Centro-esquerda brasileira comparece em peso à refundação do Ibep
12 de Fevereiro de 2019, 13:20Em seu discurso de abertura, o senador Roberto Saturnino Braga chegou a se emocionar, diante do quadro de dificuldades porque passam os movimentos progressistas.
Por Gilberto de Souza – do Rio de Janeiro
Um encontro com mais de 150 pessoas identificadas com a centro-esquerda brasileira, na noite de terça-feira, em um auditório no bairro carioca de Botafogo, Zona Sul do Rio, reuniu no mesmo espaço o ex-candidato à Presidência da República Guilherme Boulos (PSOL) e a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB); além de representantes do PT e do PDT, entre as demais legendas progressistas. Foi o momento preciso para que o ex-senador Roberto Saturnino Braga e o ex-ministro de Ciências e Tecnologia Roberto Amaral lançassem o desafio de retomar o Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (Ibep) e, com ele, a prerrogativa de reordenar o pensamento político nacional.
Guilherme Boulos (PSOL) discursa após a fala do ex-ministro Amaral (E), antecedido por Saturnino BragaA instituição, uma iniciativa deflagrada em 2013, na iniciativa do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, do jornalista Mauro Santayana e de intelectuais como Samuel Pinheiro Guimarães, Ceci Juruá, Gizlene Nader, Saturnino Braga, Eny Moreira, Pedro Celestino, Renato Guimarães, Otávio Velho e Carlos Lessa, entre tantos outros, encaminhou-se ao ostracismo, ao longo dos anos. Segundo o jornalista Roberto Amaral, que retoma agora a tarefa de repensar os rumos dos movimentos progressistas, no país, o país vive um momento singular. E perigoso.
Pensamento nacional
Em seu discurso de abertura, o também ex-prefeito do Rio Saturnino Braga chegou a se emocionar, diante do quadro de dificuldades porque passam os movimentos progressistas, após as forças da extrema direita conquistarem o governo e, ainda mais grave, parcela significativa do pensamento nacional.
— Estamos aqui recriando um instituto que teve uma vida muito fértil e diante dessa perspectiva exigente estamos mais uma vez mobilizados e mobilizando os companheiros diante desse vendaval a que todos nós fomos submetidos. Quando criança, no colégio, aprendi que o Brasil não tinha terremoto, maremoto e, de repente, estamos nós submetidos a um terremoto político, a um vendaval que, confesso, eu não esperava — afirmou.
Frente ampla
Saturnino Braga atribui a vitória do presidente Jair Bolsonaro a uma trama internacional, com apoio dos setores mais retrógrados do capitalismo norte-americano, engendrada “há muito tempo”.
— É claro que existem os Moros, todos esses artífices brasileiros, que são títeres. Vergonhosamente, títeres. E sem-vergonhamente títeres, porque toda essa movimentação vem do fato de o Brasil ter assumido uma posição efetiva, real, de país sério, respeitado, de potência da paz e não podia, evidentemente, continuar nesse percurso. Tinha que ser submetido a uma lição. Essa é a verdade — afirmou.
Com linhas mestras definidas para o resgate da soberania do país e do retorno “ao chão de fábrica”, afirmou Amaral, o novo Ibep propõe um novo entendimento sobre a comunicação popular, uma vez superados os erros do passado recente e renovados os ânimos para que o país possa retomar o rumo, interrompido por um regime neofascista.
— A grande lição que o Ibep pretende, que não está ao seu alcance realizar mas, simplesmente, propor, é a construção de uma grande frente nacional em defesa do país. Essa frente compreende os partidos de esquerda, que devem ser o seu núcleo. Mas ela não pode restringir, não pode ser uma frente de esquerda. Precisa ser uma frente ampla e democrática, na qual devam caber todos aqueles que se opõem ao regime que aí está — conclui.
Gilberto de Souza é editor-chefe do Correio do Brasil.
Reflexão necessária em tempos de barragens rompidas
9 de Fevereiro de 2019, 21:03A onda de destruição que se abate sobre o país, com a força do rompimento de uma barragem de rejeitos do pensamento mais tosco e rasteiro de que se tem notícia, em décadas de exercício democrático, haverá de encontrar o remanso do pensamento lógico.
