de ação da Globo para evitar a exibição da cena e a ocorrência dela, não importando se na TV aberta ou fechada, são graves violações aos princípios do artigo 221 da Constituição, à Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra Mulher (Convenção de Belém do Pará), de 1995, ao art. 28 do Regulamento dos Serviços de Radiofusão, de 1963, e à Lei Maria da Penha, que prevê no inciso III de seu artigo 8º “o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a coibir os papeis estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência doméstica e familiar”.

“O MPF optou por ajuizar a ação após o fim do programa para termos oito meses para debater o desrespeito aos direitos da mulher na TV e, também, como as emissoras podem intervir nos reality shows de modo a impedir que crimes ou cenas sugerindo crimes ocorram e, caso ocorram, deixem de ir ao ar. Evitamos ainda gerar uma publicidade gratuita ao programa caso fosse discutida a questão com o programa no ar”, afirma Dias.

Leia aqui a íntegra da ação nº 0007265-47.2012.4.03.6100, distribuída à 24ª Vara Federal Cível

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Isoladas, a história de oito mulheres, criminalizadas por aborto

23 de Março de 2012, 9:40, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Conceição Oliveira, no twitter: @maria_fro

Reproduzo a seguir a introdução do livro Isoladas, a história de oito mulheres, criminalizadas por aborto, com textos de Evanize Sydow e Beatriz Galli; entrevistas de Evanize Sydow e João Roberto Ripper e fotos de João Roberto Ripper.

As depoentes fazem parte de um caso emblemático em Campo Grande onde 10 mil mulheres que abortaram foram acionadas pela Justiça.

Ouvir o relato de algumas delas podem ensinar muita coisa a todos nós. O livro pode ser baixado aqui.

Foto: João Roberto Ripper

Este livro tem como objetivo documentar, em forma de depoimentos, as histórias de seis das cerca de 10 mil mulheres que realizaram aborto em uma clínica de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, além de duas profissionais de saúde que trabalhavam no local.

Uma das questões presentes nesta documentação é a discussão sobre o estigma social pelo qual as mulheres ficam marcadas. O que isso representa para as suas vidas, como elas lidam com ele, de que forma isso mudou a convivência com a família, os amigos, os companheiros e no ambiente profissional são algumas das questões que poderão ser vistas a partir dos depoimentos, nos dando a ótica de quem passa pelo abortamento inseguro e como isso atinge o seu dia-a-dia.

Chegar a essas mulheres e convencê-las a, pela primeira vez, falar sobre o que passaram foi o nosso desafio maior. Elas vivenciam o estigma em suas diferentes formas. Foram cerca de dois anos buscando por essas personagens, tentando mostrar a elas que elas seriam respeitadas, bem como sua privacidade, tendo em vista que o maior medo que têm é que as pessoas mais próximas – familiares, amigos e colegas de trabalho – saibam o que passaram e as discriminem. Elas têm medo, têm angústia, têm dúvidas. Não sabem como aqueles com quem convivem reagiriam se soubessem. Todas elas têm filhos, são ou foram casadas, todas vivem em Campo Grande, uma capital que mantém o perfil de cidade onde todos sabem de tudo, daí a insegurança em serem reconhecidas e sofrerem ainda mais.

A partir dos seus relatos, esperamos desmistificar os tabus e preconceitos sobre o tema do aborto para que elas sejam vistas como mulheres comuns, mães, esposas, filhas, companheiras, que, em algum momento, optaram por não continuar a sua gravidez e que por isso passaram a ser consideradas suspeitas ou criminosas pelo Estado. Além disso, pretendemos provocar uma reflexão mais ampla e baseada em fatos reais sobre o impacto da criminalização do aborto para as mulheres e os vários níveis de estigma que elas vivenciam.
Evanize Sydow
Beatriz Galli

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Carta das Mães de Maio do Brasil às Madres e Abuelas da Plaza de Mayo

16 de Março de 2012, 14:03, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Conceição Oliveira, no twitter: @maria_fro

Transcrevo a Carta das mães de maio brasileiras para as mães e avós  argentinas da Praça de Maio em solidariedade a Nora Centeno brutalmente agredida em sua casa, na presença de familiares.

