Ninguém sabe como será o futuro. Entretanto basta observar ao redor, para compreender que o mundo enfrenta uma guerra terrível contra um inimigo perigoso. Milhares já morreram neste conflito, um número desconhecido pode ter sido vitimado sem registros pela pandemia e é incalculável o número de óbitos que ainda devem ocorrer.
A humanidade conseguiu minimizar as pandemias, que vitimavam milhões, ao passar a confiar na ciência. Iluminada pelo pensamento racional e o método científico, que foram desenvolvidos a partir do Século XVIII, a medicina deu saltos e passou a proteger grande parte da população mundial. Principalmente a partir do século XX o conhecimento científico proporcionou à grande parte dos seres humanos melhores condições sanitárias e mais alimentos, o que foi fundamental para a população mundial em constante crescimento.
Portanto, é bom senso acreditar na ciência e, em plena guerra mundial contra a pandemia de COVID19, ir em direção contrária ao que prescrevem as maiores autoridades da medicina é um crime contra a humanidade.
Crimes contra a humanidade são duramente punidos
Na última guerra mundial os que cometeram crimes contra a humanidade foram exemplarmente perseguidos punidos. Militares, políticos e empresários alemães, japoneses e de países aliados ao nazifascismo acabaram julgados nos tribunais de Nuremberg e Tóquio. Dezenas deles foram condenados à morte ou à prisão perpétua.
Como Hanna Arendt explicou, muitos dos condenados eram pessoas banais, que cometeram seus crimes de forma burocrática, como um escrivão que bate um carimbo em um documento qualquer. Porém houve os que cometeram seus crimes de guerra ou contra a humanidade por convicção, fundamentalismo, ganância ou devido a uma visão equivocada da realidade.
Sem diferenciar o comportamento, nem o motivo pelo qual os nazifascistas e os imperialistas japoneses cometeram os seus crimes contra a humanidade, os julgamentos do pós guerra concluíram que o genocídio é uma prática hedionda. Os responsáveis, assim como aqueles que não questionaram as ordens e viabilizaram os crimes contra a humanidade foram condenados a penas duríssimas.
Agora a humanidade atravessa uma tragédia semelhante. As maiores autoridades científicas, respaldadas pela observação cuidadosa da realidade prescrevem uma estratégia de guerra para minimizar os efeitos da pandemia. Desprezando os apelos de quem entende do assunto; empresários e financistas gananciosos, apoiados por políticos obtusos a caça de dinheiro e votos, expõem milhões de pessoas à ameaça de um novo genocídio – talvez mais severo do que todos os que já ocorreram.
A maioria dos políticos, que nos primeiros momentos da crise do COVID19 negavam a orientação dos cientistas, recuou e passou a adotar o padrão mundial de combate à pandemia: o confinamento social. É o caso de Donald Trump e López Obrador, do México. Trump concordou com a injeção de US$ 3 trilhões, para combater a doença e seus efeitos econômicos, ao mesmo tempo em que enviou milhões de cartas para cidadãos dos Estados Unidos, pedindo para que não saiam de casa e respeitem o confinamento.
O presidente do México, ao ser comparado com Bolsonaro, também reviu sua posição inicial contrária à quarentena e anunciou o começo do isolamento no último dia 25 de março.
Negando a ciência Bolsonaro leva o Brasil para o abismo
Bolsonaro, assim, sobrou como o último dos moicanos que desprezam a estratégia do confinamento, para achatar a curva de infecção da pandemia e racionalizar a possibilidade de atendimento hospitalar aos infectados.
A experiência mundial demonstra que o confinamento social é o método mais eficiente para salvar vidas. Os países que negligenciaram a política de quarentena são onde o impacto da pandemia tem se revelado maior, como na Itália, Espanha e Estados Unidos.
Enquanto os últimos governos recalcitrantes se rendem à realidade e ao conhecimento científico, Bolsonaro apoia manifestações de empresários gananciosos, contra o confinamento e lança uma campanha semelhante à que houve em Milão, nos primeiros dias da pandemia na Itália. Lá foi “Milão não para”. Aqui, a campanha do governo Bolsonaro é “O Brasil não pode parar”.
Milão registrava na época da campanha 250 pessoas infectadas, com 12 mortes. Na manhã do dia 27 de março, já são 34.889 infectados e 4.861 óbitos. É a região onde a crise do Coronavírus é mais grave na Itália, que somava no mesmo momento 8.215 vítimas.
O prefeito de Milão, Giuseppe Sala, se mostra arrependido de sua atitude, porém isso de pouco vale para as famílias dos quase cinco mil mortos.
O que ocorreu em Milão foi um genocídio, semelhante aos que ocorreram nos campos de concentração nazistas e nas prisões japonesas. O prefeito e os responsáveis pela campanha infeliz precisam ser responsabilizados criminalmente por suas atitudes, porque tinham informações e conhecimento para fazer diferente.
As atitudes de Bolsonaro e de seu governo encaminham o Brasil para uma tragédia, como a de Milão, porém em uma escala imensamente maior. Toda a Lombardia, província da qual Milão é a capital, abriga uma população de pouco mais de 10 milhões de pessoas. O Brasil é um país de 210 milhões de habitantes.
Bolsonaro e os seus “conselheiros” dispõem de todas as informações, para tomar decisões corretas. Ao seguir um caminho que pode transformar o Brasil no epicentro mundial da pandemia, o governo federal está conscientemente promovendo um genocídio, um crime contra a humanidade.
Aparentemente Bolsonaro sabe disso, pois em suas falas e pronunciamentos ele diz que “os velhos poderão morrer”. Quantos velhos? Milhares? Será um genocídio de pessoas idosas no país. É crime contra a humanidade.
Sem ter nenhuma segurança de que os óbitos ficarão restritos aos mais velhos, como mostra a marcha da doença no mundo, o governo Bolsonaro segue uma trilha que pode isolar internacionalmente o Brasil de uma forma inédita.
Com o recuo de Trump e López Obrador, o presidente do Brasil será o único a estimular publicamente práticas condenadas durante a pandemia. Desta forma, além do genocídio interno, nos moldes de Milão, em números muito superiores, a país se tornará o principal núcleo mundial da disseminação da doença, mesmo após sua contenção no mundo.
Em um cenário como este, as fronteiras de todos os países serão fechadas para o Brasil e a economia nacional sofrerá mais uma onda destruidora.
Na hora de contar os mortos, o ressentimento de milhões exigirá culpados. Os genocidas mais explícitos serão acusados. Trump pulou fora desta canoa. Uma ou outra personalidade mundial de menor expressão, como os prefeitos de Milão ou o de Wuhan serão acusados e processados.
Mas os principais réus dos tribunais mundiais de crimes contra a humanidade certamente serão Bolsonaro e o seu governo. Talvez o presidente brasileiro e seus conselheiros mais próximos não sejam condenados à pena capital, mas uma prisão perpétua em Haia é bastante provável.
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