Por Gilberto de Souza – do Rio de Janeiro
Para compreender o resultado das últimas eleições, torna-se necessário seguir até razão inicial para a maioria dos brasileiros determinar, de vontade própria, no voto, o fim da Petrobras, dos direitos trabalhistas, dos incentivos à Educação; a desmoralização do SUS, o desmonte dos movimentos sociais, dos sindicatos, de uma estrutura social pela qual heróis morreram para construí-la.
Desde a Grécia Antiga, o pensamento humano segue adiante para garantir a sobrevivência da raça humanaAo longo de toda a História brasileira – da Humanidade, para se chegar ao início de tudo –, foi transmitida de geração em geração a mensagem que não existe almoço grátis e, no final das contas, é cada um por si e um determinado Deus acima de todos. No máximo, apesar das defecções, muitos seres humanos contam apenas com os círculos mais próximos da família para sobreviver, em um mundo eternamente caótico; no qual vale tudo para angariar o máximo possível de coisas que tenham valor monetário e possam ser vendidos para matar a fome, vestir-se no frio e garantir um teto sobre a cabeça; com todos os matizes de sofisticação permitidos pela vaidade, o egoísmo e a capacidade humana para inventar tais dispositivos.
Solidariedade, cidadania, sentimento de classe, companheirismo e parcerias para vencer obstáculos comuns; disseminação ampla e gratuita do Saber, bem estar social e o cumprimento das responsabilidades com o meio ambiente, com o próximo; estes são valores antagônicos ao entendimento, por exemplo, de que a floresta e os índios atrapalham a mineração. Ou de que o curso da faculdade serve para formar mão de obra destinada às empresas, no lugar de abrir uma janela para o Conhecimento e elevar a condição humana. Trata-se de visões diametralmente antagônicas.
Fascismo
A evolução – ainda que muitos dos eleitores do novo regime prefiram acreditar em Adão e Eva na origem da raça humana, comendo goiaba, digo, maçã, em uma Terra plana – tem demonstrado, ao longo de todos esses milênios de existência, que o caminho mais racional é o da comunhão entre as diversas formas humanas, sem importar a cor da pele ou dos olhos; o formato do rosto ou no que e em quem cada criatura prefere acreditar. A busca natural sempre foi pela a sobrevivência da espécie acima do indivíduo, por mais que insistam em fulanizar a História.
Na eterna busca por um equilíbrio cósmico, no entanto, avança no momento a horda daqueles que precificam valores intangíveis. Parecem prosperar sem nenhuma resistência dos homens e mulheres que sempre lutaram por uma sociedade mais justa, equânime e igualitária.
A onda de destruição que se abate sobre o país, com a força do rompimento de uma barragem de rejeitos do pensamento mais tosco e rasteiro de que se tem notícia, em décadas de exercício democrático, haverá de encontrar o remanso do pensamento lógico e regressar, submissa à força do desenvolvimento evolucionário humano, às profundezas onde habitam ainda o racismo, a homofobia, o ódio pelos professores e toda a estupidez fascista que, de tempos em tempos, insiste em ameaçar este planeta.
Gilberto de Souza é jornalista, editor-chefe do Correio do Brasil.
Gilmar Mendes entra na alça de mira do ministro Sérgio Moro e da Receita Federal
9 de Fevereiro de 2019, 9:47Integrante da extrema direita e defensor de primeira hora do golpe jurídico-midiático-parlamentar contra a presidente Dilma Roussef (PT), há três anos, Mendes consta como suspeito de corrupção.
Por Redação – de Brasília
Desafeto declarado do ministro da Justiça e Segurança Pública, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes está agora na alça de mira da Receita Federal (RF). Em conjunto com a Polícia Federal (PF), os auditores da Receita tentam identificar “focos de corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio ou tráfico de influência” de Mendes e da mulher dele, Guiomar.
Gilmar Mendes e Sérgio Moro se estranharam durante debate no SenadoLíder de extrema direita e defensor de primeira hora do golpe jurídico-midiático-parlamentar contra a presidente Dilma Roussef (PT), há três anos, Mendes consta como suspeito de corrupção.
Crítico
Relatório financeiro da RF, de maio de 2018,”aponta uma variação patrimonial de R$ 696.396 do ministro e conclui que Guiomar ‘possui indícios de lavagem de dinheiro”, diz o documento vazado para a mídia conservadora.
