E eis que me lembro de três historinhas que estavam guardadas entre as minhas cada vez mais raras "pequenas células cinzentas", como gosta de dizer o célebre inspetor Poirot, passadas na redação do falecido Estadão - jornal no qual trabalhei 18 anos, em duas oportunidades.
Não sei bem porque elas surgiram na memória, assim de repente, mas tenho a impressão de que se conectam com o que o a imprensa se transformou nos dias de hoje.
Ou seja: a canalhice, a sabujice, o puxa-saquismo descarado, a hipocrisia, o carreirismo, enfim, todas as essas que definem o mau caráter, não são exclusividades destes tempos sombrios.
Divirtam-se.
Lula lá
Muito tempo atrás, em plena campanha eleitoral para a presidência, com as atenções do país divididas entre Collor e Lula, o diretor de redação do finado Estadão interrompeu a reunião de pauta para dar um recado curto e grosso:
- Nossa cobertura está muito pró-Lula. Vamos acabar com isso.
Dito e feito, claro.
Hoje, se não dá mais ordens a editores, ele se contenta em exercer o rentável ofício de difamador dos petistas em geral e de Lula em particular.
Venceu na vida.
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Vidraças
Piada que ouvi, certa vez, há séculos, numa reunião de pauta do Estadão, contada pelo editor-chefe (Lula havia acabado de assumir a Presidência):
- Sabe o que a Benedita da Silva disse para a dona Marisa na visita que fez a ela e ao Lula no Palácio do Planalto? "Nossa, Marisa, quanta vidraça tem aqui para você limpar!"
Meu acesso de tosse nervosa foi completamente abafado pelo riso dos colegas.
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Os banqueiros também amam
No tempo em que se amarrava cachorro com linguiça, ou quando o Estadão ainda era um jornal, conversando com um repórter da área financeira, escutei dele a seguinte pérola:
- Mas você precisa ver o lado do banqueiro!
Nem preciso dizer que o rapaz teve um carreira muito bem sucedida.
(Carlos Motta)