São Paulo, 15 de Março de 2012

Queridas Madres e Abuelas de La Plaza de Mayo,

É com extrema preocupação e, ao mesmo tempo, em irrestrita solidariedade que, do Brasil, lhes escrevemos esta mensagem. Acabamos de receber a notícia de que uma das fundadoras do movimento, a companheira Nora Centeno (foto), foi violentamente agredida e torturada em sua própria casa, na presença de familiares, na manhã da quinta-feira, 15 de março, por razões ainda desconhecidas.


Nora Centeno

Considerando intoleráveis esses bárbaros e sinistros acontecimentos, registramos nossa indignação e nos colocamos lado a lado da companheira Nora, sua família, sua luta histórica, e de todo o movimento das Madres e Abuelas. Mais que um patrimônio do povo argentino, consideramos Nora e esses movimentos, um patrimônio da nossa América Latina e de toda a humanidade, na luta pela verdade e justiça sem fronteiras. É, portanto, a partir deste nosso entendimento, que nos juntamos a vocês para exigir das autoridades competentes, o completo esclarecimento sobre mais esta violência, suas motivações e o indiciamento e punição em termos da lei dos responsáveis diretos e indiretos (se os houver) por tamanha barbárie.

Inspiradas também por vocês, nós constituímos em nosso país o movimento das Mães de Maio da Democracia Brasileira. Talvez vocês ainda não nos conheçam: somos um movimento relativamente recente, formado por Mães, Familiares e Amig@s de vítimas do Estado Brasileiro, criado a partir dos Crimes de Maio de 2006.

Nosso país, como a Argentina, também viveu uma longa ditadura civil-militar, de 1964 até 1988 – quando foi proclamada uma nova Constituição por aqui. No entanto, o novo Estado Democrático constituído, por não haver esclarecido os crimes cometidos no regime anterior, e não haver, portanto, julgado e punido seus responsáveis, mantém agentes estatais (sobretudo no poder Executivo e Judiciário, e suas respectivas polícias) que continuam a promover o terror contra os nossos trabalhadores e os mais pobres, principalmente nos bairros populares e das periferias das grandes cidades, em especial contra a nossa juventude pobre e negra. Para vocês terem uma ideia da dimensão dessa violência sistemática vivida por nós, a média anual brasileira de homicídios gira em torno de 47 a 50 mil assassinatos por ano, ao longo de toda a última década, deixando o Brasil no topo do ranking dos países com o maior número de homicídios em todo o planeta, segundo a ONU. Ou seja, nas últimas 3 décadas de “transição democrática”, já contabilizamos cerca de 1 Milhão de assassinatos, conforme assume o próprio Ministério da Justiça em nosso país ao divulgar o seu “Mapa da Violência 2012”. A grande maioria desses assassinatos é realizada por agentes do próprio Estado, ou grupos paramilitares e de extermínio, ligados a ele e/ou aos grandes proprietários, o que configura um estado de sítio continuado e permanente, pelo menos contra os trabalhadores de menor renda e o povo pobre das cidades e do campo, em plena “democracia plena”.

Nosso movimento é fruto e resposta a essa barbárie, e a ele demos o nome de “Mães de Maio”: durante o mês de maio de 2006, no estado de São Paulo (o mais rico do nosso país) ocorreu o maior dos massacres destes mais de 20 anos de “democracia plena” – uma democracia plena de chacinas. Numa série de ataques contra a população das periferias das grandes cidades de São Paulo, agentes policiais e paramilitares ligados a grupos de extermínio mataram mais de 560 pessoas durante apenas 8 dias (de 12 a 20 de Maio de 2006). Um verdadeiro massacre que tirou a vida de muitos dos nossos filhos, e que passamos a chamar de “Crimes de Maio de 2006”.