Ainda em 2016, o ministro Gilmar Mendes enfrentou o hoje ministro Sérgio Moro em um debate sobre as “dez medidas anticorrupção”, no Senado. Mas Gilmar Mendes tem sido um crítico ferino da série de ilegalidades e ações arbitrárias cometidas por Moro, ao longo de sua carreira. O ministro, no entanto, informa que não recebeu “qualquer intimação referente ao suposto procedimento fiscal e também não tive acesso ao seu inteiro teor”.
Quando Dilma puxou o tapete de Lula
21 de Janeiro de 2019, 21:37Em 2014, não havia nenhuma dúvida quanto à eleição de Lula para a presidência. Sondagens lhe davam mais de 60% dos votos. Todos esperavam a confirmação da candidatura, quando o PT anunciou Dilma candidata à reeleição. Ninguém entendeu. Lula estaria mais velho para retomar o poder só em 2018. Além disso, quem garantia a popularidade de Lula em 2018, já que a direita fazia de tudo para impedir a continuação do PT no poder. O mistério do “por que Lula não foi candidato em 2014” pode ter sido desvendado com a delação de antigo ministro Antonio Palocci. Indomável, incontrolável e cabeça dura, Dilma teria batido os pés e exigido ser ela a candidata. Em síntese, puxou o tapete de Lula, achando ser ela a líder, e deu no que deu, implodiu o PT, foi deposta depois de ensaiar governar com a direita traindo também seus eleitores, Lula acabou preso e até o Cesare Battisti terminou pagando o pato da ambiciosa Dilma. Um ponto para Lula, apesar de tudo – ele digeriu o desgosto e não disse nada, até hoje, contra sua usurpadora. Vale a pena ler a coluna de Celso Lungaretti, logo abaixo. Nota do Editor.
Nunca dei total crédito ao que o Antonio Palocci dizia e, na sua condição atual de faço-tudo-para-não-ficar-em-cana, a credibilidade que ele nunca teve diminuiu ainda mais.
Nunca dei total crédito ao que o Antonio Palocci dizia e, na sua condição atual de faço-tudo-para-não-ficar-em-cana, a credibilidade que ele nunca teve diminuiu ainda mais.
Então, mesmo com muitas ressalvas, vale a pena trazer tal informação para o blog, permitindo que cada leitor tire suas conclusões.
Eis o que há de mais significativo no relato da Mônica Bergamo:
“Segundo Palocci, havia uma ruptura entre Lula e Dilma e dois grupos distintos tinham sido formados dentro do PT. Ele diz que a briga entre os dois começou com a indicação de Graça Foster para a presidência da Petrobras.
A nomeação de Graça (…) representava ‘meios de Dilma inviabilizar o financiamento eleitoral dos projetos de Lula retornar à Presidência’.
…naquele momento, Dilma tentava se afastar do controle de Lula. [o ex-presidente da estatal Sérgio] Gabrielli era íntimo de Lula, ao passo que Graça era íntima de Dilma. Não havia qualquer intimidade entre Lula e Graça e a relação entre Dilma e Gabrielli comportava permanentes atritos’.
…O ex-ministro diz que chegou a perguntar ao ex-presidente: ‘Por que você não pega o dinheiro de uma palestra e paga o seu tríplex?’. E que Lula teria respondido que um apartamento na praia não caberia em sua biografia“.
E indiretamente, porque sua disparatada pretensão de equiparar-se a Lula, descumprindo o combinado entre ambos quando ele a carregou nas costas para o Palácio do Planalto, teve consequências nefastas ao extremo:.
— a Presidência ficou praticamente acéfala durante o decisivo ano de 2015, ao fim do qual o grande capital desistiu de vez da Dilma e passou a apoiar sua deposição; e
Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.
Artigo esclarecedor: Governos do PT foram de capitalismo puro, embora um pouco mais civilizado
7 de Janeiro de 2019, 21:43Foto: políticos de extrema direita com a mesma estratégia discursiva, Hitler, Trump e Bolsonaro.
Autor: Sandro Ari Andrade de Miranda, advogado e pesquisador
Obama comunista? Brasil socialista? A pequena ilha de Cuba ameaçando a maior potência militar do Planeta? Venezuela invadir o Brasil pela Amazônia? Tais comentários são tão absurdos que não sobrevivem a qualquer análise mais séria das informações. Mas por que elas existem?