A triste coincidência entre o mês de Maio que vitimou nossos filhos, e a “Plaza de Mayo” – que dá nome ao movimento de vocês na Argentina, bem como toda a referência histórica que o movimento de vocês significa para todas nós na luta pelo direito à Memória, à Verdade e à Justiça, e na luta por uma Verdadeira Democracia, fez com que escolhêssemos chamar ao nosso movimento de Mães de Maio da Democracia Brasileira. Mas não se trata apenas de um nome, ou de um recurso de propaganda e marketing. Trata-se de um compromisso. O compromisso de buscar e praticar o exercício cotidiano da solidariedade com as lutas históricas da classe trabalhadora, dentre as quais a resistência contra todas as ditaduras civis-militares no Cone Sul – o que consideramos absolutamente fundamental. Nós das Mães de Maio sempre fomos, e continuaremos a ser, solidárias à luta de tod@s @s perseguid@s, pres@s polític@s e assassinad@s pelos Estados latino-americanos, desde os povos originários massacrados, @s african@s sequestrad@s para o nosso continente na condição de trabalhador@s escravizad@s, os camponeses e camponesas expulsas de suas terras e assassinad@s, @s operári@s explorad@s, as vítimas e parentes de pres@s e perseguid@s políticos das ditaduras civis-militares, e a@s milhares de pres@s polític@s atuais de nossos países, em sua maioria de origem afro-indígena e pobre, das periferias e dos movimentos sociais.

Estamos convencidas de que é o sepultamento da Memória, a não-revelação da Verdade e a falta de verdadeiros processos de Justiça contra as violências históricas dos Estados contra seus cidadãos e cidadãs – estas negações de direitos – que estão na origem da continuidade da violência e do terror do Estado, mesmo em tempos de “democracias plenas”. Enquanto não se tiver a coragem de enfrentar todo o poder econômico, político e militar que faz questão de perpetuar, em cada um de nossos países, a violência das elites e seus respectivos aparatos estatais contra a maioria de nossas populações, para nós de nada significará a utilização dessa palavra “democracia”, a não ser como forma de engodo.

A barbárie desencadeada nesta quinta-feira (15/03) contra a companheira Nora Centeno, longe de nos intimidar, nos torna ainda mais alertas e solidári@s, e aumenta a nossa disposição de nos juntarmos a vocês em mais esta jornada.

As notícias que temos são de que – em termos da Justiça de Transição para a Democracia – o avanço das conquistas na Argentina são bem maiores que o que temos conseguido em nosso país. Sem dúvida, são notícias que procedem – enfim, vocês já conseguiram levar às barras dos tribunais, julgar e condenar generais e até chefes de Governo e Estado do período da ditadura. Isto nos dava, portanto, algum alento frente ao que aí se passava. No entanto, a recente violência contra Nora Centeno, nos deixa preocupad@s e em estado de alerta.

A violência cometida contra Nora Centeno é um alarme para que sigamos mais próxim@s e mais solidári@s uns aos outros – trabalhadores e povos latino-americanos – atentos a qualquer tipo de continuidade ou de reação dos fascistas de plantão, que seguem vivos e atuantes em cada um de nossos “estados democratizados”, muitas vezes travestidos na pele de “gestores progressistas”. Não foi em nome de “democracias” que considerassem “normais” este tipo de violência cometida hoje contra Nora aí na Argentina, e praticada cotidianamente contra jovens pobres e negros aqui no Brasil, que lutaram todos os nossos netos ou filhos assassinados, tampouco é por esta “democracia” que nós Mães e Avós seguimos lutando!

Força a todas vocês, companheiras! Sigamos atent@s e solidári@s!

Abraço carinhoso e especial à companheira Nora Centeno e toda sua família!

Pelo Direito à Memória, à Verdade e à Justiça! Ontem e Hoje! Aqui e aí!

A Luta por Liberdade não tem fronteiras no Tempo e no Espaço!

Mães de Maio da Democracia Brasileira

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