A fala recente do Presidente empossado Jair Bolsonaro (PSL/RJ), afirmando que “o Brasil nunca mais será um país socialista” é sabidamente uma mentira histórica. Assim como Obama nunca foi um comunista, o próprio Partido dos Trabalhadores sempre executou políticas próximas à da social democracia. Em termos reais, o Governo estadunidense de Barack Obama seguiu uma linha política social-liberal, ao estilo da terceira via europeia da década de 1990. O programa de seguro-saúde defendido como modelo universal pelo ex-presidente norte-americano, encontrou fortes resistências dentro de um parlamento conservador e acabou sendo implementado de forma mitigada. Se comparado aos modelos públicos universais do Reino Unido, França, Alemanha e países nórdicos, não é nada.
Já o governo petista, no Brasil, com a ressalva de algumas políticas identitárias, esteve longe até das sociais-democracias europeias clássicas, como a Sueca e a Dinamarquesa, por exemplo. O que nós observamos foi a execução de um modelo “desenvolmentista-neokeynesiano”, com forte preocupação no investimento público na infraestrutura, na expansão dos serviços, elevação dos patamares educacionais (este o segmento que mais se aproximou de modelos europeus), tendo o consumo interno e a estabilidade monetária como balanças de controle. Ou seja, capitalismo no seu sentido puro, embora muito mais civilizado e inclusivo do que a tragédia imposta pelo receituário neoliberal de Michel Temer (MDB/SP).
A verdade é que o discurso de ignorância radicalizada da extrema-direita esconde dois grandes pontos chaves da sua estratégia: impor políticas agressivas e violentas nos campos econômico e de segurança e esconder o seu despreparo técnico para enfrentar a complexidade de um mundo não mais dividido pela bipolaridade leste-oeste das décadas de 1960-1970. A Globalização, tão criticada pelo Chanceler Ernesto Araújo, é tão capitalista quanto o dólar e um big-mac, mas a disputa de mercados no mundo atual exige conhecimento, estratégia e maleabilidade que são impossíveis para um obscuro diplomata que passou anos escondido nas sátiras dos corredores do Itamaraty.
Além disso, a busca de culpados pelos fracassos previsíveis de um modelo político e econômico excêntrico, perverso e escandalosamente equivocado serve de justificativa para um eventual arrefecimento da repressão política.
Nunca se falou tanto em comunismo no Brasil e nos Estados Unidos desde a queda do Muro de Berlim na década de 1990. Muro, aliás, que domina os discursos de ódio proferidos por Trump para esconder os escândalos financeiros e de corrupção que cercam o seu governo, fortemente ameaçado por impeachment. A linha discursiva de ódio é repetida em outros países comandados pela extrema-direita, como a Hungria de Victor Orbán contra os imigrantes, o Brexit Britânico contra os “continentais” e a direita italiana contra os refugiados ambientais da África. Em todos esses países o discuso de ódio ajuda a esconder fatos como, por exemplo, que Brexit representará um recuo de mais de 9% no PIB britânico nos próximos 5 anos.
Outro aspecto importante é que a criação de adversários fictícios sempre foi uma estratégia da extrema-direita para manter privilégios das elites ou fortalecer medidas de austeridade e de exclusão social. A América Latina nunca foi ameaçada por uma invasão comunista. A Revolução Cubana foi uma rebelião contra o colonialismo norte-americano no país e acabou iludindo até seus líderes quanto à expansão no continente. A Alemanha nunca sofreu ameaça dos judeus e quando Hitler subiu ao poder o partido comunista encontrava-se enfraquecido pelo assassinato de líderes importante como Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, além do envelhecimento das principais lideranças do partido social-democrata.
O ranço direitista tem outros objetivos: manter um debate binário e maniqueísta ente o bem e o mal; esconder os reais problemas que afetam o país; fugir da discussão econômica; esconder a corrupção (sim, ela nunca esteve tão presente) e impor um perverso sistema de exclusão social. Além disso, resta apenas um vazio patético de quem chegou ao poder defendendo bandeiras ridículas como o projeto “escola sem partido”. A direita, como sempre, atuando como agente político, é uma mera representação de alienação extrema com preconceito, mais nada. O problema é que as suas piadas intencionais sempre viram tragédias.